No Pará, tudo começa e termina no deputado Jader Barbalho (PMDB), ex-governador do Estado por dois mandatos e ex-senador. A frase, repetida pela população paraense, parece não ter sido ouvida pela governadora Ana Júlia Carepa (foto), que tenta a reeleição pelo PT.
Ana Júlia começou a se afastar de Jader há um ano e a briga acirrou-se há cerca de seis meses. O PMDB, antes um aliado, não tem mais secretarias e está fora do governo Ana Júlia, cuja desaprovação bateu os 53% em pesquisa do Ibope realizada no fim de maio.
Para reeleger-se, a governadora estimou um dos maiores gastos de campanha destas eleições, de R$ 47 milhões, montante superior ao estimado pelo candidato ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante, de R$ 46 milhões.
Em 2006, Ana Júlia tinha estimado gasto de R$ 10 milhões. "Ocorreu um erro em nossa estimativa", diz Maurílio Monteiro, secretário de Desenvolvimento do Pará e um dos comandantes da campanha do PT no Estado.
Candidato ao Senado, Jader deve definir o resultado da eleição ao governo estadual. Um dos mentores da candidatura da petista em 2006, Jader lançou de última hora Domingos Juvenil como concorrente pelo PMDB e faz mistério sobre quem vai apoiar no segundo turno.
Ana Júlia deve ir ao segundo turno com Simão Jatene, ex-governador do PSDB e ex-secretário do governo Jader. O tucano e a petista esperam um acordo em um eventual segundo turno. "Ele falou a algumas pessoas que sim, mas precisamos dialogar, não sabemos", afirma a governadora. "Pelo grau de tensão que se criou entre PT e PMDB, acredito que ele vai nos apoiar", diz o candidato do PSDB.
Com interlocução junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jader teria feito pressão para lançar Ana Júlia em 2006. Seu apoio garantiu a vitória à ex-senadora. No primeiro turno, ela foi menos votada que o concorrente no segundo turno, o ex-governador Almir Gabriel, que deixou o PSDB. A petista venceu por conta da coligação com o PMDB, que tinha como candidato a governador José Priante, primo de Jader.
A boa relação da governadora com Jader perdeu força depois que a Auditoria-Geral do Estado (AGE) constatou irregularidades em secretarias e órgãos controlados pelo PMDB. O feitiço virou-se contra o feiticeiro.
Parte do desentendimento do PMDB e do PT do Pará tem a ver com a divisão da máquina pública no governo petista. O PT ofereceu cargos ao partido aliado, mas deixou os órgãos entregues com poucos recursos. Todos do PMDB saíram.
A última pesquisa registrada, feita em maio pelo Ibope, mostra Ana Júlia com 24%, enquanto Jatene aparece com 31%, em um cenário com José Priante (12%). O candidato Domingos Juvenil não foi incluído na sondagem porque seu nome ainda não havia sido escolhido pelo PMDB.
Uma das recentes críticas à candidata à reeleição é o uso de um empréstimo de R$ 366 milhões tomado do BNDES para serem repassados aos municípios. O dinheiro, segundo a oposição, tem sido distribuído como moeda de troca de apoio político dos prefeitos. Os recursos foram liberados pelo BNDES para compensar o impacto da redução da alíquota do IPI sobre a arrecadação dos municípios.
Em 2001, Jader renunciou ao cargo de senador para evitar possível cassação do mandato por conta de denúncias do Ministério Público Federal de envolvimento do parlamentar em desvio de verbas da Sudam. O deputado chegou a ser preso e o caso ainda está para ser julgado no Supremo Tribunal Federal (STF).
Jader foi alvo de pedido de impugnação da candidatura ao Senado neste ano dentro da Lei da Ficha Limpa, mas o Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA) liberou o deputado porque considera que a lei não é retroativa.
Ao longo da vida política, Jader construiu um império de comunicação que lhe garante poder local. O deputado, que começou a vida política fazendo oposição ao regime militar, é dono de três retransmissoras de TV, de um jornal impresso e de dezenas de rádios. Tem o voto cativo de cerca de um terço do eleitorado paraense. O jornal, "O Diário do Pará", o mais vendido no Estado, tem atuado de forma oposicionista a Ana Júlia.
Jader está fechado com a candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República. O apoio no segundo turno vai depender da conjuntura local e do cenário nacional. O deputado não respondeu aos pedidos de entrevista do Valor. (Ana Paula Grabois, do Valor Econômico)
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