CRÔNICAS DO PC
Nas eleições gerais de 1960, o eleitor votava em candidatos a vereador, prefeito, governador de estado, deputado estadual, deputado federal, senador e presidente da República, destacando-se a histórica eleição de Jânio Quadros, eleito com expressiva maioria para ocupar o Palácio do Planalto.
As leis eleitorais eram diferentes das que existem hoje, porque havia muita facilidade para se fraudar eleições, na compra de votos, na hora de votar (coagido por candidatos, o eleitor às vezes votava várias vezes, usando título de eleitor de ausentes e de falecidos), continuando o engodo no momento das apurações.
No período da campanha, um famoso marqueteiro foi contratado para melhorar a imagem meio desgastada de alguns candidatos de uma coligação de partidos representativos e fortes. Imediatamente começou a trabalhar usando sua experiência para ganhar simpatizantes em torno de seus candidatos.
A esses, instruí-lhes como falar em público, conversar com o eleitor, dando-lhe sempre esperança para suas pretensões, nunca se esquecer de afirmar que ele, candidato, representava mudanças excepcionais para melhor conduzir a coisas públicas, favorecendo o povo e a terra.
E ficava de perto ao lado dos candidatos, ajudando-lhes na campanha do corpo a corpo. Não perdia um comício, orientando e organizando o discurso de cada um.
Aconteceu, então, num fim de semana, organizar-se uma grande manifestação pública, seguida de um comício monstruoso a realizar-se na praça do centro da cidade, que ficou tomada por grande multidão. Os candidatos mostravam com entusiasmo o valor pessoal de cada um na intenção de conquistar o voto do eleitor.
Quando chegou a vez do pretendente ao cargo de vice-prefeito falar, um jovem comunista com ideias revolucionárias marxista-leninista, sem contudo ser ateu, achava que éramos escravos acorrentados aos grilhões do capitalismo selvagem.
Orientado pelo marqueteiro, que o aconselhou fazer discurso inflamado na intenção de chamar a intenção das massas, o jovem candidato pegou no microfone e, gesticulando dramaticamente, começou a oratória:
“A liberdade, meus senhores e senhoras, é o melhor bem que Deus deixou para o homem. Sem liberdade, o que é o individuo? O que é o vivente da terra? Para as aves, Deus fez o céu e as asas para que dominem o espaço! Pra os animais, a selva! Para os peixes, o mar e os rios! Por que há de o homem, só ele, ter os movimentos paralisados através da força do capitalismo”?
E o povo aplaudia: “Muito bem...! Apoiado...! Viva...! Viva...! Apoiado”...!
E o orador candidato, de peito estufado, gesticulando de forma dramática, continuava: “E total liberdade virá a nós todos, porque, se eu chegar ao poder com meus companheiros, nosso primeiro ato será repetir mais uma vez o grito de independência dado por D. Pedro I em 7 de setembro de l822, transformando nosso estado, nossa cidade, num modelo de administração independente do capital estrangeiro, igual aos portugueses do passado, usurpadores de nossas riquezas. O que estou falando tem muita gente que não tem coragem de dizer com medo de perder alguma coisa importante. Comigo não, garanto-lhes! Não quero perder é a liberdade. Até a vida sou capaz de perder em holocausto ao meu povo. E afirmo agora: se eu for eleito, quem vai assumir o poder é o povo, o proletariado, a massa humana, que é a maioria, não os reacionários, verdadeiros pelegos, que estão aí do outro lado nos ouvindo e tremendo de medo”.
Mais vivas e aplausos para o candidato comunista que, finalizando seu discurso, assim se expressou sem conferir direito as palavras, numa comparação maluca, depois de sentir os efeitos dos intestinos cheios de gazes presos:
“A liberdade é, enfim, tão desejada, senhores, que o próprio ar aprisionado dentro de nós, ao sentir-se livre, solta contente um grito de vitória, saudando a liberdade conquistada”.
E centenas de vozes de opositores organizados, atentos ao discurso do orador, em zombaria, pronunciaram em voz una e estridente: “Puuuuuuum... Puuuuuuuuuuum....Puuuuuuuuuuuum”!
Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
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