sábado, 28 de junho de 2008

O pobre deputado federal

CRÔNICA DO PC

Conheço um deputado federal, e vou chamá-lo de J.F.P.L, natural de um estado nordestino, pertencente a uma oligarquia, cuja família é ramificada em cidade do interior, detendo o poder municipal há mais de 60 anos.

O deputado, que foi reeleito nas últimas eleições pela sétima vez seguida, completa 28 anos de mandato. Ficou conhecido nas regiões onde é votado como um parlamentar presente, dando assistência ao povo, pois todo o fim de semana deixa Brasília e vem contatar com os amigos, conversando com um e com outro em audiências marcadas pelo seu secretário particular, quando procura se inteirar de tudo, até mesmo brigas de casais, e fuxico de vizinhos.

Nenhum correligionário fica sem uma palavra de apoio do deputado, que ainda encontra tempo para participar de festas na cidade e interior, sejam de batizados, casamentos, ou arrasta-pés, às vezes em salões poeirentos de terra batida.

Ninguém neste mundo fala mal do deputado, pela humildade do que lhe é peculiar, e fama de ser um pobretão, daqueles de sempre andar “duro” e de ter poucos bens.

Mesmo assim, viu-se envolvido no escândalo da CPI do Orçamento, 1993/1994, citado como um dos integrantes da quadrilha do esquema de manipulação de verbas públicas, que eram desviadas para empreiteiras e parlamentares. Seu nome foi parar nas manchetes dos jornais, acusado de enriquecimento ilícito. Não adiantou bradar que era inocente, terminou sendo investigado.

Sua vida transformou-se em livro aberto, esmiuçada desde o início de sua atividade política. Mexeram e remexeram, quebraram o sigilo bancário do deputado, e em quatro bancos encontraram apenas 12.345 reais de saldo e mais uma poupança no valor de 14.378 reais, aberta há mais de dez anos. Nenhuma entrada e nem saída de dinheiro ou cheques de valores vultosos. Nos cartórios de imóveis, o deputado não possuía bens registrados, apenas um terreno e uma casa na sua cidade de origem, tudo declarado no IR.

Resumindo: o parlamentar era um pobretão, vivendo unicamente dos salários que recebia no Congresso Nacional. A CPI constatou ainda que seu relacionamento com laranjas só existia com um pé da referida árvore, plantada no quintal de sua casa, que ele mesmo colhia frutos para chupar após o almoço.

Um jornal da capital do estado escreveu reportagem sobre o deputado J.F.P.L logo após a CPI o ter inocentado de todas as acusações existentes contra ele. O matutino inicia a matéria com o seguinte título:

Parlamentar é inocentado
Nada ficou provado contra o deputado federal J.F.P.L na CPI do Orçamento. Descobriram apenas ser o parlamentar investigado, “ilicitamente” pobre, e isso não é crime, é mistério.

Pedro Cláudio de Moura Reis (PC)
E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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