RIO - Ao longo dos últimos meses, decidi que não me
pronunciaria sobre a avalanche que se abateu sobre minha vida privada e,
principalmente, sobre meus negócios. Mudei de ideia nos últimos dias diante da
grande insistência de amigos próximos e alguns de meus executivos. Venho a
público, então, submeter à reflexão aspectos que têm passado em branco quando
se analisa minha trajetória empresarial.
Eu me tornei um empreendedor ainda no início dos
anos 80, quando me aventurei no garimpo da Amazônia. Aprendi bastante em
regiões de fronteira, ambientes hostis à atividade produtiva, enormes
dificuldades de toda ordem para transportar equipamentos, surtos de malária que
me obrigaram a substituir equipes inteiras da noite para o dia, o desafio de
extrair minério em locais quase inacessíveis e meu próprio questionamento em
torno das possibilidades de êxito diante das adversidades que se apresentavam.
Acabei por me tornar proprietário de minas em diversos países e decidi
estabelecer-me em definitivo no Brasil e me desfazer das participações que
detinha na área de mineração.
Muitas vezes as pessoas imaginam que surgi do nada,
em meio a uma febre desenfreada de aberturas de capital, e que surfei na onda
de um mercado em alta que, sem qualquer razão aparente, me ofereceu um cheque
em branco com algumas dezenas de bilhões para que eu pudesse brincar de
empreender. Nestes últimos anos aprendi muito, errei e acertei em diversos
projetos, contribuindo para geração de riqueza para terceiros, para mim e,
principalmente, para investidores. Se algum dia eu mereci a confiança do
mercado, foi porque havia uma trajetória de mais de 30 anos de muito trabalho,
desafios superados, sucesso e uma capacidade comprovada de cumprir
compromissos.
Como entendo que a OGX está na origem da crise de
credibilidade que se abateu sobre meu nome, e que acabou por turvar as
realizações e conquistas de empresas como MPX, MMX e LLX, começo por ela.
O que aconteceu desde que ficou claro que a OGX não
estaria apta a apresentar os resultados que um dia pareceu possível alcançar?
Eu me tornei de repente um aventureiro inconsequente que arregimenta recursos
para seu próprio benefício e não se importa se entregará o que havia anunciado?
Hoje é difícil lembrar, mas a OGX foi construída por algumas das cabeças
coroadas por décadas de serviços prestados a empresas de renome. Não investi na
indústria do petróleo sem me cercar daqueles que eu e o mercado entendíamos
estar entre os mais capacitados profissionais com que se podia contar. Ao
arrematar os campos que arrematou, a expectativa em torno da OGX era altíssima.
Esta mesma expectativa parecia uma irrelevância diante dos prognósticos que
recebi de diversas empresas independentes no mercado do petróleo. Uma delas foi
a DeGolyer & MacNaughton (D&M).
De acordo com um relatório divulgado em 2011,
auditado por empresas independentes de renome internacional, a OGX possuiria
recursos aproximados de 10,8 bilhões de barris de petróleo equivalente
(incluídos recursos contingenciais e prospectivos). Meu corpo técnico me
reafirmava, dia após dia, a mesma coisa. Minhas empresas eram auditadas por
três das maiores agências de risco do mundo, e nunca uma delas veio a mim ou a público
alertar que não era bem assim.
Evidentemente, eu estava extasiado com as
informações que me chegavam. Podia tê-las guardado para mim? Não, eu era o
controlador de uma companhia de capital aberto e o que fiz foi compartilhar
todo aquele esplendor e respectivos desafios com o mercado, além dos riscos
envolvidos e chances de sucesso neste negócio de tão alto risco.
Tive ofertas para vender fatias expressivas ou mesmo
o controle da OGX a partir de um valuation de 30 bilhões de dólares. Há dois
anos, coloquei mais um bilhão de dólares do meu bolso na companhia. Perdi e
venho perdendo bilhões de dólares com a OGX. Alguém que deseja iludir o próximo
faz isso a um custo de bilhões de dólares? Se eu quisesse, poderia ter
realizado uma venda programada de 100 milhões de dólares por semestre ao longo
de 5 anos. Eu teria embolsado 5 bilhões de dólares e ainda assim permaneceria
no controle da OGX. Mas não o fiz. Quem mais perdeu com a derrocada no valor da
OGX foi um acionista: Eike Batista. Ninguém perdeu tanto quanto eu, e é justo
que assim seja. Investi em um negócio de risco. É injusto e inaceitável, por
outro lado, ouvir que induzi deliberadamente alguém a acreditar num sonho ou
numa fantasia. Quem mais acreditou na OGX fui eu. Continuo acreditando e por
isso estamos, nestes últimos meses, reinventando a companhia. Não desistirei
deste desafio.
A OGX tem sido alvo de todo tipo de movimento
especulativo, com vendas a descoberto no mercado e vazamentos de informações
(falsas ou verdadeiras) numa escala sem precedentes e totalmente irresponsável.
Muita gente ganhou dinheiro com a OGX por conta de toda esta excessiva
especulação. Muitos também têm perdido dinheiro assim.
Sou solidário com os investidores que acreditaram na
OGX em sua origem e que me honraram com sua confiança naquele momento ou mesmo
depois, quando parecia que a companhia entregaria resultados de grande
magnitude. O que posso dizer a essas pessoas é que acreditei neste cenário
tanto quanto elas. Investi e continuo investindo quase todo meu patrimônio,
tempo e dedicação na OGX e nas demais empresas X. E lamento profundamente não
ver confirmados os prognósticos de consultorias de renome, auditados por
agências de idêntico renome e referendados por executivos de renome...
Sou um otimista incorrigível em relação a meu país,
a meus negócios e às pessoas que me cercam. Ao longo de minha atividade
empresarial, os êxitos e conquistas superaram largamente fracassos e erros. Mas
os fracassos aconteceram e eu nunca os escondi. Tive experiências mal sucedidas
com a fabricação de jipes, com uma empresa concebida para concorrer com os
Correios, com algumas minas fora do Brasil, das quais tive de abrir mão por
fatores diversos. Mas nunca deixei de ser transparente, pagar ninguém e nem de
honrar meus compromissos. Sempre mirei atividades de alto risco com
possibilidades de elevados retornos para parceiros e acionistas. Mineração é
uma atividade de risco. Extração de petróleo é uma atividade de alto risco. As
promessas de retorno são elevadas, num caso e noutro, mas o risco é grande.
Isso jamais foi escondido, faço questão de pontuar novamente.
Mais do que ninguém, me pergunto onde errei. O que
deveria ter feito de diferente? Uma primeira questão talvez esteja ligada ao
modelo de financiamento que escolhi para as empresas. Hoje, se pudesse voltar
no tempo, não teria recorrido ao mercado de ações. Eu teria estruturado um
private equity que me permitisse criar do zero e desenvolver ao longo de pelo
menos 10 anos cada companhia. E todas permaneceriam fechadas até que eu
estivesse seguro de que havia chegado o momento de abrir o capital. Nos
projetos que concebi, o tempo se revelou fator de estresse vital para a
reversão de expectativas sobre companhias que ostentam resultados amplamente
satisfatórios e possuem ativos valiosos.
Nos casos de MPX, MMX e LLX, a depreciação do valor
de mercado é claramente incompatível com o que têm a oferecer. Estes últimos
investimentos que efetuei tiveram como importante motivação contribuir para um
Brasil mais competitivo, estruturado logisticamente e capaz de proporcionar um
futuro melhor para o conjunto de sua população. A MPX possui a maior carteira
de projetos licenciados do país. Ela se tornou modelo no conceito de térmicas
ao longo da costa e gera hoje 2 mil megawatts, o suficiente para alimentar a
cidade do Rio de Janeiro. Em pleno cenário de crise energética, foi dito
publicamente por um membro da Aneel que, graças à MPX, não haveria apagão ou
racionamento de energia.
A MMX já produz 7 milhões de toneladas anuais de
minério de ferro e conta com um ativo de importância estratégica vital, o Porto
do Sudeste. Graças a ele será possível extrair minério de ferro de Minas Gerais
e exportar a partir do quadrilátero ferrífero com ampla repercussão para a
logística e para a balança comercial.
A LLX conta com o Porto do Açu, pólo industrial para
os setores de petróleo e para o transporte de cargas em geral e a granel. É um
porto-indústria que revela, em escala crescente, sua capacidade de atrair novas
parceiras para sua retroárea de aproximadamente 90 km2.
Dentre as empresas que já se instalaram ou estão se
instalando no Açu, estão Technip, National Oilwell Varco (NOV), BP, GE,
Wartsila e Vallourec, todas grandes corporações internacionais que acreditam
nos meus negócios e no Brasil.
As pessoas ainda comentam que sou o cara do papel,
do power point. Por que não visitam o Porto do Açu? Por que não visitam o Porto
do Sudeste? Por que não visitam as plantas da MPX? É justamente o oposto do que
se tem falado: sou o cara da economia real, que, mesmo com muitos obstáculos,
coloca as coisas de pé. No pico das obras de meus empreendimentos, 30 mil
pessoas estavam empregadas, tornando concreto o que até então eram apenas
sonhos. Isso é papel? Trinta mil pessoas em atividade? Eu realmente gostaria
que todos os que duvidam de minha capacidade de entregar pudessem visitar o
Porto do Sudeste e o Porto do Açu e as térmicas da MPX já em operação. É um
convite que gostaria de fazer a todos. São empreendimentos para o Brasil, para
o futuro do país.
Meu sentimento é de que, em pouco tempo, as pessoas
vão olhar para trás e pensar que pude oferecer minha contribuição ao
desenvolvimento do sistema logístico brasileiro. Coloquei 2 bilhões de dólares
do meu bolso na construção de um estaleiro por acreditar nas encomendas da OGX.
No total, investi mais de 4 bilhões de dólares em recursos próprios nas
empresas X.
Tomei a decisão de reestruturar o controle das
companhias. Faço isso com a certeza de que tenho um legado a deixar ao país, e
não abrirei mão de colaborar na condição de acionista relevante em cada
companhia. Honrarei todos os meus compromissos. Não deixarei de pagar um único
centavo de cada dívida que contraí. Acredito no meu país e nunca desistirei de
investir recursos próprios em ativos que contribuem para toda a sociedade.
Eu me enxergo e continuarei a me enxergar como um
parceiro do Brasil. Acho que cumpri esse papel ao conceber e entregar projetos
que terão uma importância crucial nas próximas décadas. Falhei e decepcionei
muitas pessoas, em especial por conta da reversão de expectativas da OGX. Esta
reversão contaminou todo o Grupo X e acarretou um déficit de credibilidade com
o qual nunca me deparei em minha trajetória. Mas o fato é que fui tão
surpreendido quanto cada um de meus investidores, colaboradores e todo o
mercado.
Esta é a verdade. Hoje me sinto frustrado por não
ter sido capaz de entregar o que eu mesmo esperava nos casos da OGX e da OSX,
esta última concebida em parte para oferecer suporte à primeira em suas
atividades. Mas acredito que a OGX reestruturada se tornará um player relevante
no setor em que atua, assim como confio numa OSX redimensionada a partir de um
novo cenário.
Sempre agi de boa-fé e sempre o farei. Acho que era
isso o que mais gostaria de dizer e que, assim espero, sintetiza meu percurso
empresarial nos últimos cinco anos. Com minha estrutura de capital equacionada,
continuarei a empreender e tenho convicção de que ainda vou gerar riqueza
novamente e deixar um país melhor com estes ativos que criei do zero. Eu talvez
faça isso agora sem o mesmo peito aberto de antes. Talvez tenha confiado demais
em pessoas que não mereciam esta confiança, ainda que no final a
responsabilidade seja toda minha. Com certeza também não me submeteria à
exposição pública excessiva de tempos recentes, da qual me arrependo, sobretudo,
por haver exposto igualmente minha família e meus amigos a uma curiosidade
indesejada.
O orgulho de erguer do nada tantas empresas em tempo
tão curto me colocou no centro do palco e eu me vi como o porta-voz de um novo
empreendedor, que não tem vergonha de expor suas conquistas e mostrar que é
possível gerar riqueza e ao mesmo tempo contribuir com o desenvolvimento do
país. Tenho consciência de que fui um símbolo para as pessoas, a representação
de um Brasil que prospera, que dá certo e está preparado para desempenhar um
papel de preponderância global. A destruição de valor dos meus negócios colocou
por terra talvez o sonho de muita gente que acreditou na possibilidade de
partir do zero e se tornar um empreendedor de sucesso. Espero que elas procurem
enxergar o que deu certo em minha trajetória e peço que esperem alguns anos
para uma avaliação mais definitiva do que terei sido capaz de construir com o
apoio dos que acreditaram e dos que ainda acreditam em mim. Houve muitos
acertos e eles ficarão mais evidentes em tempo não tão longo. Não me refiro
apenas aos negócios propriamente ditos.
Nestes últimos cinco anos, apoiei causas de
naturezas diversas, que me levaram a investir centenas de milhões de reais
próprios em projetos de interesse público e social ou mesmo de caráter
humanitário, principalmente na Cidade do Rio de Janeiro, o que hoje é esquecido
por muitos. Isso eu faria e farei novamente, se estiver ao meu alcance.
Nos últimos meses, meu obituário empresarial tem
ocupado as páginas de blogs, jornais e revistas. Só posso dizer que me vejo
muito longe deste Eike aposentado.
Tenho 57 anos e muita energia para arregaçar
mangas e tirar do papel novos projetos. Sou um empreendedor brasileiro,
acredito no que faço, amo meu país. A cada dia, minha cabeça fervilha com
ideias novas, que nascem do nada e tomam forma aos poucos. Eu me alimento desta
capacidade de sonhar e de realizar. Empreender está no meu sangue, no meu DNA.
É minha fonte inesgotável de energia e de vida. (Fonte: Globo Economia)
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