domingo, 19 de julho de 2009

Plano que não deu certo

CRÔNICAS DO PC
O casal Andrade e dona Imaculada vinha de uma família importante, tida como a mais conceituada e rica de Ouro Preto, cidade histórica de Minas Gerais, com suas ladeiras íngremes e calçamento existente há mais de 300 anos, conhecida no mundo pelo conjunto de obras de Aleijadinho, o escultor genial e que produziu, entre tantas maravilhas, as doze estátuas dos profetas.

Ouro Preto é patrimônio histórico da humanidade e foi tombada pela Unesco em 1980, fazendo parte daquelas cidades mineiras conservadoras da arquitetura e arte colonial.

Senhor Andrade e dona Imaculada viviam muito felizes. Só lamentavam nunca ter conseguidos filhos. E pelo jeito iam ter de arranjar um herdeiro, pelo fato de um velho tio do senhor Andrade, homem muito abastado, solteirão, desejar deixar no seu testamento toda sua fortuna para o primogênito do casal.

Este fato que estou narrando passou-se nos anos quarenta do século passado, quando a medicina estava ainda engatinhando a respeito de inseminação artificial, esterilidade masculina, feminina e reprodução humana.

Dona Imaculada dizia que o problema era o marido, que na adolescência havia contraído caxumba. Em consequência, fora acometido de uorquite, aquele mal inflamatório conhecido popularmente como “a papeira que desceu”.

Pois bem, o senhor Andrade, homem sabido, impossibilitado de engravidar a mulher pela via e esforço dele mesmo, teve uma ideia salvadora, unicamente para o futuro “filho” não perder a herança do tio. E colocou dona Imaculada dentro de um navio no porto do Rio de Janeiro, participando de um maravilhoso cruzeiro marítimo. Só que viajaram separados, em camarotes diferentes, distantes um do outro, passando-se por pessoas não ligadas.

Conforme haviam combinado, o senhor Andrade escolheu um dos passageiros, jovem filho de senador, desacompanhado e sem compromissos, e com ele arranjou amizade. Na primeira oportunidade que teve, começou a passar informações falsas a respeito de dona Imaculada, induzindo-o a uma aproximação com ela.

“Mulher bonita, meu rapaz. A conheço de muito tempo. Se você se aproximar com jeito, ela é presa fácil, cederá”. Afirmava o senhor Andrade, na maior cara de pau.

Dona Imaculada, para falar a verdade, não era mulher de se jogar fora. É como se diz hoje, enaltecendo os predicados femininos, um avião bem turbinado, uma tentação forte. O jovem filho do senador não perdeu tempo e dela se aproximou. Conversaram, passearam no convés, na proa, estiveram juntos no salão de festa, dançaram, beberam e depois, é claro, ficaram a sós no camarote dele, três noites seguidas.

“Uma maravilha”, disse ele ao senhor Andrade, agradecendo-lhe por ter lhe informado sobre a exuberante mulher, sem defeito e animada, afirmando muito contente: “Sabe? Cheguei às do cabo. Tudo consumado”.

“Não me diga, rapaz!” Consummatum est”? Um sorriso mais do que cretino iluminava o rosto do senhor Andrade. Muito contente continuou a conversa: “Quero lhe dar meus parabéns”.

“Parabéns”? Interrogou o filho do senador, alheio às felicitações.

“Sim, meu caro jovem. Acredito, por merecimento você deverá ser pai brevemente”.

“Pai? Não senhor. É impossível. Não há possibilidade. Eu tomei todas as minhas precauções”.

“Precauções? Como”?

“Sim, explico. O senhor falou que a pessoa era mulher fácil. Fiquei preocupado e mandei preparar a minha defesa, à base de preservativo de borracha de câmara de ar, tirada de colete salva-vida”.

O senhor Andrade apenas ficou com cara de palerma, confuso, sem acreditar que seu plano acabou por água abaixo, gorado, e ele passando a pertencer à galeria de homem cabrão faz-de-conta.

Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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