Entrevista com dona Maria Iris Guimarães, 55 anos, mãe da garota desaparecida no dia 10 de maio, concedida ao blog de Zé Dudu.
Zé Dudu - Dona Iris, quando começou o relacionamento de Ana Karina com Alessandro a senhora tinha conhecimento?
Maria Iris – Só tive conhecimento desse relacionamento depois da gravidez, quando comecei a apertá-la, e aí foi que ela me contou, em outubro do ano passado.
ZD – Ela chegou a comentar com a senhora se teria encontrado Alessandro outras vezes depois de grávida?
MI – Ela se encontrou com ele uma semana antes de desaparecer. Nesse dia ele deu para ela R$ 600,00. Ele sempre dava dinheiro para ela, de duzentos, de cento e cinqüenta. Sempre que ela precisava, ele vinha ajudando. Ela só estava pressionando agora por último, pois ele havia prometido dar em torno de 5 mil reais para o parto dela e para comprar as coisas do bebê, porque ela ainda não havia comprado as coisas grandes. O berço fui eu quem deu de presente. Ela já atinha muita coisa comprada com o salário dela e muita coisa foi dada por parentes. Todos eram de acordo e estavam ajudando. No início, ele (Alessandro) queria que ela (Ana Karina) tirasse o bebê, e ela disse que não, aí ele concordou.
ZD – Então, a relação dos dois era boa, pois ele estava cumprindo com as obrigações dele como pai?
MI – Aparentemente, pelo que ela me falava, não era aquela relação amorosa, era só tipo assim, financeiro, porque ele estava ajudando. Ela não estava cobrando o nome, porque ele dizia que provavelmente não iria registrar o bebê sem seu nome, e Karina dizia: “Tudo bem, quem sabe mais na frente”. Era assim que ela falava.
ZD - E essa relação amistosa, a senhora sentiu que Ana Karina estava pressionando demais o Alessandro?
MI - Sim, ela estava pressionando muito, porque ele tinha prometido esse dinheiro e dava hoje, dava amanhã, inclusive era uma semana. O que mais me chamou a atenção foi que uma semana antes de acontecer isso ele falou pra ela para eles saírem da cidade para conversar a respeito do problema deles. Ela me contou isso e eu perguntei a ela: o que vocês ainda vão conversar, em nome de Jesus? Se ele só ajuda agora, o que vocês ainda têm pra conversar? Ela disse que confiava nele, plenamente, e achava que, mesmo que a mulher (Grazi) descobrisse, não iria acontecer nada, porque ela estava grávida. Ela confiava demais nele, mas a ameaça maior dela era de contar pra mulher dele. Teve um dia da semana antes, quinta ou sexta-feira, que ela disse que ligou trinta e oito vezes para ele. Isso deve estar no telefone que quebraram o sigilo, e aí eu disse: como, minha filha, que você sabe que essa mulher é obcecada por ele, por que você sabe das coisas que ela já fez, que Alessandro mesmo teria contado para Karina.
ZD - A senhora chegou a conversar com Alessandro?
MI - Conversei, mas só depois do desaparecimento da minha filha, no outro dia, às 9 horas. Depois de ter passado nos hospitais, de estar muito preocupada, fui atrás de uma amiga da Karina e consegui o número dele, aí eu liguei.
ZD - Desde outubro que a senhora tinha conhecimento do caso dos dois e só conversou com ele depois do desaparecimento de Karina?
MI – Não, eu nunca havia falado com ele. Já estive na loja dele, ela me mostrou ele de perto, eu o vi em frente à casa dele, quando eu saía do hospital com ela. Não sei se ele me conhecia, mas eu conhecia ele. Minha filha me contava tudo, todas as vezes que ela se encontrava com ele. Ela estava muito estressada com ele por conta desse bendito dinheiro do parto. Até falei com ela pra ganhar no Sesp, mas ela tinha medo de ter alguma complicação.
ZD - No dia do desaparecimento, ela saiu de casa às 19 horas para se encontrar com ele?
MI - Ele pegava ela na rua C com a 4. Ele ligou e combinaram a se encontrar. Essa conversa eu ouvi porque o telefone dela tinha quebrado e só estava funcionando no viva-voz. Então eu escutei toda a conversa. Ele pediu calma pra minha filha e avisou que estava chegando na cidade, que estava com peões dentro do carro e que logo iria encontrá-la, avisando que iria passar no banco e pegar mais mil reais para juntar com os mil e seiscentos que já estavam com ele.
ZD - Aí ele marcou o local do encontro?
MI - Ela iria levar a bolsa e eu disse a ela pra não levar porque era perigoso, podia chamar atenção. Aí ela saiu com um vestidinho preto, de fivela, e sandália rasteira. Saiu e eu saí atrás. Todos que estavam no bar aí em frente viram a hora. Vi quando ela entrou no carro dele.
ZD - Ele estava sozinho no carro aguardando sua filha?
MI – Não deu pra ver, porque os vidros do carro eram escuros, mas eu o vi ao volante.
ZD – Eles ficaram algum tempo conversando no local?
MI – Não, não demorou, acho, nem dois minutos. Aí eles saíram e foi a última vez que eu vi minha filha.
ZD - No outro dia a senhora deu queixa na polícia?
MI – Quando ela saiu, ela me disse que em meia hora retornava, porque estava com fome e ia jantar. Saiu conversando com o Gabriel (o bebê), dizendo que no máximo em quarenta minutos retornaria. Quando foi por volta de 9 horas eu comecei a ligar para ela, mas o telefone estava na caixa postal.
ZD – Foi aí que a senhora deu a queixa do desaparecimento dela?
MI – Liguei para Alessandro e ele fingiu que não sabia quem eu era, então me identifiquei e ele continuou dizendo que eu estava enganada, foi então que comecei a falar que sabia quem ele era, que sabia seu nome completo, o número de seu CPF, o número da placa do carro, falei então o nome dele completo, mas ele continuou dizendo que eu estava enganada e então eu lhe disse que o conhecia há tempos e que sabia de toda a história, que conhecia sua voz de tanto que ele ligava pra ela e que a tinha seguido e visto quando ela entrou em seu carro, que não tinha como ele negar, então ele perguntou: "Onde a senhora está?". Eu disse que estava na esquina com a C, mas já estava voltando pra casa, então ele disse que ia passar lá pra falar comigo. "Daqui a pouco eu ligo". Ele não ligou, então voltei a ligar pra ele, liguei até a terceira vez.
ZD – Isso à noite ainda ou no outro dia?
MI – No outro dia, 09h30 da manhã, quando comecei a ligar. Eu já tinha passado no HCP e minha filha já tinha rodado nos outros hospitais, eu rodando de pé, passei nos hospitais, emergências, maternidade, passei em tudo aqui de perto. Minha filha foi mais longe, pois ela estava de carro. A última conversa que ouvi ele falando com mais alguém, ele colocou o telefone não sei aonde e eu continuei falando. Foram uns cinco minuto eu no meu telefone e ouvindo a conversa dele, ele falou assim: “E aquelas ligações”. O cara que estava falando com ele disse: “Aquilo não quer dizer nada”. Ele me confirmou também que ela tinha feito três ligações enquanto estava com ele, mas alguém fez no telefone dela, porque não foi ela, teria sido pra mim, pra irmã ou pra mais alguém nosso, e ela não ligou. Ela não estava ligando pra mais ninguém, só pra nós ou pra ele. Pra ele ela ligava muito, sem parar. Eu até reclamava e dizia a ela que não podia ser assim, e ela respondia: "Ah, mãe, eu ligo sim; ele sabe que pra mim não tem jeito, que eu vou ligar mesmo direto; acho que vou é deixar ele é doido". Ela dizia assim mesmo. Eu sei o porque, só que ele conversou com esse cara, parou e desligou, aí ele disse: "Eu tô indo aí". Ele veio, disse que ficou procurando a casa, aí eu disse: “Não acredito que você não sabe onde é aqui, se pegava ela bem aqui próximo pra chegar aqui na frente, que de primeiro ele deixava ela bem aqui. Depois que o prédio ficou pronto ele ficou com medo de alguém reconhecê-lo e começou a pegá-la na rua de cima.
ZD - Qual foi o teor da conversa com ele?
MI – Eu perguntando, ele com uma telona na cara (óculos) que não tirava de jeito nenhum, aí ele confirmou que ela tinha entrado no carro dele. Deus é maravilhoso. Eu disse que não acreditava que ele tinha coragem de negar que ela tinha entrado em seu carro, e eu vou dar meia hora, e se ela não aparecer vou lá na delegacia. Era 11h30. Aí ele disse: "Realmente, ela entrou em meu carro, só que uma meia hora depois eu deixei ela ali na frente da Big Ben, porque ela me pediu alegando que ia na casa da irmã (segundo dona Iris, Ana Karina sabia que a irmã não se encontrava na cidade)". Eu questionei qual motivo ele teria deixado tão longe, já que sua irmã mora na Rua L e até escuro lá, porque ele não a deixou na porta.
ZD – Cada pergunta que a senhora fazia ele ia respondendo sem hesitar?
MI – Sim, inclusive minha outra filha, Kariane, lembrou que na Big Ben tinha câmera na frente e dentro. Já em seu depoimento, ele disse que deixou atrás da Big Ben, não na frente. Eu disse a ele que ela não teria evaporado, e que ele sempre tinha deixado ela aqui, afirmando que conhecia minha filha e ela jamais ia fazer isso, ficar sem me dar notícia.
ZD – Depois dessa conversa com Alessandro, a senhora não falou mais com ele?
MI – Não, ele saiu dizendo que ia tentar encontrá-la, que ia ajudar. Quando ele estava saindo, já no corredor, virou-se para trás e pediu “um favorzinho” pra mim e para minha filha: pra não deixar esse assunto chegar no ouvido da Grazi. Nesse momento, comecei a desconfiar, pois acredito que a mulher não sabia do caso. Eu já tinha questionado isso com Ana Karina, mas ela dizia que a Grazi não sabia de nada, senão já tinha acontecido alguma coisa.
ZD – No seu pensamento, a senhora acha que a Grazi tem alguma participação no crime?
MI – Nessa altura do campeonato, eu não duvido de mais nada, porque não acredito que ela não sabia, pois foram tantas ligações, inclusive quando ele estava viajando pra São Paulo e Grazi junto com ele, Ana Karina falou com ele várias vezes.
ZD – Como a senhora analisa o procedimento da polícia desde o inicio?
MI – Pra falar a verdade, no plantão em fui com aquele delegado, Aquino, não coloquei fé. Já no dia seguinte, com o dr. Albuquerque, eu senti firmeza, pois senti que ele ia entrar pra trabalhar, e principalmente aquele rapaz que se chama “ Rambo”. Coloquei muita fé, quando ele prometeu pra mim que iria até o fim neste caso, e eu acho, eu tenho certeza, que ele está cumprindo e que vai deixar, porque eu tenho medo de agora do meio pro fim, se eles não encontrarem o copo darem por encerrado, mas eu acredito que aqueles dois vão até o fim, até o inferno se for preciso eu acho que eles vão buscar esse corpo. Só se ele não estiver naquele rio. Eu confio muito no trabalho deles. O promotor, apesar de não ter conversado com ele, mas pelo que sei o empenho dele eu botei muita fé. Depois da manifestação que tive que fazer na Câmara, sei que surtiu efeito. Eu quero agradecer a todas as pessoas que direta ou indiretamente ajudaram e ainda estão ajudando. Tem muita gente, eu tenho certeza, que está de longe, mas torce para que tudo termine bem. Se ele (Alessandro) tivesse vindo conversar comigo, isso não teria acontecido. O negócio é que o demônio já existia nele. Ele achava que ela não tinha dono, pois pelo motivo do pai dela ser idoso (75 anos) e deficiente, mas ela tem a mim que sou guerreira e não vou deixar que isso fique impune. Por que que ele ofereceu R$ 5.000,00 para um bandido tirar a vida dela e não a ela pra ajudar no parto.
ZD – Era só o que ela queria?
MI – Sim. Eu havia dito a ela que aguardasse o Gabriel nascer para depois discutir os direitos. Ela saiu naquela noite e eu senti um aperto no coração, pois alguma coisa me dizia que eu deveria impedi-la, mas não fui capaz, apesar de haver tentado, e entreguei nas mãos de Deus.
ZD – A senhora acredita nessa versão dos acusados?
MI – Sinto que ainda vou ter surpresa, não sei por que, mas eu sinto isso. Tive um pesadelo na semana passada, onde eu via uma ponte e algo me dizia que ela está na água, suja, porque a água estava suja quando vi. Sou evangélica da Universal do Reino de Deus há mais de 10 anos. Ainda não tive tempo de chorar pela perda de minha filha, pela distância, pelo meu neto que eu não sei onde está. Tenho uma dúvida tão grande, que não sei, como ele disse que tem mais gente envolvida, se fossem só os três eu não duvidava de nada, mais havendo mais envolvidos, fico na torcida de que meu neto tenha sido preservado, por isso já pedi encarecidamente que quero estar junto quando o corpo for encontrado.
ZD – Então, a senhora tem esperança de que seu neto esteja vivo?
MI – Não sei por que, mas tenho um fiozinho de esperança, principalmente com essa história de muito sangue. Sou parteira, então pelo que conheço dela, se ela teve chance, ela pediu pra salvarem o filho dela. Então, se forem só os três eu não acredito, pois são bandidos e não iam salvar ninguém. Agora, se tiver mais alguém participando… é por isso que só acredito vendo. Eu não tenho a certeza, eu tenho dúvidas e acho que haverá mais surpresas por aí, pois ainda não foi dito tudo que é pra ser dito. Está faltando alguma coisa, tem alguma coisa que não está batendo, faltam algumas peças neste quebra-cabeça.
ZD – A senhora deseja acrescentar algo mais?
MI – Além de agradecer todos que estão me ajudando até aqui nesta caminhada, vou precisar mais ainda pra justiça, porque eu sei, primeiramente, a justiça de Deus, porque Ele vai mostrar, pois não faz nada incompleto. É tanto que pedi que isso fosse desvendado que até Alessandro confessou. Tudo de Deus é perfeito e tenho certeza que Ele vai mostrar onde ela está, aí tudo que quero é justiça, pois são três crimes: a morte dela, de meu neto e a ocultação. Para mim, a ocultação foi o mais dolorido. Não havia necessidade de fazer o que fizeram. Eu preciso de justiça e vou precisar da ajuda de todos. Não é possível que alguém vá esquecer um crime desse em nossa cidade. (Fonte: Blog Zé Dudu)
quarta-feira, 2 de junho de 2010
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