Marabá - O delegado da Polícia Federal em Marabá, Antônio Carvalho, que preside o inquérito para apurar as circunstâncias da apreensão do R$ 1,13 milhão desembarcado na tarde de terça-feira (2) no Aeroporto de Carajás, em Parauapebas, confirmou à Reportagem na noite desta quarta-feira (3) que há indícios, sim, de que a quantia poderia ser empregada em boca de urna ou mesmo corrupção eleitoral no município.
Ele acrescentou que o depoimento de Adinaldo Correa Braga, preso em companhia da esposa Rosângela Noronha Machado Braga e do piloto de avião Lucas Silva Chaparra, deixa claro que o dinheiro seria entregue a Alex Pamplona Ohana, ex-secretário municipal de Saúde de Parauapebas e atual coordenador da campanha de José das Dores Couto, o Coutinho, do Partido dos Trabalhadores (PT).
O delegado explicou que os três detidos chegaram à Delegacia da Polícia Federal de Marabá em companhia do juiz eleitoral Líbio Araujo Moura e de autoridades policiais do município depois de o magistrado receber a denúncia de que o casal e o piloto desembarcariam no aeroporto em posse de R$ 4 milhões que seriam utilizados em crimes eleitorais.
“O juiz me contou que, enquanto estava aguardando a aeronave descer no aeroporto, pôde ver o Alex [Ohana]. Quando esse Alex o viu acompanhado da Polícia Civil e da Polícia Militar, saiu do aeroporto como se estivesse tentando fugir de alguma responsabilidade”, comentou o delegado.
A autoridade policial federal acrescentou que, quando os três desceram da aeronave, e o juiz Líbio fez a abordagem, cada um estava com uma mochila nas costas. Assim que abriram as mochilas, verificou-se que cada um tinha grande quantidade de dinheiro. O juiz, então, questionou para que seria o montante, e o piloto informou apenas que era contratado da empresa White Tratores, a quem também pertence o avião.
Já Adinaldo, responsável pelo transporte do dinheiro, segundo a PF, falou que estava prestando serviço a um primo dele, identificado apenas como Keniston. “Aí o juiz perguntou qual o destino do dinheiro, e ele [Adinaldo] informou que estava fazendo o translado e que deveria entregá-lo a Alex”, contou o delegado Antônio Carvalho.
Os três receberam voz de prisão em flagrante do juiz, mas, segundo o delegado, nesse caso ainda não havia sido cometido crime. “Não é crime transportar dinheiro dentro do país, não importa qual a quantidade. Podemos até vislumbrar algum crime financeiro, como lavagem de dinheiro, mas são apenas indícios”. Por esse motivo, os três foram ouvidos e liberados.
DEPOIMENTO
O delegado federal Antônio Carvalho narrou algumas coisas do que Adinaldo contou durante o depoimento que prestou à Polícia Federal. “A história que me foi contada pelo Adinaldo nos leva a crer que há veementes indícios de que crimes eleitorais realmente poderiam ocorrer, tal como boca de urna e corrupção eleitoral”. Ainda em depoimento, o interrogado informou que foi procurado em Belém no domingo (30) pelo primo dele, o Keniston, que é ex ou atual funcionário da Secretaria de Saúde de Parauapebas.
Ele, segundo a autoridade, teria pedido que Adinaldo fosse a uma agência do Banpará em Belém. Os dois teriam se encontrado na agência, e Braga vira quando Keniston sacou R$ 400 mil em espécie. O dinheiro foi colocado num carro, e Adinaldo deixou tanto a quantia quanto o primo na casa em que este estava. “A pergunta é: por que motivo esse funcionário público iria transportar mais de R$ 1 milhão de Belém a Parauapebas?”, questionou o delegado.
Ainda segundo o delegado, na segunda-feira (1º), Keniston ligou para o primo e pediu para ele fazer o voo até Parauapebas. “O Adinaldo pergunta por que, e ele [Kerniston] diz que está com receio de ser preso. O Adinaldo concorda e, terça pela manhã, vai até o aeroclube de Belém, levado pela esposa, para embarcar até Parauapebas”. No aeroclube, Keniston teria entregado ao primo uma mochila contendo os R$ 400 mil e duas outras contendo mais dinheiro.
Foi nesse momento que Adinaldo perguntou se poderia levar também a esposa, Rosângela, e os dois embarcam com o piloto Lucas rumo a Parauapebas. Durante o voo, quando o avião estava quase pousando, chegou uma mensagem no celular do Adinaldo dizendo: “Pousa em Marabá”, o que, para o delegado, dá a entender que alguém que estava no aeroporto já tinha visualizado o juiz e pretendia despistá-lo. “Ele não se deu conta da mensagem e aterrissou”.
O delegado, que esteve com sua equipe em Parauapebas nesta quarta, afirmou que foi até o aeroporto, onde vigilantes e funcionários da Infraero confirmaram que Alex estava, sim, por lá. “Disseram que, quando ele viu o juiz, ele 'vazou', na linguagem usual”.
Ainda na delegacia em Marabá, conforme a autoridade, Adinaldo contou à polícia que, quando desceu em Parauapebas, havia uma pessoa na área interna do aeroporto que falou o seguinte: "Você é o Adinaldo? Eu vim a mando do Alex. Eu tô aqui para receber o dinheiro". Adinaldo, então, teria questionado a razão de o próprio Alex não estar no aeroporto aguardando, e o homem respondera apenas que ele havia saído devido a um compromisso. (Luciana Marschall, do Jornal Correio do Tocantins)
Nenhum comentário:
Postar um comentário