João Salame disse...
Juvêncio:
Dou um doce para quem apontar pelo menos um imbecil que queira "radicalizar" contra as pessoas de Belém por causa da luta pela criação do Estado de Carajás. Ou queimar bandeiras. Ou deixar de hasteá-las. Isso foi um "factóide" que, quem lançou, num gesto de bravata, não deveria ter lançado, pois leva o debate para o terreno do irreal e fortalece ainda mais o discurso preconceituoso contra a necessidade da criação de novos Estados. O povo daqui é hospitaleiro. Você, casado com uma marabaense e que frequenta nossos arraiais, sabe disso muito bem.
Sou paraense de nascimento. Tenho o maior respeito pelo meu Estado. E por isso mesmo entendo que ele precisa de uma maior presença do poder público, para dar conta da pistolagem, dos "feudos" eleitorais e outras mazelas geradas pela absoluta ausência do Estado. Gosto tanto desse Pará que entendo que ele precisa de mais governadores. Mais próximos da sociedade.
Essa conversa do meu amigo André Farias de que agora a descentralização vai acontecer me lembra muito a história do Delfim Neto, do milagre econômico, quando pedia paciência aos brasileiros para primeiro deixar o bolo crescer e só então distribuir suas fatias.
Desde que o Pará é Pará temos uma elite predadora, ineficiente e parasitária encastelada no poder do Estado. A própria inércia da máquina já a faz funcionar a favor dos interesses dessa elite. As famílias que a habitam são as mesmas, mudando os nomes e as siglas partidárias, mantendo os sobrenomes. Infelizmente sinto que isso não vai mudar. Dos 17 secretários executivos do atual governo veja quantos são do sul do Pará. Nenhum. Faça uma retrospectiva dos governos anteriores. Os raríssimos personagens da região que chegavam lá era por absoluto compadrio com o governante de plantão. E não dá pra dizer que não existe pessoas qualificadas em nossa região. O dinamismo de nossa economia já responde por si só.
Isso não é culpa da Ana Júlia, mas de uma estrutura que ela não vai dar conta de desmontar. Por exemplo: a maioria das estradas da região metropolitana, que ligam municípios que merecem, mas de pouca importância econômica, estão asfaltadas. E enquanto a PA 150, principal rodovia de integração do Estado, vive aos buracos, nos últimos anos já investiram milhões no Mangueirão, Estação das Docas, Mangal das Garças, Hangar, Boteco das 11, etc. Claro que a capital merece essas e outras obras belíssimas, mas pelo menos poderiam conservar a principal rodovia do Estado e fazer um mini-Centro de Convenções em Marabá e Santarém. Não de 117 milhões, como o Hangar, mas de 20 milhões cada um, pelo menos. Não um Mangueirão, mas um estádio de pelo menos 20 mil pessoas em Marabá, onde tem gente que também gosta de futebol. Estou falando de duas cidades que possuem mais de 200 e 300 mil habitantes.
Torço para que a governadora e sua equipe quebrem a castanha na minha boca: esses investimentos não vão acontecer. Não há disposição política para isso. O Estado, em termos de investimentos, é um tigre de papel. Tem pouco dinheiro. E a maioria fica na região metropolitana.
Enquanto a PA 150 ficou cinco meses para ter início uma operação tapa-buracos lenta e de qualidade duvidosa, nos três primeiros meses do ano colocaram 17 milhões no Hangar. E olha que esse obra foi duramente criticada na campanha pelas lideranças do PT. Claro que a obra precisava ser concluída, mas a prioridade estabelecida deixa claro como funciona a máquina do Estado.
No dia em que a governadora anunciou seu plano de investimentos ela citou a construção da Escola de Produção de Barcarena (na região metropolitana) para este ano. A de Marabá ficou de fora. Vamos abrigar o Projeto Salobo a partir de 2010. Somos uma das regiões mais violentas do país. A maioria dos presos são jovens sem qualificação. Mas o Estado só olha pra isso como prioridade no discurso. Quando fazem alguma coisa, como os Hospitais regionais de Redenção e Marabá, obras rigorosamente fundamentais, ainda tem uma boa parte da classe política da capital que critica, ainda que de maneira diversionista, falando de superfaturamento, gestão terceirizada, etc.
Boa parte dessa elite de Belém nunca passou da ponte do rio Guamá, na Alça Viária. Não conhece o Pará e nem tem disposição para conhecer. Gostam de se reunir na Fiepa e outras entidades para ver como o Estado pode ajudá-los a ganhar dinheiro por aqui. De preferência sem que tenham que colocar os pés em nossas estradas e ruas empoeiradas ou enlamaçadas. É comum ver lideranças de Santana do Araguaia, São Félix do Xingu e outras cidades que ficam a mais de mil quilômetros de distância, se deslocarem para a capital com audiências marcadas por secretários e serem recebidos com a agradável notícia das agendas canceladas. Não vou enumerar os argumentos tantas vezes desfiados por lideranças sérias, inclusives renomados cientistas, sobre a necessidade de termos Estados menores, de maior eficácia no seu relacionamento com a sociedade. Nem responder a argumentos risíveis sobre o fato de liderança A ou B ter vontade de ser governador. Mas o fato é que essa chama multiplicacionista (e não separatista) não vai se apagar, até porque o Estado não tem instrumentos pra deter essa marcha conquistando os corações e as mentes dessas populações. Ao contrário. Compreendo a postura da governadora Ana Júlia de ser contra a divisão. Desejo sucesso ao seu governo e tudo farei para ajudá-la. É uma mulher de boas intenções. Mas se a sua postura inicial, de aceitar o debate democrático do assunto, for substituída por uma posição militante contra a realização do plebiscito, só posso dizer que será um grande retrocesso. Não acredito que o PT trilhará esse caminho. Outros mais poderosos já fizeram isso e agora amargam o fel do ostracismo político. Como diria Pablo Neruda em seu célebre poema Os Comunistas: "A primavera é inexorável".
Forte abraço do amigo,
Deputado João Salame
17/07, 1:35 PM
terça-feira, 17 de julho de 2007
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