CRÔNICAS DO PC
Desde quando começou a entender os problemas da vida, o hoje próspero empresário brasileiro, filho de mãe inglesa e pai turco, nome de difícil pronúncia Mecdet Steinbeck Tayyip, trabalhou bastante para sustentar o quinhão que recebeu de herança, após a morte trágica dos pais em atentado terrorista verificado no Curdistão iraquiano, durante a Guerra do Golfo (1991). Nunca esqueceu o desespero que ficou ao saber da triste notícia.
Acabara de completar 21 anos e, como filho único, teve de assumir as responsabilidades de dirigir os negócios do pai, que vão desde indústria têxtil à exploração hoteleira em algumas cidades praianas do Rio de Janeiro.
Não esmoreceu. Tocou o barco pra frente com coragem, mostrando interesse e capacidade de trabalho. Progrediu, tornando-se um próspero homem de negócio, sempre aumentando o patrimônio a cada dia que passava. Sua maior felicidade foi casar-se e encontrar na companheira a mulher ideal, que lhe ajudou ir pra frente, inclusive lhe dando um único filho, de nome Zoroastro, homenageando o grande guia religioso, que viveu de 660 a 538 AC. Botou fé no rebento, educando-o com todos os cuidados, na esperança de vê-lo na melhor.
Zoroastro demonstrou ser inteligente, aplicado nos estudos, entrando para a universidade aos 17 anos, primeiro fazendo o curso de Direito. Depois de formado, não quis trabalhar na área. Estranhamente, voltou a estudar numa escola de modas, conseguindo diploma de estilista e passando a trabalhar junto com costureiros famosos, inclusive um muito conhecido, eleito nas últimas eleições de primeiro de outubro, deputado federal pelo Estado de São Paulo, com mais de 500 mil votos.
O filho único do empresário Mecdet Esteinbsck Tayyip, que com todo orgulho o tinha como pessoa normal, até acreditando ser o “menino” daqueles machos quedados apenas às mulheres, sem outra tendência, enganou-se redondamente, tendo uma lamentável surpresa no último domingo de um mês de julho, quando, sem bater na porta e avisar, entrou no quarto de Zoroastro para cumprimentá-lo. Ficou de braços estendidos, estático. Não quis acreditar no que viu. Não era possível! Não podia ser! Espalhadas pelo sofá, cama, piso, estavam várias peças de roupas femininas, e na penteadeira, estojo completo de maquiagem, própria para mulher. Em pé, se olhando no espelho, postava-se Zoroastro, vestido de calcinha, usando soutien, penteando uma longa peruca loura, e calçado de colorido par de sapatos bem alto, de bico fino.
Mecdet ficou espantado, e sem se conter gritou:
- O que significa tudo isso, meu filho?
Zoroatro colocou as mãos na cintura, arregalou os olhos, deu dois passos para frente, se requebrando todo, e na maior simplicidade explicou, cheio de trejeitos “boiolas”:
- Pai, estou me produzindo; sou convidada para uma festa de aniversário de uma amiga.
- Meu filho é... é ...é...
E fez uma rodinha nos dedos, querendo dizer...
- Sim pai, sou gay.
- Meu Deus! Estou surpreso! Que futuro terei? Será o fim de minha descendência.
Zoroastro olhou para o pai com visão compadecida, colocou as mãos na cintura novamente, sorriu, caminhando à frente, rebolando as cadeiras, suspirou bem fundo e falou com aquele ar de pessoa esperançosa: - Quem sabe, pai, se não sou extremamente fértil e um dia engravido...?!
O senhor Mecdet baixou a cabeça, não disse mais nada. Jamais gostou de frescuras, seja de quem fosse.
Daí em diante, nunca mais foi o mesmo. Aceitou de maneira compreensiva a situação de Zoroastro, apenas lamentando não ter outros filhos que lhes dessem netinhos para alegrar sua vida. E sempre se lembrava de uma frase dita por um ator de televisão num programa humorístico: “Onde foi que eu errei?”.
Pedro Cláudio de Moura Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br
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