domingo, 14 de junho de 2009

Rebocado

CRÔNICAS DO PC
Quando foi lançada uma marca de carro famosa, meu parente Marcos resolveu adquirir um através de uma revendedora de Belém do Pará. O negócio foi fechado quase à vista. Ou seja, em dois cheques pré-datados para 30 e 60 dias. Muito satisfeito, Marcos após receber o veículo dirigiu-se ao Detran providenciando licença de emplacamento, a fim de poder pegar a estrada, rumo à nossa cidade de Parauapebas. Antes de seguir viagem passou num posto de gasolina e autorizou encher o tanque.

De repente, brecou a poucos metros da traseira do seu carro zero um Ford antigo, modelo 1930, todo restaurado, incrementado, pintado de novo, coisa bonita de se ver! O proprietário da antiguidade preciosa, um cidadão forte, musculoso, chapéu de vaqueiro de rodeio na cabeça, demonstrava satisfação em poder conduzir tamanha raridade. Cantarolava feliz uma música antiga de Nelson Gonçalves.

Marcos depois de reabastecer acionou a ignição e deu partida. Não soube explicar, contudo, ao engatar uma primeira e sair, colocou foi uma marcha à ré. Ao soltar a embreagem, o carrão deu um salto para trás, indo de encontro ao pára-choque dianteiro do calhambeque, acontecendo aquela batidinha casual, os dois carros ficando coladinho um no outro. Foi o bastante para irritar o dono do Ford antigo, que ficou azoretado, muito zangado mesmo, partindo para cima de Marcos, vociferando impropérios, além de tudo chamando-o de barbeiro, incompetente e que na certa, de uma forma ou de outra, ele pagaria o prejuízo. A discussão não engrossou porque Marcos, cidadão educado, não queria briga, e ainda, dado a intervenção do dono do posto, convencendo o senhor dono do calhambeque não haver nada demais, podendo Marcos seguir viagem.

E assim o meu amigo procedeu, aliviado em deixar para trás a encrenca que o senhor dono do velho Ford queria formar. Sem mais nada a justificar, pegou a estrada. Estava satisfeito, dirigindo um carrão último modelo e zerinho. Para amaciar o motor, dirigia calmamente, o velocímetro marcava 90 km, rodava sem nenhuma pressa. Ao entrar em uma curva fechada ouviu o som de uma buzina, um motorista pedindo passagem. Olhou pelo retrovisor e constatou ser o cara chato do Ford, modelo antigo. Sorriu com desprezo e pisou mais fundo no acelerador, atingindo 110 km de velocidade. Levantou um braço e disse para si mesmo, debochando: “Fica pra trás, idiota”.

Não rodou três minutos e a mesma buzina ligada direto bitbitbitbitbit, e o cara na direção do velho Ford gesticulando, parecendo gritar, na certa xingando. Não tinha jeito. Com muita raiva, Marcos não se importou de estourar o motor do seu carro, e acelerou, chegando a 140 km. E o Ford antigo continuava enrabado na traseira de seu carro, buzinando, ininterruptamente, bitbitbitbi...

Se continuasse em alta velocidade, corria o risco de sofrer acidente. Resoluto e disposto, resolveu parar ali mesmo, no acostamento de uma estrada erma, e só a mata como testemunha. Pronto para o “que desse e viesse”, abriu a porta do seu carro, arregaçou as mangas da camisa, disposto às últimas consequências, dirigindo-se ao dono do velho Ford:

“O que o senhor deseja para me perseguir desta maneira? A fim de evitar briga, eu lhe faço uma proposta agora mesmo. Troco meu carro zero pelo danado desse calhambeque, porque, nunca esperei encontrar máquina tão potente e fabulosa igual a esse velho carro. Topa a parada”?

O que o homem, seguro na direção do velho Ford, pálido, a voz trêmula, disse com dificuldade: “Topo nada, moço!... Por favor... não é isso que o senhor está pensando. O fato é que na hora da batida o pára-choque do seu carro ficou grudado no pára-choque do meu velho Ford, e o resultado é que estou sendo rebocado a contra-gosto”.

Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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