quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Morte lenta para os bahá'ís do Irã

Tradução de excertos de um artigo publicado na revista Time

Na maioria dos países do mundo, os crentes da Fé Bahá’í são vistos como cidadãos-modelo. A sua religião coloca grande ênfase na dedicação, paz e obediência à lei. No Irã, no entanto, os bahá'ís não são apenas indesejáveis, mas ativamente perseguidos. Desde que o Ayatollah Ruhollah Khomeini chegou ao poder, em 1979, 300 mil bahá'ís do Irã vivem sob um reinado de terror na terra onde nasceu a sua fé. No mais recente de muitos protestos, o relatório anual do Departamento de Estado sobre Direitos Humanos afirmou na semana passada que os crentes "sofrem de prisão, tortura e execução" nas mãos do governo.

Desde 1979, pelo menos 150 fiéis foram condenados à morte. Embora as acusações oficiais normalmente incluam "espionagem" ou "traição", os bahá'ís dizem que o motivo real é a intolerância oficial a uma fé que os mullahs xiitas do Irã consideram blasfema. Estima-se que 550 bahá'ís estejam na prisão. Milhares de pessoas perderam suas casas e bens, e multidões profanaram centros bahá'ís, cemitérios e o mais sagrado santuário da fé no Irã, a Casa do Báb em Shiraz.

(...)

Em agosto do ano passado, o procurador-geral do Irã, Hojatoleslam Hossein Musavi Tabrizi, ordenou a abolição de todas as organizações bahá'ís. A comunidade, obedientemente, encerrou os seus 400 centros locais e dissolveu os conselhos administrativos nacional e locais.

Nos meses seguintes à declaração de Tabrizi, um agricultor foi linchado, uma jovem foi morta por uma multidão logo depois dar à luz, e 190 bahá'ís foram presos. Mehri Mavaddat, uma advogada iraniana refugiada que vive agora em Toronto, e cujo marido foi executado em 1981, afirma: "Os assassinatos são muito casuais. Isso é o que os torna tão horríveis. Alguns são presos e mortos. Alguns são conhecidos do governo, mas não são presos".

Os bahá'ís, que muitas vezes são convenientes bodes expiatórios, são perseguidos desde que a sua fé foi fundada em meados do século XIX, na Pérsia. Depois de um Xá tirano ter sido assassinado por um terrorista muçulmano em 1896, uma multidão atacou a comunidade bahá'í em Yazd, matando várias pessoas. Os crentes foram repetidamente torturados e mutilados por vigilantes locais nos anos seguintes. A pior explosão antes da subida de Khomeini ao poder ocorreu em 1955-56 sob o Xá.

Antigos agentes da Savak, a polícia secreta do Xá, dizem que agentes do governo provocaram uma histeria anti-bahá'í para desviar a fúria dos muçulmanos reacionários contra o Xá. Um ex-oficial Savak recorda: "Muitos clérigos muçulmanos, incluindo numerosos com altos cargos no regime de Khomeini, enriqueceram com o dinheiro Savak, que receberam para lutar contra o Bahaismo e o Comunismo". Em 1978, na agitação que precedeu a partida do Xá, 40 pessoas, bahá'ís e muçulmanos, foram mortas durante confrontos em Shiraz.

Há uma razão fundamental para esta inimizade doutrinária. O Islã proclama que Maomé foi o "Selo dos Profetas", mensageiro final de Deus para a humanidade. Mas a Fé Bahá’í... afirma que dois profetas vieram depois de Maomé. Para os muçulmanos, trata-se de uma fé nova e pervertida. O primeiro profeta foi Mirza Ali Muhammad, que declarou em 1844 que ele era o Bab (porta), o caminho para Deus. O Bab foi executado em 1850 como um herege. Quando as autoridades persas tentaram acabar com os seus discípulos, os babis ripostaram, e cerca de 20 mil foram chacinados.

Um dos babis adotou o nome de Bahá'u'lláh (Glória de Deus) e proclamou-se o Prometido, ou Messias, em 1863; os seus seguidores ficaram conhecidos como bahá'ís. Ele substituiu o zelo militante dos babis por uma rigorosa não-violência. Bahá'u'lláh passou muitos dos seus últimos anos numa prisão turca ou sob prisão domiciliar, perto da atual Haifa, Israel. Ali, os bahá'ís construíram seu túmulo e estabeleceram sua sede mundial. Esta ligação tênue com Israel inflama ainda mais as suspeitas islâmicas. (Blog Povo de Bahá)

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