Cláudio Rezende (Carajás) - “O sol já raiou...”. Esta é a música do celular despertando às 6 h da manhã, para me preparar à corrida. Saio de carro. Antes, uma parada na padaria para um rápido café da manhã: café com leite e um queijo quente. Pra mim, o dia só começa depois de um delicioso café com leite, mesmo que não tenha nada, além disso.
06h45. Pego a estrada para Parauapebas, ou Pebberllyhills, como costumo brincar nas aulas de inglês. Tudo tranquilo. Nenhuma árvore na estrada, e o trânsito flui normalmente. A chegada em Parauapebas é marcada por um pequeno contratempo. Chego à casa da minha prima, para talvez conseguir que seu filho me leve até o local da largada (próximo ao viaduto, pátio da Sefa), e ninguém atende à campainha, e nem ao celular.
07h30. Sem ninguém para trazer o carro de volta do local da largada, decidi deixá-lo no estacionamento da rua A, em frente à praça da Igreja São Sebastião, e pegar um mototáxi até o local da corrida.
07h45. Já no pátio da largada, atletas por todos os lados se aqueciam e se concentravam. Cumprimento os que eu conhecia e trocamos palavras de apoio e expectativa. Comentamos sobre os atletas de ponta, que se destacam nas provas que participam. As pernas com músculos mais salientes geralmente indicam que o dono tem muita experiência e já participou de inúmeras corridas. É neste cenário que começo também a me alongar e aquecer, com pausas para fazer xixi – mais pausas do que gostaria de admitir. Acho que deve ter algo a ver com o nervosismo e a tensão antes da prova.
08h30. O sol já começa a desafiar os ânimos mesmo dos mais determinados. A organização da prova pede para que os corredores se reúnam para uma rápida bênção feita pelo padre Hudson, seguida pelo sempre poderoso “Pai-Nosso”. Preparamos-nos para a largada. Acho que já são quase 9 h. Finalmente, é dada a largada...
Agora, é cada um por si mesmo. Correr é uma arte. A arte de se superar e ir além de suas limitações e medos. No meu caso, superar a dura realidade de não estar suficientemente preparado. De ter sido acometido por uma lesão na panturrilha no final do ano e uma tosse que insiste até o presente momento em me atormentar. Talvez sejam só desculpas para justificar um provável mau desempenho. Melhor do que aquelas vezes em que simplesmente não temos a coragem de participar.
Assisto pacientemente enquanto o pelotão de elite, e alguns mais afobadinhos, disparam na frente e se distanciam de mim como se eu não estivesse correndo também. “Tenho muito a melhorar”, penso comigo. Aos poucos me aproximo de um corredor; “Vamos lá!”, digo, e começo a me distanciar. É uma sensação boa quando conseguimos alcançar e ultrapassar alguém. Mas ainda é muito cedo pra saber se vou conseguir manter o ritmo.
Próximo à Rua do Comércio, dois corredores me acompanham. Um deles diz para respirar fundo porque uma rampa se aproxima. Maldita Rua do Comércio. Deveria ser chamada de “Destruidora de sonhos”, “Quebra pernas”, “Sufoca coração” ou qualquer coisa do gênero. Os dois corredores se distanciam de mim. Quem quer acompanhar uma tartaruga?
Água? Agora não. Só descarto a primeira das três fichas de controle e desço a Rua Rio de Janeiro. “Cidade Maravilhosa”, rua maravilhosa. Uma longa descida para acalmar os nervos e músculos. Deu até pra cumprimentar meu amigo Jair. A Rua P já não foi tão generosa. Tudo que é bom dura pouco mesmo! Água? Agora não. Só descarto a segunda ficha de controle e sigo na 16. Meu amigo e irmão João grita: “Vai lá, Claudinho”, mas o cansaço não me permitiu olhar para trás. Só levantei a mão num aceno medíocre.
PA 275 novamente. Desta vez, pego água na rotatória, mas não bebo ainda, pois subindo é difícil engolir. Ouço fogos e me dou conta de que os companheiros mais rápidos já cruzaram a linha de chegada. Que lerdeza a minha! Atravesso a Rua 10, bebo um pouco d’água e me refresco com o resto, despejando sobre a cabeça e pescoço.
Viro na Rua 3 e logo percebo competidor se aproximando. Mantenho o ritmo e ele me passa. Era um grandalhão de pernas fortes. Penso comigo: “Sou mais leve e estou perdendo. Que despreparo!”.
Esquina da Rua A. Água? Não mesmo. Só descarto a última ficha. Que rua longa! A 10 ainda está tão distante. Já havia me convencido uma dezena de vezes a não desistir, a continuar correndo, mesmo que fosse ao modo tartaruga, a cruzar a linha de chegada. Tenho de chegar. O grandão continua na minha frente, mas próximo. Pessoas gritam meu nome de dentro de dois veículos. Acho que eram meus cunhados Natan e Joel. Torcedora alegre do lado oposto ao do Ceup acena e grita. Ainda consegui ativar o aceno medíocre.
Rua 10 chegando. Grandão ainda na minha frente. Ânimos um pouco melhores. Plano de ultrapassagem em mente. Contorno a Rua 10 e acelero um pouco. Não sei de onde veio esta força, mas é bem-vinda. Grandão não acelera. Passo dele e continuo aumentado o ritmo.
Chego à Rua D e grandão não é mais uma ameaça. Os últimos metros são sempre os melhores. Uma voz anuncia a minha chegada. A multidão faz barulho. Os fotógrafos se posicionam. É hora de mostrar que somos corredores mesmo e não deixar o cansaço transparecer. Consigo levantar os braços em comemoração e cruzar a linha de chegada. Que alívio. Caminho um pouco pra cá e pra lá. Pego um copo d’água. Preciso me sentar e respirar. Bebo um pouco e jogo um pouco sobre a cabeça. Preciso me deitar para me recuperar mais rápido. Uma atleta pergunta se estou bem e oferece levantar e balançar minhas pernas. Oferta mais do que aceita. Ajudou muito. Depois me levanto e começo a trocar ideia com os outros corredores: qual a colocação, tempo de corrida, os “quases” de cada um etc.
Ficamos realmente felizes com o resultado dos colegas. Mesmo dos que chegam à frente da gente. Sabe por quê? Porque a disputa é individual.
Resultado. Não consegui me classificar no geral, mas fiquei em quinto dentre os corredores do município. Foi muito bom ouvir uma voz chamando meu nome para subir ao palco e receber a premiação. Acho que qualquer um se sentiria assim, até mesmo a Luiza que estava no Canadá.
06h45. Pego a estrada para Parauapebas, ou Pebberllyhills, como costumo brincar nas aulas de inglês. Tudo tranquilo. Nenhuma árvore na estrada, e o trânsito flui normalmente. A chegada em Parauapebas é marcada por um pequeno contratempo. Chego à casa da minha prima, para talvez conseguir que seu filho me leve até o local da largada (próximo ao viaduto, pátio da Sefa), e ninguém atende à campainha, e nem ao celular.
07h30. Sem ninguém para trazer o carro de volta do local da largada, decidi deixá-lo no estacionamento da rua A, em frente à praça da Igreja São Sebastião, e pegar um mototáxi até o local da corrida.
07h45. Já no pátio da largada, atletas por todos os lados se aqueciam e se concentravam. Cumprimento os que eu conhecia e trocamos palavras de apoio e expectativa. Comentamos sobre os atletas de ponta, que se destacam nas provas que participam. As pernas com músculos mais salientes geralmente indicam que o dono tem muita experiência e já participou de inúmeras corridas. É neste cenário que começo também a me alongar e aquecer, com pausas para fazer xixi – mais pausas do que gostaria de admitir. Acho que deve ter algo a ver com o nervosismo e a tensão antes da prova.
08h30. O sol já começa a desafiar os ânimos mesmo dos mais determinados. A organização da prova pede para que os corredores se reúnam para uma rápida bênção feita pelo padre Hudson, seguida pelo sempre poderoso “Pai-Nosso”. Preparamos-nos para a largada. Acho que já são quase 9 h. Finalmente, é dada a largada...
Agora, é cada um por si mesmo. Correr é uma arte. A arte de se superar e ir além de suas limitações e medos. No meu caso, superar a dura realidade de não estar suficientemente preparado. De ter sido acometido por uma lesão na panturrilha no final do ano e uma tosse que insiste até o presente momento em me atormentar. Talvez sejam só desculpas para justificar um provável mau desempenho. Melhor do que aquelas vezes em que simplesmente não temos a coragem de participar.
Assisto pacientemente enquanto o pelotão de elite, e alguns mais afobadinhos, disparam na frente e se distanciam de mim como se eu não estivesse correndo também. “Tenho muito a melhorar”, penso comigo. Aos poucos me aproximo de um corredor; “Vamos lá!”, digo, e começo a me distanciar. É uma sensação boa quando conseguimos alcançar e ultrapassar alguém. Mas ainda é muito cedo pra saber se vou conseguir manter o ritmo.
Próximo à Rua do Comércio, dois corredores me acompanham. Um deles diz para respirar fundo porque uma rampa se aproxima. Maldita Rua do Comércio. Deveria ser chamada de “Destruidora de sonhos”, “Quebra pernas”, “Sufoca coração” ou qualquer coisa do gênero. Os dois corredores se distanciam de mim. Quem quer acompanhar uma tartaruga?
Água? Agora não. Só descarto a primeira das três fichas de controle e desço a Rua Rio de Janeiro. “Cidade Maravilhosa”, rua maravilhosa. Uma longa descida para acalmar os nervos e músculos. Deu até pra cumprimentar meu amigo Jair. A Rua P já não foi tão generosa. Tudo que é bom dura pouco mesmo! Água? Agora não. Só descarto a segunda ficha de controle e sigo na 16. Meu amigo e irmão João grita: “Vai lá, Claudinho”, mas o cansaço não me permitiu olhar para trás. Só levantei a mão num aceno medíocre.
PA 275 novamente. Desta vez, pego água na rotatória, mas não bebo ainda, pois subindo é difícil engolir. Ouço fogos e me dou conta de que os companheiros mais rápidos já cruzaram a linha de chegada. Que lerdeza a minha! Atravesso a Rua 10, bebo um pouco d’água e me refresco com o resto, despejando sobre a cabeça e pescoço.
Viro na Rua 3 e logo percebo competidor se aproximando. Mantenho o ritmo e ele me passa. Era um grandalhão de pernas fortes. Penso comigo: “Sou mais leve e estou perdendo. Que despreparo!”.
Esquina da Rua A. Água? Não mesmo. Só descarto a última ficha. Que rua longa! A 10 ainda está tão distante. Já havia me convencido uma dezena de vezes a não desistir, a continuar correndo, mesmo que fosse ao modo tartaruga, a cruzar a linha de chegada. Tenho de chegar. O grandão continua na minha frente, mas próximo. Pessoas gritam meu nome de dentro de dois veículos. Acho que eram meus cunhados Natan e Joel. Torcedora alegre do lado oposto ao do Ceup acena e grita. Ainda consegui ativar o aceno medíocre.
Rua 10 chegando. Grandão ainda na minha frente. Ânimos um pouco melhores. Plano de ultrapassagem em mente. Contorno a Rua 10 e acelero um pouco. Não sei de onde veio esta força, mas é bem-vinda. Grandão não acelera. Passo dele e continuo aumentado o ritmo.
Chego à Rua D e grandão não é mais uma ameaça. Os últimos metros são sempre os melhores. Uma voz anuncia a minha chegada. A multidão faz barulho. Os fotógrafos se posicionam. É hora de mostrar que somos corredores mesmo e não deixar o cansaço transparecer. Consigo levantar os braços em comemoração e cruzar a linha de chegada. Que alívio. Caminho um pouco pra cá e pra lá. Pego um copo d’água. Preciso me sentar e respirar. Bebo um pouco e jogo um pouco sobre a cabeça. Preciso me deitar para me recuperar mais rápido. Uma atleta pergunta se estou bem e oferece levantar e balançar minhas pernas. Oferta mais do que aceita. Ajudou muito. Depois me levanto e começo a trocar ideia com os outros corredores: qual a colocação, tempo de corrida, os “quases” de cada um etc.
Ficamos realmente felizes com o resultado dos colegas. Mesmo dos que chegam à frente da gente. Sabe por quê? Porque a disputa é individual.
Resultado. Não consegui me classificar no geral, mas fiquei em quinto dentre os corredores do município. Foi muito bom ouvir uma voz chamando meu nome para subir ao palco e receber a premiação. Acho que qualquer um se sentiria assim, até mesmo a Luiza que estava no Canadá.
Um comentário:
Muito legal esta corrida. Parabéns para os organizadores do evento por proporcionar esta oportunidades para nós, atletas.
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