quinta-feira, 9 de julho de 2009

Um homem, uma mulher, uma macaca

CRÔNICAS DO PC
O casamento do casal Douglas e Myrtes encontrava-se com as estruturas abaladas, em tempo de acabar. Depois de viveram dez anos de completo entendimento, um e outro se achando feliz, eis que de repente surgiu na vida de ambos a figura de outra fêmea, apenas para fazer inferno. Não uma fêmea humana de semelhança igual a Myrtes, que, falando a verdade, é uma mulheraça e tanto, espécie rara, daquelas de chamar a atenção, pelas pernas torneadas, seios eretos, pontiagudos, corpo escultural, rosto e olhos, lindos e perfeitos.

A outra nem gente é! Tem corpo cabeludo, bocarra, é cambaia e não come carne. Refiro-me à macaca Lossa, classificada de parenta dos humanos, segundo a teoria evolucionista do naturalista Charles Darwin.

Myrtes ganhou a símia de presente, de um padre seichelense, quando visitou Seicheles, o menor país africano, um arquipélago de 115 ilhas isoladas em pleno oceano Índico, em viagem turística que fez um ano atrás, conhecendo as maravilhas da capital Vitória, localizada na ilha de Mahé.

O encanto maior que viu foi no interior do país, o Atol das Ilhas Aldabra e a Reserva Natural do Vale do Mai, onde se encontram raríssimas espécies de animais, entre os quais o ocapi (mamífero ungulado, intermediário entre girafa e antílope) e vegetais raros.

Foi no Vale do Mai onde Myrtes conheceu o padre, que lhe deu de presente a macaca Lossa, animal travesso, muito atentado, e que está deixando de miolos finos o seu marido, Douglas. Resoluto, já sentenciou: fica na casa ele ou a macaca, pois os dois não convêm ficarem juntos.

A macaca Lossa é da raça orangotango, originária das ilhas de Sumatra e Bornéu. Ainda filhote, foi oferecida por um nativo ao padre. Criada enjeitada, adaptou-se ao ambiente dos ares africanos, contrariando a afirmação de que essa raça de símios vive pouco em clima temperado. Nas mãos da senhora Myrtes, veio parar no Brasil, pátria amada da bela mulher e do esposo carioca.

Não se sabe por que a macaca logo ficou simpática com a cara de Douglas. Foi fixar os olhos nele e esboçou reação diferente, abrindo a boca, mostrando os dentes, lambendo os lábios, querendo dizer: “Vou te babar todinho, machão gostoso orangotango”. Dava vários pulos mortais, naquela gritaria própria de animal excitado.

Só melhorou o comportamento ao ser conduzida para um compartimento aramado. Mesmo assim, o efeito atrativo continuou: era a macaca enxergar Douglas e ficava extasiada, querendo abraçá-lo, fazendo uma confusão danada para ficar agarradinha a ele.

Dois meses depois, a coisa piorou. O animal não podia ver Douglas e endoidava, porque agora se sentia rejeitada. Atirava-lhe o que estivesse perto dela: pedras, latas, ferros, fezes e urina, sempre lhe acertando na cara, daí surgindo as desavenças entre a macaca, o homem e a mulher.

O final da história foi feliz, depois que um veterinário descobriu que a atração que a macaca sentia por Douglas devia-se ao cheiro típico do suor de suas axilas, pelos em abundância que tem na região torácica, tudo semelhante ao de um macho orangotango, e a macaca ter apresentado cio, naquela situação natural de desejar procriar e continuar a perpetuação da espécie.

Pense na situação de Douglas, tendo uma macaca apaixonada por ele, ela querendo levar a real situação ao extremo íntimo. Não é terrível?

A situação de parentesco entre humanos e macacos sempre causou polêmica entre ciência e religião, que não admite tal hipótese da evolução das espécies, que vai de encontro à teoria da criação.

Para tudo terminar bem, a macaca Lossa foi doada a um zoológico. Myrtes e Douglas hoje vivem em paz, sem, contudo, Douglas poder acompanhar a esposa em visita ao zoológico, para não excitar a macaca, que nunca o esqueceu.

Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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