Dona Maroca é uma senhora idosa, passando dos 60 anos. Ainda tem fôlego para desenvolver várias atividades físicas. É um desafio para quem já viveu tantos anos. Cultiva pomares, onde tem plantado dezenas de pés de frutas cítricas e ervas medicinais. A compensação pelo seu trabalho é que não faltam compradores de sua produção. O dinheiro da venda dos produtos engorda sua aposentadoria de viúva do marido, que foi tabelião do cartório de registro civil.
Pelo visto, Dona Maroca desenvolve atividades diversificadas, desafiando a idade que tem. Todavia, não importa. Reconhece procedimentos certos de sua parte, e não admite ninguém falar no assunto com ela, lhe reprovando. Não aceita ser chamada de velha, dizendo com firmeza: “Tenho apenas um pouco mais de 60 anos”. É uma pessoa extraordinária.
Primeiro serviço que faz todos os dias, antes do sol raiar, é exercitar-se por uma hora seguida, correndo, levantando peso e nadando. Não sopra nenhuma vez, mostrando cansaço. Em seguida, até as 10 horas, colhe frutos, folhas e flores; remove terra, aduba e asperge água em plantas de jardins e jarros. Em seguida, faz limpezas e vai para a cozinha preparar almoço e jantar à base de legumes, verduras e frutas.
Faz dois anos que ficou viúva. Guarda no coração saudoso a memória do companheiro querido, de anos de convivência e amor. Nunca o esqueceu, sempre com pesar pelo desaparecimento do companheiro, e que só lhe trazem gratas recordações.
No entanto, que o finado lhe perdoe, mas a vida tem de continuar da mesma forma, pujante e motivada. Por isso, acha que cumpriu sua missão de viúva, e ter chegado a hora de encontrar novo parceiro. Tirar a roupa preta e andar vestida na moda, exibindo seu corpo ainda em forma de mulher atraente. Sim. Verdade!
Quer se casar novamente. Descobriu não tolerar a solidão. Gosta de dormir naquele aconchego, de costelinhas, esquentando as necessidades de um corpo fogoso, carente de abraços, beijos e muito carinho. Repete. Sim! É verdade. Não há vergonha em afirmar. Todo o tempo é tempo de amar, quer se seja jovem, cinquentão, ou mesmo na terceira idade. Afirma.
É una mulher bem tratada, independente, conservada, alta, vistosa, vaidosa, culta, cabelos longos e pretos, é evidente, tintos. Nunca perdeu o charme de se portar elegantemente, sendo alvo de olhares curiosos. Pela experiência, aconselha: “Jamais se entregue. A idade é apenas a consequência dos anos que passaram, nunca o fim das atividades do presente de quem tem cérebro, pernas, braços, vigor e excitação para ativar os estímulos, sem mais problemas”.
Tem um pormenor a esclarecer: Dona Maroca se conserva numa boa, ativa, e não quer sofrer decepções. Portanto, ela alerta: só aceita um homem na faixa de sua idade, que seja vigoroso, forte, soltando faísca. Moleirão, dorminhoco, babão, nem pensar.
Tem saudade do seu finado. Varão e tanto! Nunca deixou de disparar o seu bacamarte. Pena é que nunca tiveram filhos. Esterilidade por parte dele. Quando jovem, ele foi acometido de caxumba, as sequelas do mal, lhe deixando estéril. Mas sempre em forma vigorosa.
Saudade é algo que maltrata, suspira Dona Maroca, lembrando-se do passado! Haverá de continuar esperançosa, trabalhando, tranquila, na certeza de que um dia vai voltar a viver, como ela sempre preferiu, a dois, e numa boa.
Nunca vai esquecer-se de guardar o respeito e a memória do falecido, retirando do seu quarto de dormir a moldura da fotografia dos dois, no dia do casamento e no momento do beijo, continuando acendendo velas no seu lindo túmulo de mármore e granito.
Qual o machão desimpedido, com as devidas características exigidas, que se habilita? Dona Maroca aguarda.
Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário