CRÔNICAS DO PC
Podemos afirmar que a viúva Luzia Bernardes, sem sombra de dúvidas, aparecia com a primeira fortuna existente naquela cidade do interior do Pará.
O marido dela morreu fazia três anos, de acidente no rio Araguaia, quando pescava e caiu nas caudalosas águas, no encontro com o rio Tocantins. Sem saber nadar, afundou imediatamente.
A viúva ficou dona de várias fazendas, uma empresa de transporte, além de quatro grandes supermercados, localizados em cidades circunvizinhas, e dinheiro depositado, rendendo dividendos em quatro grandes bancos.
Mulher rica, é claro, nunca faltavam candidatos a cortejá-la, a maioria dos pretendentes, pensando mesmo em casamento, uma maneira menos precipitada de se firmar na vida e viver numa boa.
Quem tinha maior vista grande na viúva era o doutor Andrade, um advogado criminalista, famoso, porque, defendendo ou acusando, a maioria das vezes sempre se saia vencedor. O causídico tinha outra qualidade aparente: um coração afetuoso, cheio de amor, que fez o corpo ficar imantado, isto é, sempre rumando voluntariamente para onde existia a presença de “metais”, para ficar ligado.
E ele, considerando-se homem experiente, com muita voluptuosidade, resolveu atacar nas formas mais sábias de conquistas, cuja finalidade era conquistar a viúva de vez. Estudou a situação, tentando ser cortês, fino cavalheiro, solícito, solidário, empreendedor, e nada. A mulher não cedia. Continuava determinada a ficar sozinha, administrando seus bens.
Dona Luzia Bernardes tinha apenas 32 anos, conservando uma beleza que imediatamente dava nas vistas de qualquer homem sensível ao admirar o belo. Além dos interesses, era também o que mais fazia doutor Andrade morrer de paixão. E ele estava cansando depois de muito girar. Até que decidiu jogar uma cartada maior, aproveitando jantar em que os dois participavam na casa de um amigo.
No intervalo em que ficaram sozinhos numa varanda forrada de caramanchões, doutor Andrade, surpreendentemente, perguntou à bela milionária, sem mais rodeios, encarando-a de maneira muita séria: “Quer casar comigo?”
O que ela pensou um pouco para responder secamente: “Não sei”.
Mulher quando é independente e não precisa de homem para lhe garantir segurança é uma coisa diferente, fica dura na queda, não sendo com cantadinhas que vá cair em braços facilmente. Todavia, dona Luzia Bernardes não quis ser descortês, voltou a falar muita séria, mas sorrindo: “Ah, caro doutor. Não quero falar no assunto antes de saber que estou amando novamente. Por enquanto, nunca me esqueci do meu finado marido. Se assim continuar, nunca mais me casarei”.
O advogado não se conteve. Respirou fundo e, parecendo-se preocupado, exclamou gesticulando: “Mas, senhora!...” Andou doutor Andrade para frente, coçando a cabeça, sem terminar a frase. “O quê, caro doutor?”, interrogou a mulher, bastante curiosa. “Diga-me, agora, por favor. Finalmente o que pretende fazer com esse dinheiro todo que a senhora tem?”
Dona Luzia Bernardes deu meia volta e retirou-se sem mais pronunciar uma palavra com o doutor advogado.
Pedro Cláudio de Moura Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
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