sexta-feira, 18 de março de 2011

Eu acredito piamente

Francesco Costa - Tenho que admitir que o discurso foi lindo! Mas é como canta o samba: “Conversa de malandro não faz curva”. O novo secretário municipal de Saúde reuniu seu grupo de gestores e concedeu entrevista coletiva para se apresentar oficialmente e esclarecer dúvidas, ou melhor, tentar esclarecer, já que até ele mesmo está cheio delas.

Os números, por exemplo, ainda estão longe de sua cabeça e de suas mãos, já que parece não estar assim tão bem assessorado.

Quando lançou mão dos comentários de uma das diretoras da secretaria, ela explanou como funciona o TFD (Tratamento Fora do Domicílio) e outras coisas mais. Puxa, perfeito! Não seria perfeito se tudo funcionasse na ordem e agilidade que a tal assessora explicou.

É, a saúde pública – digo, em Parauapebas, o município em que vivo está infelizmente aquém de ser o que os discursos anunciam. A farmácia pública, quase sempre, não tem os medicamentos de uso contínuo e são exatamente estes que realmente a parte da população mais carente e mais doente precisa. E talvez, ou melhor, com certeza, isto deixa as tais pessoas ainda mais doentes!

Imagine você ir em busca de um medicamento para controle da pressão e chegando lá ouvir da atendente que não tem o tal remédio e nem sabe quando vai chegar! O problema certamente vai se agravar, pois, diante do dilema de comprar o remédio ou deixar de pagar a conta do supermercado, não há pressão que aguente.

O fato de ir à farmácia pública já caracteriza por si só grandes desafios a qualquer um que ouse tal façanha. Quem já foi lá, ou vai constantemente, sabe muito bem do que estou falando. Primeiro, que não conheço alguém que diga que goste da coisa pública. O sonho de todas as pessoas é chegar ao balcão, pedir os produtos ou serviços, pagar à vista e dar o endereço de entrega.

Agora, imagine você se dirigir a uma atendente de farmácia pública que mal olha em seus olhos, tem uma cara azeda e acha que naquele ato é superior a você e se posiciona como se tivesse ali lhe prestando um favor. Só isto já é, demasiadamente, humilhante. Mas isto poderia ser resolvido se ao invés das vazias campanhas de humanização do SUS começasse a humanizar as pessoas se é que isto é possível ou transferi-las para funções em que se encaixem melhor.

Na verdade, o poder público deveria fazer teste vocacional para selecionar seus concursados antes de empossá-los em alguma função. Assim, evitaria vermos a constante cena em que expõe pessoas a fazerem o que não gostam e acabarem por atender mal a quem não tem nada a ver com suas insatisfações.

A coisa pública precisa de gestores e servidores vocacionados para fazer funcionar com a mesma produtividade de empreendimentos privados. É possível? Acredito piamente que sim. Com melhores salários, plano de carreira e acima de tudo abrindo uma temporada de caça aos culpados sucedida de punição.

Tudo isto mudaria um tanto o cenário que vemos em órgãos públicos, com cargos loteados e gente que passa o dia inteiro lixando as unhas ou retocando o batom e fazendo tudo com uma má vontade que dá dó.

O poder público precisa, como nas empresas privadas, cortar gastos e reduzir pessoal, contratando gente competente e multifuncional. Para entender, basta fazer a seguinte comparação: quantas pessoas trabalham em um hospital municipal? Agora, pegue como referência um hospital particular do mesmo porte e complexidade e veja que o que gasta cinco pessoas para fazer no hospital público, com péssima qualidade, pode ser feito por apenas uma pessoa no particular, e neste com excelente qualidade.

Alguma coisa está errada nisto. Eu acredito piamente que é possível mudar. Mudar para melhor.

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