terça-feira, 23 de setembro de 2008

O ciumento

CRÔNICAS DO PC

Vou contar a história do casal mineiro que há muito tempo reside no Pará. Não vou dizer a cidade onde mora, porque quero evitar especulações de um problema que é somente deles. Ninguém tem nada a ver com o caso, com exceção de quem escreve, e tem certa liberdade de esmiuçar a vida alheia, tomando cuidado de não expor ao ridículo as pessoas, evitando constrangimentos.

O casal é um exemplo de vida a dois. Faz mais de 25 que são casados. Filhos criados, independentes, nenhum morando perto deles. Os três rebentos residem em capitais do Sudeste brasileiro.

Para dar nome ao casal, vou lhes chamar de Beto e Tina. Ela, uma “quarentona” ainda vistosa, imaginemo-na quando era mais nova. Deveria ter sido um pedaço e tanto de mulher. Ele, aposentado de uma grande empresa de comércio exterior. Hoje, para não ficar ocioso, faz bico, lecionando direito internacional numa faculdade pertencente a uma fundação, aproveitando sua condição de bacharel em direito.

Os dois sempre foram felizes, não obstante as briguinhas permanentes entre eles, pelo ciúme doentio de Beto, que imagina coisas inconcebíveis, dentre as quais um rival cortejando Tina, o que lhe deixa irritado, procurando galhos na cabeça.

Dado as condições de marido ciumento que não pode perder Tina de vista, ou melhor, quer saber onde ela está e o que faz, fica telefonando de hora em hora. Aprendeu até a farejar o ar, aguçando o faro, dentro de casa, vendo se descobre cheiro diferente que se relacione com homem. Tina nem se importa, pois mulher honesta e fiel igual a ela não existe. Acha até interessante Beto ficar percorrendo os compartimentos da casa, andando de quatro, imitando o cachorro, cheirando assoalho, tapetes, maçanetas de portas, lençóis, colchão de camas e o vaso sanitário, querendo descobri cheiro diferente, desconhecido, de homem, em qualquer situação, e fica imaginando coisas inconcebíveis.

Não é para brincadeira o ciúme de Beto. Se Tina não fosse uma mulher compreensiva, educada, pacata, não suportaria tanta desconfiança partida do marido. Um psicólogo havia lhe dito um dia que o ciúme é uma emulação de um sentimento possessivo, que deixa o ciumento desconfiado, a maioria das vezes fora da realidade, como é o caso de Beto.

Certa vez, o incrível aconteceu: Tina entrou para o banheiro disposta a tomar um banho morno. Conduzia uma toalha enrolada na cintura, além de roupa íntima para trocar. Beto, sempre desconfiado, ficou pensando, fazendo conjecturas, o que poderia acontecer com sua mulher trancada no banheiro, tendo ao alto, pregado na parede!...

Não terminou o pensamento e deu um salto da cadeira, exclamando, chamando pelo nome de Tina e falando a toda altura:

- Abra a porta e deixa-me entrar. Quero tirar o safado desse cabide do banheiro. Tina apenas riu das loucuras ciumentas de seu marido.

Pedro Cláudio de Moura Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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