terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Ana Júlia toma posse como primeira governadora do Pará

Cerca de 5 mil pessoas participaram, dia 1º, das solenidades que marcaram a posse da nova governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, à tarde, na Assembléia Legislativa, na presença de 700 convidados, entre parlamentares e outras autoridades.
Ela recebeu a faixa de governadora das mãos do ex-governador Simão Jatene, no palanque armado em frente ao Palácio Lauro Sodré. Aí uma multidão popular veio juntar-se às autoridades constituídas. A solenidade de posse de Ana Júlia começou pontualmente às 17 h. Ana foi conduzida ao plenário pelos líderes das bancadas da Casa. A cerimônia foi dirigida pelo presidente da AL, Mário Couto, e o termo de posse foi lido pelo 1º secretário, Haroldo Martins. Trinta e um dos 41 deputados estaduais marcaram presença na solenidade.
No plenário, além de parlamentares e outras autoridades, estavam também os secretários de estado que integrarão o novo governo. Um dos pontos altos da cerimônia foi a entrega de um buquê de flores a Ana Júlia pela mãe dela, Maria José Carepa. A governadora e o vice, Odair Corrêa, prestaram juramento, prometendo defender as Constituições e as leis do Pará e do Brasil. A platéia gritou e aplaudiu de pé quando Ana e o vice foram declarados empossados pelo presidente da AL.
Na Praça Dom Pedro II, em frente à AL, Ana Júlia foi recebida com palmas e gritos por milhares de populares. Ali, ainda caminhando com dificuldade, com o auxílio de uma muleta, ela passou em revista as tropas. Depois, num palanque em frente ao Palácio Lauro Sodré - antiga sede do governo do Estado - ela recebeu a faixa governamental de seu antecessor, o tucano Simão Jatene. O clima entre os dois foi cordial, como convém a uma democracia: Jatene desejou, efusivamente, boa sorte à governadora petista. Minutos antes, chegara a emprestar-lhe um lenço, uma vez que ela estava suando muito no rosto.
Governadora relembra trajetória
Na praça, Ana fez um discurso emocionado. Com os olhos cheios de lágrimas, lembrou a longa trajetória política, marcada pela dedicação às causas populares: os dias e as noites de sono perdidas, que poderiam ter sido dedicados aos dois filhos, Júlio e Juliana, que também se encontravam no palanque. Disse que vê a política com uma atividade nobre, quando exercida em favor da coletividade.
“Para mim, política não é profissão, é missão, e é missão que só poder ser assumida de verdade por quem está disposto a renunciar a caprichos e ambições pessoais e entregar-se a um projeto coletivo”, declarou.
Ela agradeceu a Deus e ao povo do Pará pela vitória nas últimas eleições, e também aos companheiros de luta, citando alguns já falecidos - a freira Dorothy Stang, Izabel Cunha, Cordolina Fontelles, Jaime Teixeira. A conduta deles, disse Ana, ajuda a balizar o compromisso com um governo que combata todas as formas de “discriminação, opressão e violência”, contra as mulheres, os negros, os pobres, os índios.
Ana disse ter aprendido muito durante a última campanha, em especial com o acidente que a deixou meses em cadeira de rodas: “Saibam que aquele acidente e o sofrimento pelo qual passei também foram obra de Deus, como que a me dizer: ‘Sinta você mesma o quanto sofre este povo”. Ela falou sobre a responsabilidade do cargo, garantiu que o seu governo será um governo popular “no mais puro sentido da expressão” e assegurou que não irá decepcionar o povo que a elegeu.
“Estou certa que a melhor forma de agradecer ao povo do Pará é fazer de cada dia deste mandato, um dia de trabalho; fazer do meu governo, um governo que faz o dinheiro do povo chegar onde ele é mais necessário e que não admite nenhum tipo de roubalheira”, afirmou.
"O Pará precisa se desenvolver mais rápido”
Ana reafirmou o compromisso de implantar o orçamento participativo estadual. Garantiu que vai negociar “com muita firmeza com o presidente Lula, para que haja mais investimentos públicos no Pará”, para melhorar as condições de vida da população. E afirmou: “Temos pressa. O Pará precisa se desenvolver com mais rapidez. Queremos desenvolvimento, mas desenvolvimento para todos e não para beneficiar uma minoria. Queremos crescimento econômico para melhorar a distribuição de renda, combater a fome, a pobreza o desemprego, em todas as regiões do Pará”.
Ela também mandou um recado às grandes empresas que atuam no Pará: “Serei incansável na luta para atrair investimentos para o nosso Estado, queremos que novas empresas se instalem no Pará. Mas elas têm de cumprir seu papel social. No meu governo, as empresas que lucram bilhões explorando os nossos recursos minerais, nossas florestas, a força das nossas águas, para gerar energia, serão chamadas a dar a sua contribuição para o desenvolvimento social do Estado”. Ana Júlia falou, ainda, sobre as dificuldades enfrentadas pela população na área da saúde, e disse que já iniciou a busca de parcerias, para a ampliação do programa Saúde da Família, a fim de aumentar os investimentos em saúde básica, em todos os municípios.
Mas lembrou que também é preciso investir em saúde preventiva, através de saneamento básico e redes de água tratada - daí a decisão de fortalecimento da Cohab e da Cosanpa. Lembrou os problemas vivenciados pelos paraenses na área da segurança - e informou já ter determinado a realização de concurso público para a Polícia Militar. “No meu governo, a polícia estará nas ruas, defendendo quem mais precisa, e não em gabinetes refrigerados”, afirmou. Salientou a importância da Educação para o desenvolvimento do Estado e disse que já ordenou que seja aberto o diálogo com os servidores públicos, para a busca de alternativas de fortalecimento do ensino público.
Combate à desigualdade marca discurso de posse
O combate à exclusão social e a melhoria da distribuição de renda, no Pará serão os principais objetivos da nova governadora, Ana Júlia Carepa, empossada na tarde de ontem. Em solenidade na Assembléia Legislativa, ela prometeu, no primeiro discurso como governadora, um combate sem tréguas ao trabalho escravo e à devastação ambiental. Enfatizou a necessidade de “firmar uma posição de força do Pará, na Federação”, para que o Estado receba a necessária contrapartida pela significativa contribuição que dá à balança comercial brasileira.
Defendeu a reforma tributária, para acabar com a guerra fiscal, e a União dos Estados da Amazônia, em torno de uma pauta comum. Veja os principais trechos do discurso de posse da governadora Ana Júlia Carepa:
"Este é um momento histórico, pois pela primeira vez uma mulher fala ao povo paraense como governadora do Estado. Devo isso à generosidade do povo, que me deu este mandato. E a ele prestarei contas, nestes 4 anos. Já disse e repito: o Pará é um Estado injusto: 10% dos mais ricos absorvem cerca de 58% da riqueza aqui produzida. O principal objetivo do meu governo é fazer com que essa realidade comece a mudar”.
"A luta contra a exclusão social, que foi e continuará a ser a prioridade no governo do presidente Lula, terá, na governadora do Pará, uma aliada incondicional, especialmente no combate à fome”. "Enfrentar a exclusão, crescer distribuindo renda, será o objetivo constante do nosso governo. Por isso, criaremos, por exemplo, uma Secretaria de Pesca, pois é inadmissível que o Estado ocupante do 1° lugar na produção de pescado, no Brasil, simplesmente não tenha, até hoje, um órgão específico”.
"Temos um patrimônio inestimável em recursos naturais. Para usá-lo bem é preciso investir em conhecimento e inteligência. Criaremos uma fundação de fomento à pesquisa, juntamente com a Universidade Estadual, com a Universidade Federal do Pará e com as entidades privadas que queiram fazer parte deste esforço, para impulsionar a produção científica e tecnológica do Pará”.
"Mas também é preciso proteger nosso patrimônio natural. Não haverá transigência com a devastação. Não haverá complacência com a exploração irracional de nossas florestas, em prol do lucro fácil, que deixa atrás de si a pobreza e a destruição. Chega de relações de trabalho que não obedecem ao mínimo dos direitos previstos na Constituição. Qualquer unidade econômica que persista em tentar funcionar sem o respeito a isso, será tratada como efetivamente é: uma fora da lei. E seus responsáveis responderão exemplarmente”.
"No meu governo, o direito à vida, à dignidade humana, o direito de ir e vir serão sagrados. Para isso, toda força e autoridade que a lei confere ao Estado serão usadas. O povo paraense tem o direito à paz, à tranqüilidade e à segurança, e é obrigação do Estado garantir esses direitos”.
“Vou implantar o programa Bolsa-Trabalho, dirigido a mulheres, a jovens, a homens desempregados, prioritariamente cadastrados no Bolsa-Família”.
“Lutar contra a exclusão no Pará é também fazer com que o dinheiro público chegue à saúde pública. O Pará, segundo dados disponíveis no SUS até 2003, é o Estado da Amazônia com menor gasto público em saúde, per capita”.
“É preciso firmar uma posição de força do Pará na federação. Somos um dos principais responsáveis pelo equilíbrio da balança comercial do país, mas, efetivamente, não recebemos a devida compensação por isso. O principal tributo estadual, o ICMS, é hoje, em regra, cobrado no ponto onde são produzidas as mercadorias, mas uma das nossas principais mercadorias, a energia elétrica, exportada de Tucuruí para outros Estados, não deixa quando sai do Pará este valor para ser aqui investido. Pois, neste caso, o ICMS é pago no destino e não na origem”.
“Historicamente, os Estados do eixo Sul-Sudeste conseguiram um cem número de benefícios, inclusive fiscais, para alavancar seu desenvolvimento, mas hoje, quando se tenta, no Confaz, debater qualquer política de incentivo fiscal, o veto é imediato. Hoje, quando tentamos rediscutir o valor dos royalties pagos por nossas riquezas, um sem número de dificuldades é levantado. Defender uma reforma tributária que ponha fim à guerra fiscal e, ao mesmo tempo, crie mecanismos de combate às desigualdades regionais, será um dos objetivos do novo governo”.
Dez mil participam da festa popular
Cerca de 10 mil pessoas participaram da festa popular alusiva à posse da governadora Ana Júlia Carepa. Trajados de roupas vermelhas e com bandeiras nas mãos, os eleitores de Ana Júlia cantaram juntos com a Amazônia Jazz Band o hino do Estado do Pará.
Usando a faixa de governadora, Ana Júlia discursou para o público agradecendo pela vitória nas urnas e reafirmando as propostas de sua campanha eleitoral. “Obrigada meu povo do Pará. Eu beijo com muita honra esta faixa que representa o nosso Estado. Eu quero reafirmar os nossos compromissos com saúde, educação e segurança pública”, declarou. A primeira governadora do Pará enfatizou ainda que a sua gestão visa diminuir ao máximo as diferenças sociais no estado.
“O nosso governo vai fazer com que os recursos públicos cheguem onde é mais necessário. Eu vou priorizar quem sempre esteve excluído e retribuir a confiança do povo, trabalhando com honestidade e lealdade para que nós façamos o melhor governo para o povo do Pará. Bem-vindo à mudança Pará”, disse.
Ana Júlia relembrou que a mudança não será de uma hora para outra, mas que a parceria entre seu governo e o presidente Lula será de grande relevância para o sucesso de sua gestão. “Não será fácil. Não pensemos que da noite para o dia o Estado vai mudar. Nós daremos os passos necessários para o crescimento do Estado. O governo do Pará e o governo federal irão trabalhar juntos com o mesmo objetivo: um governo para o povo”, declarou.
Durante a festa popular, Ana Júlia recebeu um cocar de um representante indígena da tribo dos Kaiapó.
Novo secretariado
A governadora aproveitou para apresentar ao povo os secretários estaduais escolhidos para dirigir, junto com ela, as políticas públicas necessárias para a prosperidade do Pará. O secretário estadual de Cultura, Edilson Moura, confirmou o direcionamento que será dado às políticas do governo. “Os projetos vão atender a todas as regiões e camadas sociais. Haverá uma inversão de prioridades, que levará as políticas públicas para quem mais precisa”, disse.
Tempo colaborou com a cerimônia
Quando a comitiva da nova governadora chegou à Assembléia Legislativa (AL) para a cerimônia de posse, a movimentação na praça Dom Pedro ainda era pequena. Ela chegou num carro fechado e, assim que desceu, saudou de longe a militância. Foi o suficiente para encorajar todos os que estavam ali a esperar até o final da solenidade. O tempo colaborou, e a temida chuva forte, que poderia atrapalhar a festa, não caiu.
Ana Júlia foi recebida pelo chefe de cerimonial da AL, Adenirson Andrade, e entrou no prédio ao lado dos filhos Júlio e Juliana. A universitária Elen Andrade chegou cedo para testemunhar, desde os primeiros minutos, o governo que ela já considera histórico: “É um marco para o Estado ter a primeira mulher governadora. Eu faço questão de ver de perto”.
Cada um tinha a sua forma de homenagear a governadora e de se integrar à festa. Com uma enorme peruca vermelha, a autônoma Carmem Magalhães comemorava sem parar. Ela participou do ato ecumênico pela manhã e iria também para a Aldeia Cabana, sempre com a máquina em punho para registrar em fotos a emoção desse dia. “É uma vitória que não temos como expressar. Quero demonstrar meu carinho, minha felicidade”, afirmava. Quem apostou na venda de artigos alusivos à posse, como bandeiras e camisas, não se decepcionou. “Preparei duas mil camisas e estou vendendo a unidade por R$ 10. O que não sair aqui, com certeza vendo lá na festa popular. Vou sair no lucro”, afirmava o vendedor Raimundo Nonato.
O público esperava acompanhar pelo telão a solenidade de posse, mas a expectativa foi frustrada diante da tela branca, sem nenhuma cena do plenário. Para completar, o som também estava ruim. A vontade contida de fazer a festa só pôde mesmo ser realizada com a saída da governadora, já empossada. “Mulher de luta, trabalhadora, é Ana Júlia governadora!”, gritavam os militantes em côro enquanto seguiam a pé o carro aberto que a conduzia numa volta ao redor da praça, que a esta altura já reunia um público em torno de 3 mil pessoas, segundo cálculos da Polícia Militar. Cento e cinquenta PMs atuaram na área, onde estavam também três ambulâncias, mas nenhum incidente ou atendimento foi registrado no local.
INTENSA - Após a revista das tropas, Ana Júlia seguiu para o palanque em frente ao Palácio Lauro Sodré para a transmissão de cargo, sob uma comemoração intensa da militância, que logo ocupou a via. Quando Simão Jatene e Valéria Pires Franco foram anunciados, o público chegou a vaiar, mas Ana Júlia repreendeu a atitude com olhares e gestos e iniciou os aplausos ao seu antecessor. O discurso da nova governadora inflamou a multidão, e alguns se emocionaram, como a aposentada Aldenora dos Santos: “Já estou sem voz de tanto gritar e chorar. Para mim, a hora mais bonita foi quando Ana Júlia cumprimentava o público e fez o ‘V’ da vitória para mim. Eu fui no céu”, comemorava.
Culto ecumênico foi realizado pela manhã
Uma celebração ecumênica ontem de manhã, na Igreja da Santa Cruz, foi o primeiro evento de Ana Júlia Carepa antes de tomar posse como governadora do Estado. Cerca de 150 pessoas participaram da cerimônia, que contou com a presença dos novos secretários de governo, políticos, familiares e amigos de Ana Júlia. A ainda governadora eleita chegou acompanhada dos filhos ao local, por volta de 10h30, no carro oficial do governo do Estado.
Antes da celebração, Ana Júlia falou rapidamente com a imprensa e comentou a importância da celebração no 1º dia do ano, data de sua posse. “Hoje marca o começo de uma nova história no governo do Estado. Além de pedir paz para todos, eu quero pedir para Deus abençoar o nosso governo”, afirmou.
Ainda no início da celebração, que contou com a presença de representantes de diferentes religiões - católica, evangélica, luterana, anglicana, plesbiteriana, batista, entre outras - Ana Júlia se emocionou com as orações e chorou.
Falando em nome do grupo religioso, o representante da Igreja Católica reforçou a esperança de mudanças no Estado. “Esperança não é apenas expectativa. A gente aguarda para que as coisas aconteçam de verdade. É como uma gestação. Gestação é produzir. Este é o desejo de todos: que este novo governo faça e produza”.
Após o discurso de Ana Júlia, reforçando a idéia de um governo de mudanças, a primeira mulher a governar o Pará recebeu a bandeira do Estado. (Fonte: Diário do Pará)

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