O corpo médico da Fundação Santa Casa do Pará, em
Belém, realizou uma cirurgia rara, utilizando técnicas de medicina de primeiro
mundo. Foi o que informou o médico Maurício Iazi (foto), cirurgião pediátrico do hospital.
O caso envolveu a menina R.N, de 6 anos de idade, oriunda de Breu Branco,
município do sudeste paraense, que sofria de equinococose, doença grave causada
pela ingestão de larvas de parasitas.
Segundo o pai da menina, José Carlos Nunes, R.N
tinha febre todos os dias durante um ano. Sem identificar o motivo, os
familiares procuraram ajuda e vieram a Belém. Em parceria com o Instituto
Evandro Chagas, a Santa Casa identificou a enfermidade rara e os médicos
definiram que a cirurgia deveria ser realizada, retirando 60% do fígado da
paciente, numa cirurgia que durou quatro horas e meia.
Para tratar da ação danosa do parasita echinococcus,
costumava-se utilizar o medicamente Bendazol. No entanto, como explicou
Maurício Iazi, a recuperação da paciente seria incerta. “Então, foi preconizado
o tratamento cirúrgico. Em alguns casos, a lesão é tão extensa que é necessário
até o transplante de fígado. No Brasil, até hoje, foram feitos dois
transplantes de fígado por equinococose, dois pacientes da região Norte, um
deles aqui do Pará”, explicou o médico.
“Esta é uma doença que ainda está sendo descrita. E
ela foi a paciente mais jovem até então encontrada com este tipo de doença.
Normalmente, a enfermidade atinge o adulto jovem”, enfatizou o profissional de saúde.
O ineditismo da cirurgia realizada na Santa Casa é
ressaltado pelo médico. “Inédito é o fato de ter uma criança tão jovem já com
uma doença tão grave, já que pacientes pediátricos com doenças hepáticas graves
são tratados rotineiramente na Santa Casa. Cirurgias desta extensão não eram
feitas de maneira rotineira e passaram a ser feitas na Santa Casa”, ressaltou
Maurício Iazi.
Após o procedimento, a criança ficou um dia na
terapia intensiva e depois foi encaminhada para a internação. Nesta
quinta-feira (18), ela teve alta. Como ainda está prevista uma consulta no
próximo dia 25, ela e o pai estão no Espaço Acolher da Fundação Santa Casa.
“Fomos muito bem recebidos aqui na Santa Casa e está
sendo tudo ótimo com a recuperação da minha filha. Mas já estamos com saudades
de casa. Espero que na próxima consulta a gente fique liberado para voltar para
casa”, falou José Carlos Nunes, pai da criança.
O sucesso da cirurgia se deu em virtude dos cuidados
que foram tomados antes, durante e após a operação feita pelos médicos do hospital.
“Usamos tecnologia de primeiro mundo, como, por exemplo, a recessão hepática,
utilizando radiofrequência. Isso diminui a perda sanguínea e as complicações do
pós-operatório. Resultado disso é uma cirurgia de grande porte, complexa, onde
o paciente se recupera rapidamente, como é o caso desta menina”, concluiu o
médico.
Ciclo
da doença
O ciclo desta doença é complexo e ainda está sendo
estudado pelos órgãos de saúde do estado, como a Secretaria de Saúde, Instituto
Evandro Chagas e a Santa Casa. Os órgãos, em parceria com o Ministério da
Saúde, criaram uma estrutura para atender pacientes de alta complexidade, como
foi o caso da menina de Breu Branco.
Segundo o estudo preliminar, cidades da região da
Ilha do Marajó são os locais com incidências registradas. Sabe-se que o início
da doença ocorre após a ingestão de carnes de caça, principalmente de pacas
(uma espécie de roedor). O hábito dos ribeirinhos de limpar a paca, pegar as
vísceras do animal e usar como alimento para cachorro é um problema já
identificado. A partir deste processo, o cachorro vira uma espécie de portador
do verme e contamina o solo.
O parasita tem uma propensão para infectar
principalmente o fígado. O pulmão pode ser outra área atingida, embora em menor
escala. No caso da paciente de Breu Branco, foi feito um estudo detalhado do
agente, sob responsabilidade do Instituto Evandro Chagas. O trabalho é
coordenado pelo professor Manoel Soares. (Nilson
Cortinhas, da Santa Casa)
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