quinta-feira, 13 de maio de 2010

À sombra da Vale, Parauapebas cresce mais que a China

Fotos: Waldyr Silva





Gustavo Polon
Quem chega de carro a Parauapebas (PA) se depara com um outdoor no qual está escrito: “Suas compras serão aqui”. Instalado na rodovia PA-275, ele indica o local em que será aberto o Unique Shopping, o primeiro do sudeste do Pará. Com inauguração prevista para o segundo semestre, ele terá 14,5 mil metros quadrados, 126 lojas, quatro salas de cinema, um hipermercado, 700 vagas de estacionamento e investimento de R$ 46 milhões.

O Unique Shopping é mais um entre os vários empreendimentos lançados nos últimos meses em Parauapebas. Localizada no centro de uma das maiores províncias minerais do mundo, a cidade cresce em ritmo acelerado desde que foi fundada, em 1988. De lá para cá, a população aumentou 15 vezes, a economia se expande em média 20% ao ano – o dobro da taxa registrada na China – e, no ano passado, ficou em quarto lugar na lista dos municípios brasileiros que mais exportaram.
O motivo por trás do crescimento da cidade paraense tem nome: Vale. Com mais de 10 mil funcionários, a mineradora produz 300 mil toneladas de minério de ferro por dia nas quatro minas. No ano passado, quando o mundo se recuperava da crise econômica, a produção chegou a 84,5 milhões de toneladas. Como grande parte dela vai parar em fornos de siderúrgicas fora do Brasil, Parauapebas ficou em quarto lugar na lista dos municípios que mais exportam – atrás de São Paulo, Angra dos Reis (RJ) e São José dos Campos (SP).
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2009 foram enviados R$ 3,8 bilhões para o exterior. “Parauapebas vive em função da Vale”, diz José Rinaldo Alves de Carvalho, empresário e presidente da Associação Comercial, Industrial e Serviços de Parauapebas (Acip). De acordo com ele, 100 novas empresas se instalam na cidade todos os anos. As 650 registradas na associação respondem por um terço do Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 3 bilhões, segundo números de 2007 do IBGE.
Antes mesmo de ser fundada, Parauapebas já tinha uma relação de dependência com a Vale. A província mineral de Carajás foi descoberta por acidente em 31 de julho de 1967 pelo geólogo Breno Augusto dos Santos. Ele sobrevoava a região quando o helicóptero teve de fazer um pouso de emergência numa clareira. Ao se dar conta de que a falta de árvores não era resultado da ação do homem, mas da canga (tipo de rocha na qual cresce uma vegetação típica de solos ricos em minério de ferro), concluiu que ali havia uma jazida a ser explorada. Acertou em cheio.
A implantação da primeira mina da Vale em Carajás atraiu funcionários da empresa e prestadores de serviço, que criaram um distrito a 160 quilômetros de Marabá. A mina começou a operar em 1985 e, um ano depois, teve início um movimento separatista. Em maio de 1988, quando tinha 10 mil habitantes, Parauapebas virou cidade.
Os primeiros empreendedores a chegar ao sudeste paraense encontraram um lugar com muita oportunidade de negócios. Nascido em Campinas, no interior de São Paulo, o engenheiro Ourivaldo Mateus foi para Parauapebas em 1981 como funcionário da Vale. Quando a empresa abriu um programa de demissão voluntário 13 anos depois, decidiu que era hora de tentar melhorar de vida. Com o dinheiro da rescisão, montou a Séculos, empresa de sondagem. Hoje, suas empresas faturam R$ 15 milhões ao ano.
Histórias como a de Mateus são comuns em Parauapebas. Carlos Alberto Correia da Silva largou a loja em Goiás para tentar a sorte na cidade. Ao lado de dois irmãos, chegou à cidade com R$ 30 mil e montou uma banca de hortaliças. Hoje, é um dos donos de dois supermercados que, juntos, faturam R$ 30 milhões ao ano. “Isso aqui é o nosso Eldorado”, afirmou Silva.
A fama de Eldorado (país lendário e cheio de riquezas que existiria na América do Sul) ainda atrai muita gente para Parauapebas. Ninguém sabe ao certo quantas pessoas desembarcam na cidade, mas entre os moradores é comum ouvir que esse número esteja perto de três mil pessoas ao mês. Uma parte deles chega de trem. Três vezes por semana, o trem para 1,1 mil pessoas sai de São Luiz, no Maranhão, percorre 892 quilômetros e passa por 25 cidades e povoados antes de chegar a Parauapebas. A bordo, pessoas vindas de várias partes do Nordeste, principalmente do Maranhão, que buscam emprego e, principalmente, uma vida melhor.
Numa segunda-feira de abril, José Augusto Serra desembarcou na cidade com uma mochila nas costas e pouco dinheiro no bolso. Não sabia onde passaria a primeira noite, mas já tinha programa para o dia seguinte. “Amanhã cedo saio em busca de trabalho”, disse Serra.
De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Parauapebas tem 150 mil habitantes. Nos próximos cinco anos, esse número deve dobrar. Para abrigar tanta gente será preciso construir pelo menos 50 mil casas. De olho nesse filão, foram lançados dois bairros planejados na cidade. O mais novo deles é da construtora e incorporadora Nova Carajás.
Em outubro do ano passado, a empresa começou a vender o primeiro lote de 2,8 mil terrenos de um projeto que leva seu nome. Voltado para moradores de alta renda, ele oferece aos moradores escolas, bancos e centros comerciais numa área de 11 milhões de metros quadrados. Com 20 mil terrenos, o bairro tem valor de venda de R$ 800 milhões.
O outro se chama Cidade Jardim e é voltado para os migrantes como Serra. Dos oito mil terrenos colocados à venda desde o ano passado, apenas 10% não foram vendidos. “Tem gente de toda parte comprando terra aqui”, afirmou o corretor Amarildo Soares dos Reis.
A riqueza gerada pelos minérios encontrados na região não mudou a paisagem apenas em Parauapebas. Nos próximos meses, outros municípios do sudeste do Pará devem passar por uma grande transformação socioeconômica. O principal deles é Canaã dos Carajás, que já foi um distrito de Parauapebas e se emancipou há 17 anos. Desde que a Vale começou a extrair cobre, em 2002, a cidade saltou mais de duas mil posições no ranking dos municípios que mais evoluíram no PIB.
A grande transformação, no entanto, acontecerá nos próximos meses, quando entrar em funcionamento uma mina de minério de ferro, a Serra Sul (ou S11D, como é chamada pelos técnicos da Vale). Com jazida de 11 bilhões de toneladas, é considerada a maior do mundo e vai dobrar a produção anual da mineradora. Não será surpresa se, em breve, Canaã dos Carajás estiver entre os municípios brasileiros que mais exportam. (Fonte: aquidauananews.com)

2 comentários:

VAL LOPES disse...

CARA EU LEMBRO DE VOCÊ, VOCÊ JA TRABALHOU NA ITACAINAS UMA RADIO DE MARABA, VOCÊ É FERA DEMAIS PARABÉNS

VAL LOPES disse...

ESSE CARA É JORNALISTA MESMO, PARABÉNS WALDIR, SUCESSO SEMPRE