CRÔNICAS DO PC
Aconteceu um dia, tarde da noite. Furtado, bacharel em Direito e jovem de 26 anos de idade, descendente de pais portugueses, naturais da Ilha de Madeira, rodando pelos arredores de uma cidade brasileira, onde residia, e à procura de um lugar bacana para jantar, foi parar em frente de um famoso restaurante de comida internacional. Como estava com fome entrou para pedir um delicioso petisco chamado relish com tofu defumado à moda portuguesa, um prato saboroso, no entanto, não encontrou no cardápio.
Dado a decepção do cliente, o garçom chamou o maitre, que, com sinceridade, afirmou desconhecer tal tipo de guloseima.
“Como pode, senhor mestre-cuca? Quer dizer que o senhor nunca ouviu falar em relish com tofu defumado à moda portuguesa?, interrogou Furtado, com aquele sotaque tipicamente lusitano.
“Correto, meu senhor!”
“E o que tem na casa para se comer de diferente e exótico?”
“Deixe-me ver...!” E pôs uma das mãos no queixo ficando pensando. “Ah, já sei...! Que tal um coupe-ausin misturado com sal Guérand?”
“Danou-se! Agora eu é quem não sabe o que é!”
“Então, deixe que explico”.
O garçom não foi adiante com a fala porque de repente apareceu uma loura daquelas de fechar comércio, tomou a palavra do maitre, se intrometendo na conversa, e disse: “Meu caro Pantagruel, com vontade de jantar, aproveito para convidar-lhe a sentar-se à minha mesa e haveremos de discutir um sabor de um prato que sirva para nós dois”.
Furtado arregalou os olhos sem querer acreditar no que via em sua frente. Uma mulheraça e tanto, daquele tipo tentador, deixando qualquer homem babando com apetite voraz. Descontrolou-se. Seu pensamento de ímpeto concupiscente ficou maluco, envolto em devaneios só encontrados no “Kama Sutra”. Achou que o verdadeiro prato cheio estava diante de si.
“Senhor!”
“Sim!”
Furtado não conseguia falar direito, de olhos fixos nas pomas da senhora, que eretos se sobressaíam numa blusa colante. Apenas conseguiu fungar: “Hum... hum... hum...!
“Quero dizer – repetiu a mulher – que tal deliciarmos um típico “pon-ta-by-lá-shok?
“Ta bom!”
Minutos depois, apareceu um garçom com vários pratos fumegando e cheiro ativo de temperos. Os dois serviram-se à vontade. Ao terminar de comer, Furtado, desconhecendo o sabor da comida, indagou: “Comemos o quê”?
“Simplesmente pon-ta-by-shok”.
“Deixa pra lá !”
O desinteresse de Furtado para saber mais a respeito dos ingredientes do prato estava justamente na loura.
“Agora, de barriga cheia, o que faremos a seguir?”, indagou Furtado, com o pensamento cheio de maldade.
A mulher sorriu e adiantou: “Vamos andar por aí”.
Furtado pegou o carro, entendendo que “por aí” chama-se “motel”. A loura entendeu a intenção de Furtado, pela cara safada que mostrava, e retrucou: “Vamos para minha casa. É melhor. Mais discreto”.
Furtado, seguindo orientação da mulher, foi rodando, tomando rumo de um bairro nobre da cidade. Foi parar em frente a uma mansão magnífica.
Espantado, ele perguntou: “O que é isso?”, e ela respondeu: “A casinha humilde onde moro”. E, de maneira cortês, convidou-o a entrar.
De mãos dadas, caminharam um pouco, indo parar numa sala ricamente mobiliada. Furtado tremia as pernas de tanta emoção, sem querer acreditar no fato. Mas quando se preparava para dar o bote inicial, que decepção!
Sentado em um sofá, encontrava-se um homem careca, bigodudo, lendo um jornal. Ao notar a presença dos dois, levantou-se e beijou a loura, carinhosamente. Ela na mais absoluta tranquilidade comentou: “Esse é um amigo que conheci no restaurante, querendo comer relish com tufu defuymado à moda portuguesa”.
O homem careca, que não era outro, senão o dono do restaurante e marido da loura, disse apressado: “Vou já preparar ligeiro”.
Não deu tempo Furtado dizer que não queria comer mais nada, porque o marido da loura correu imediatamente em direção à cozinha. Minutos depois, apareceu segurando um prato fundo com bastante crean cheese light relish, bastante tofu defumado picadinho, tomates, cerejas, cebolinhas verdes cortadas de viés e salsa crespa.
Furtado, embora de barriga cheia, para ser agradável comeu tudo prazerosamente, forçando a barra estomacal. Não nega que o sacrifício valeu, porque até hoje continua com água na boca em não ter podido “mastigar” o outro petisco, nunca mais querendo saber de relish com tufu defumado à moda portuguesa.
Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário