segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Gestação masculina

CRÔNICAS DO PC

Tem muita gente louca no mundo. Vem ser o caso do decorador Eder Meneghine, que, segundo li em um jornal, se apresentou voluntariamente para ser o primeiro brasileiro a se candidatar a uma tentativa de gravidez masculina. O convite partiu de uma equipe de médicos pesquisadores de São Paulo, dentre eles um famoso cientista nascido em uma cidade do interior do Pará.

O homem ficou muito feliz, porque sempre sonhou em ser transformado, em parte, numa mulher, ter um útero e aquela emoção especial de ser mãe.

O resultado de tão extravagante experiência parece que não deu resultado. Acredito mesmo que não, porque parir, pelos conceitos científicos e divinos, ficou exclusivamente para as fêmeas.

Sobre o assunto de gestação masculina, tem outro fato interessante, menos radical, e que acontece freqüentemente entre alguns homens que adquirem a síndrome de Couvade, ou gravidez masculina, e que são chamados de esquisitos, ou seja, homens que formam um grupo de grávidos sem-barriga.

Vou explicar. São pessoas normais do sexo masculino que exibem sintomas de gravidez e ficam possuídas de pseudociese, ou seja, inchaço de barriga sem causa aparente, isso porque, tendo a mulher engravidada, quem também sente os sintomas decorrentes do estado gestacional são eles, homens que vão desde as náuseas, vômitos fortes, ansiedade e desejos desenfreados de comer certas iguarias.

Foi o caso de João Pedro, que padeceu por demais na primeira gravidez da mulher. Andou em vários hospitais, sofrendo, tentando descobrir os estranhos sintomas que lhe incomodavam, tirando-lhe até a tranqüilidade do sono. Sentia ainda as pernas dormentes, dor nas veias e repugnância quando via pedaços de carne crua, além de rejeição à presença da mulher, e uma tontura que lhe dificultava ficar em pé.

Correu desesperado às clínicas cardiológicas, mas nada descobriram. O coração estava ótimo. Recorreu a um angiologista, um gástrico, um clínico geral e a um psicólogo. Tempo perdido. Nenhuma doença fora diagnosticada. No seu caso, nunca atinou que deveria ouvir um obstetra.

Quem solucionou o problema foi uma velhinha, secretária de um médico homeopata. Sabedora do caso, ela teve a curiosidade de indagar se a mulher dele estava grávida. A resposta foi positiva, o que fez a idosa sorrir e falar com segurança:

“Nos dias de hoje, a gravidez é compartilhada no máximo pelo casal. Não se fala mais em ‘mulher grávida’, e sim em “casal grávido”, existindo já muitos casos registrados de homens na sua mesma situação. O homem não é mais um mero coadjuvante no decorrer da gravidez da companheira. Não é raro alguns sentirem os sintomas comuns às gestações. Essa é uma forma que eles têm de vivenciar esse momento em sintonia com a mulher”.

E a velhinha garantiu: bastaria à companheira dar à luz, ele ficaria curado. Para falar a verdade, só faltou o ventre de João Pedro crescer, porque o resto aconteceu, até mesmo aqueles tradicionais chutes na barriga. Teve uma ocasião em que, se encontrando numa roda de amigos, inadvertidamente alertou: “Veja, ele chutou”. Foi uma gozação geral, mas João Pedro nem se importou. Tratava-se de seu filhinho.

Quando completou o período gestacional, os sintomas do parto apareceram na mulher, no meio de uma madrugada. Nas primeiras contrações, João Pedro entendeu que o mesmo problema era também dele, e espremiam-se involuntariamente. Não teve jeito. Os dois foram levados para uma maternidade. A mulher foi conduzida imediatamente para uma sala de parto e ele ficou sob os cuidados de uma equipe de médicos plantonistas. Tão agitado se encontrava que os doutores acharam melhor dopá-lo, e lhe aplicaram uma injeção para dormir. João Pedro acalmou-se, enquanto na sala de parto, uma criança que nascia soltava os primeiros vagidos.
O efeito da droga passou rápido. Menos de uma hora depois, João Pedro acordou, meio tonto. Foi quando uma amiga lhe comunicou o nascimento do primogênito, um lindo garoto, através de parto cesariano.

João Pedro arregalou os olhos, puxou o lençol branco que cobria seu corpo, olhou bem, passou a mão um pouco acima da região pubiana, mexeu as pernas, e disse, na maior tranqüilidade: “Acho que você se enganou. Foi parto normal mesmo, porque não vejo nenhum corte em minha barriga”.

Pedro Cláudio de Moura Reis (PC)
E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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