quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Os períodos da vida que nunca se esquece

CRÔNICAS DO PC

Em cada fase da vida que o indivíduo vai passando, trilhando seu caminho, nunca esquece o passado. Quem não se lembra da infância, adolescência, adulto jovem, homem maduro e início da terceira idade? Quem chegou à última fase, contando os setenta ou oitenta anos, é um felizardo. Se não ficou senil, apelidado de velho “gagá”, é mais motivado e com razão de fazer reminiscência de um longo tempo que já se foi.

Com esse perfil de um passado totalmente relembrado, encontrei um cidadão que merece todas as atenções, pois tem brilhante história para contar, das fases transitórias de sua vida.

Seu nome é Doutor Marreca, em referência à sua cidade natal, e sua profissão de veterinário e ornitólogo, que tratava muito bem os pássaros palmípedes.

E qual foi a melhor época de sua vida? Quis eu saber, naquela curiosidade própria de quem quer arrancar informações. Doutor Marreca disse que toda. Não esquece da infância, brincando de esconde-esconde, jogando pião, empinando pipa e batendo bola. Na adolescência, nem se fala: foi a melhor fase da vida, onde tudo se nos apresenta fantasiado, esperançoso.

Nunca esqueceu da normalista Amália Campos, sua professora de história no curso ginasial. Uma tentação de mulher, corpo perfeito, morena de lábios carnudos, “boazuda” toda, dos pés à cabeça, pra ninguém botar defeito. Apaixonou-se por ela. Um amor proibido, individual, secreto, louco, só ele sabia. Portanto, não tinha razão de ser correspondido. Mesmo assim, valeu. Uma paixão que vigorou ardente, fazendo pulsar mais forte o seu coração jovem de 14 anos.

Nunca esqueceu das centenas de vezes que se masturbou ardentemente com volúpia, pensando na professora, só nela, fielmente, dois anos seguidos, porque não queria traí-la, nem mesmo tentado pela sensacional Brenda, a coleguinha que tinha o hábito de sentar-se sem compostura, mostrando para ele, propositalmente, as partes acima do joelho até a calcinha, tudo tentador, pela alvura das cochas ajustadas.

A primeira namorada apareceu juntamente com o primeiro fio de barba, já falando grosso. Ficou orgulhoso de sua aparência máscula, de tipo cobiçado de homem. A garota Chamava-se Nilza Lima, menina estudiosa, inteligente, cujos pais lhe educaram nos rígidos conceitos de moral da época. A primeira vez que se beijaram na boca foi escondido, num canto de parede. Beijo rápido, casto demais. Não pôde enlaçá-la, apertando-a contra seu corpo, porque foi empurrado para traz, numa reprimenda autoritária de que dessa maneira não podia.

Mulher mesmo, conforme o termo da época, só conheceu aos 22 anos. Uma negra filha da lavadeira de seus pais. Como era a primeira vez, desconfortável, sobre uma esteira de fibra de bananeira, e ao relento, acha que não decepcionou. Ela lhe achou o máximo, improvisador, porque usou como travesseiro uma mão de pilão. Só não foi melhor porque praticou o coito interrompido, para evitar gravidez, pela falta de camisinha, que naquela época quase não existia.

Em outras seqüências sexuais, aproveitou melhor, com Isaura, em Teresina; Antonia, em Maceió; Marta, em Recife; Silvia, em Aracajú; Gertrude, São Luís; e Sofia, em Belém. Ele mesmo confeccionou alguns preservativos à base de câmara de ar de bicicleta, lavável, dando certo, podendo usá-los na maior das tranqüilidades, depois de esterilizada em água fervente, sem medo, sem receio de emprenhar a parceira. Naquele tempo, desonrar e embuchar moça, embora experiente, corria o risco de se casar na marra.

Chegou o período de entrar na universidade. Bom demais, quando começa a se vê a necessidade de se ter profissão definida e enfrentar o mercado de trabalho para garantir a segurança do futuro.

Casou-se depois de formado com uma colega bióloga. Trabalharam juntos, procurando garantir uma vida equilibrada. Tiveram dois filhos, inteligentes, estudiosos, que estudaram, se formaram e são médicos cardiologistas.

Nasceram os netos, uma alegria a mais para vovós aposentados. E o tempo foi passando, sempre acompanhado de bons momentos. Viveu feliz por quarenta anos, até que ficou viúvo. Foi um golpe violento.

Sozinho, amargurado, procurou novos rumos para a vida. Como não tinha mais nada para fazer, estava tranqüilo, garantido por uma gorda aposentadoria. Não quer ficar ocioso, sem obrigação, portanto, passa o dia escrevendo suas memórias, estando nos últimos capítulos dedicado à normalista Amália Campos, sua sensual professora de história, que ainda lhe causa reações da libido, e ele solitário tenta repetir os feitos de l5 e l6 anos, sem, contudo, conseguir, dado o tremelique das mãos atacadas de Mal de Parkson. Nessa situação, fica esperando a morte chegar, afirmando ele, que vai demorar, porque é osso duro de roer.

Pedro Cláudio de Moura Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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