Do blog de Ricardo Noblat
Entrevista com o sociólogo Marcos Coimbra (foto), presidente do Instituto Vox Populi de pesquisas.
Ricardo Noblat - Boa tarde, Marcos Coimbra. Quem tem mais chances de se eleger presidente da República em outubro próximo?
Marcos Coimbra - Boa tarde, Noblat. Dilma é favorita, mas favoritismo não basta para ganhar uma eleição.
RN - Por que você considera Dilma favorita?
MC - Ela empatou com Serra e tem um espaço de crescimento aberto à frente junto ao eleitorado que está disposto a votar na candidata do Lula.
RN - Isso é suficiente para que Dilma se eleja? Serra não tem espaço para crescer?
MC - Serra é conhecido por 80% da população. Tem menos espaço para crescer. Dilma tem crescido tirando intenções de voto dele.
RN - A essa altura, quantos por cento das intenções de voto de Dilma resultam de transferência feita por Lula?
MC - Dilma é a candidata dele, de continuidade do que ele representa. Nesse sentido, toda a intenção de voto que tem vem de Lula e do governo.
RN - Dilma corre o risco de o eleitor, a certa altura, concluir que votar nela não significa votar em Lula, não é a mesma coisa?
MC - Claro que não é, e o eleitor sabe disso. Quem pensa em votar nela não acha que Lula vai mandar, mas acha que ela preservará o que ele fez.
RN - Se os votos de Dilma não são dela, mas de Lula e do governo, o candidato poderia ter sido qualquer outro bom auxiliar de Lula. Ou não?
MC - Me parece que sim, mas Lula deve ter tido razões para preferi-la. Seu papel no governo, seu perfil técnico, sua identificação com ele.
RN - Pelos seus cálculos, quantos por cento a mais de votos Lula ainda poderá repassar para Dilma?
MC - Há ainda cerca de 40% do eleitorado que conhecem mal ou não conhecem Dilma. Ela pode crescer mais 20 pontos nesse segmento.
RN - Fernando Henrique Cardoso tira votos de Serra? Ou freia seu crescimento? Há algum tipo de cálculo a esse respeito?
MC - A imagem de FHC é negativa e a maioria das pessoas acha que o governo dele foi muito pior do que o de Lula. Isso é ruim para Serra.
RN - Por que Dilma cresceu tanto em maio? Exposição em programas partidários na TV? Companhia de Lula no programa do PT? Ou cresceria de todo jeito?
MC - Todas as opções estão corretas. A propaganda do partido ajudou, Lula também, e ela estava em crescimento lento, mas firme.
RN - Em junho, Serra terá muito espaço nos programas de TV de partidos. Automaticamente ele crescerá?
MC - Serra é muito conhecido, o que limita essa hipótese. Mas deve melhorar, nem que seja por sustar o crescimento natural de Dilma.
RN - Lula já foi multado 4 vezes por fazer propaganda de Dilma antes do tempo. Faz mais de 1 ano que ele está em campanha por ela. Isso não a ajudou?
MC - Mais que ajudou, é a explicação de tudo. Ele antecipou a campanha, todo mundo entrou em campo e ele teve tempo para apresentar sua candidata.
RN - Todo mundo, não. Serra não entrou. E ninguém dispunha do grau de exposição de Lula e de Dilma.
MC - Desde 2009, todos os programas partidários foram eleitorais: PT, PSB e PSDB. Quanto à demora de Serra, a decisão foi dele e só dele.
RN - Serra tem um "teto" de votos que dificilmente ultrapassará? Qual seria?
MC - Serra tem um piso alto e um teto limitado pelo tipo de eleição que fazemos, onde o eleitor se pronuncia sobre políticas e governos e não sobre biografias.
RN - E o teto de Dilma e de Marina Silva?
MC - O teto de Dilma é o desejo de continuidade, que é muito alto. Marina corre o risco de ficar espremida entre os dois grandes e não conseguir crescer.
RN - O que Serra precisaria fazer para driblar esse quadro desfavorável e ganhar? Ou não tem como?
MC - Trazer a eleição para o campo dele, o da comparação de currículos. Torcer para que Dilma erre muito. Mas sua posição é desvantajosa.
RN - Aécio de vice poderia ajudar Serra a se eleger ou não acrescentaria grande coisa?
MC - Aécio só é bem conhecido em Minas Gerais, onde Lula é muito querido. Serra está bem e é dificil avaliar se um ganho em Minas faria diferença.
RN - Não dá para avaliar se um ganho em Minas faria diferença para Serra? Ou você prefere não avaliar?
MC - Minas é 11% do eleitorado. Aumentar 20 pontos no estado é 2% no total do país. Pode ser muito pouco no resultado final.
RN - Por que a história registra erros tão clamorosos cometidos por institutos de pesquisa?
MC - Os erros existem e todos nós procuramos reduzi-los ao mínimo. Mas os institutos brasileiros estão entre os que mais acertam no mundo.
RN - É certo que institutos pesquisem ao mesmo tempo para partidos e meios de comunicação?
MC - É nossa tradição, mas é natural que seja discutida. Pode ser um dos itens a tratar na reforma política que aguardamos.
RN - Montenegro, presidente do Ibope, disse a Veja no ano passado que a eleição de Serra era segura. Era na época ou ele estava errado?
MC - Acho que seria melhor perguntar isso a ele.
domingo, 23 de maio de 2010
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