Francesco Costa – Achei bem razoável a preocupação do autor do artigo “Policial ou máquina?” publicado na coluna “Crônica Policial” da edição nº 944 do jornal Correio do Pará.
De fato, os salários, a estrutura, o contingente e as condições de trabalho são fundamentais para o bom funcionamento da corporação. Já dizia o escritor Sun Tzu, em seu célebre livro “A arte da guerra”: Um exército bem remunerado está mais motivado a sair em batalha e com mais chance de vencê-la.
Sabe-se que os salários da Polícia Militar do Pará são de fato um dos menores, ao contrário do número de criminosos e gravidade dos delitos. Os concursos para aumentar o contingente só nos últimos três anos é que voltaram a acontecer. Antes de iniciar a abertura de editais para concurso da Polícia Militar ouvi de um comandante, tenente coronel Éder, que a corporação estava velha tanto em idade quanto em preparo, e isto é verdade e nítido a todos os olhos.
No mês de janeiro de 2008, a capa da IN-Revista abordava o tema segurança pública em xeque, deficiência ou falta de compromisso? E nesta, de acordo com o capitão Sérgio, subcomandante na época, afirmou que sobravam viaturas abastecidas, com apoio inclusive do governo municipal. “Faltam homens para usá-las em ronda”, lamentou na época o subcomandante, comemorando o fato de que o Governo do Estado havia sinalizado com concursos públicos.
Dito e feito, os concursos públicos aconteceram e o contingente aumentou, mas ainda é inferior à necessidade do número de habitantes.
No artigo que estou comentando, o autor enfatiza, até de forma um tanto repetitiva, a importância de a sociedade participar e alega que a polícia não tem “bola de cristal”.
Mais uma vez concordo com o autor de tal artigo, mas acho necessário fazer algumas ressalvas. Afinal, para muitas coisas não precisa ter bola de cristal.
Não precisa ter bola de cristal, por exemplo, para usar a academia de ginástica que existe dentro do quartel de Parauapebas e assim estar em forma e com saúde para o caso de ter que perseguir bandidos. E vamos admitir que da corporação mais antiga salvam-se poucos que não estão bem acima do peso com uma notável reserva de gordura abdominal!!!
Também não precisa ter bola de cristal para ver as várias situações nas ruas de Parauapebas, entre elas, jogos de azar como, por exemplo, jogo do bicho e máquinas caça-níqueis. E o que dizer da venda de produtos pirateados que sobrevivem há anos nas praças e calçadas e só de vez em quando, pra inglês ver, é que se faz uma ou outra apreensão.
Agora frequentemente se vê viaturas parando nas proximidades dos vendedores de produtos fonográficos pirateados, ou um representante dos trabalhadores desta categoria aproximar da viatura para “conversar”, qual o assunto não me pergunte, que os leitores tirem suas conclusões.
A bola de cristal pode ser dispensada também para entender que a lei não qualifica como pirataria apenas a cópia sem autorização de material fonográfico, mas também óculos, roupas, bonés etc. e por incrível que pareça só os vendedores de material fonográfico é que são abordados pela PM.
A Polícia Rodoviária Estadual, então, coitada, está precisando de bola de cristal e das grandes – Mãe Diná que os socorra – para ver que às margens das rodovias PA 160 e 275, que ligam Parauapebas aos municípios vizinhos, a venda de bebida alcoólica – proibido por lei – rola solta, pondo em risco a segurança dos que por ela trafegam. Prova disto são os acidentes fatais ocorridos. O mais recente na PA 160, próximo a Canaã, que, além de decepar a perna de um motociclista, ceifou-lhe a vida. Segundo informações, a vítima passara a tarde ingerindo bebidas alcoólicas em um balneário perto dali.
Não precisei de bola de cristal, também, para perceber que naquele trajeto nunca ocorre blitz nos sábados à tarde e nem durante todos os domingos; e nos dias que é feita não tem como fim coibir a criminalidade.
Não será possível citar, caro autor do artigo Policial ou máquina?, quanta coisa poderia ser feita pela nossa Polícia Militar sem o uso de sua citada “bola de cristal”, mas sei que os leitores certamente farão, cada um, uma extensa lista.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
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