Tradução de excertos de um artigo publicado na revista Time
Na maioria dos países do mundo, os crentes da Fé Bahá’í são vistos como cidadãos-modelo. A sua religião coloca grande ênfase na dedicação, paz e obediência à lei. No Irã, no entanto, os bahá'ís não são apenas indesejáveis, mas ativamente perseguidos. Desde que o Ayatollah Ruhollah Khomeini chegou ao poder, em 1979, 300 mil bahá'ís do Irã vivem sob um reinado de terror na terra onde nasceu a sua fé. No mais recente de muitos protestos, o relatório anual do Departamento de Estado sobre Direitos Humanos afirmou na semana passada que os crentes "sofrem de prisão, tortura e execução" nas mãos do governo.
Desde 1979, pelo menos 150 fiéis foram condenados à morte. Embora as acusações oficiais normalmente incluam "espionagem" ou "traição", os bahá'ís dizem que o motivo real é a intolerância oficial a uma fé que os mullahs xiitas do Irã consideram blasfema. Estima-se que 550 bahá'ís estejam na prisão. Milhares de pessoas perderam suas casas e bens, e multidões profanaram centros bahá'ís, cemitérios e o mais sagrado santuário da fé no Irã, a Casa do Báb em Shiraz.
(...)
Em agosto do ano passado, o procurador-geral do Irã, Hojatoleslam Hossein Musavi Tabrizi, ordenou a abolição de todas as organizações bahá'ís. A comunidade, obedientemente, encerrou os seus 400 centros locais e dissolveu os conselhos administrativos nacional e locais.
Nos meses seguintes à declaração de Tabrizi, um agricultor foi linchado, uma jovem foi morta por uma multidão logo depois dar à luz, e 190 bahá'ís foram presos. Mehri Mavaddat, uma advogada iraniana refugiada que vive agora em Toronto, e cujo marido foi executado em 1981, afirma: "Os assassinatos são muito casuais. Isso é o que os torna tão horríveis. Alguns são presos e mortos. Alguns são conhecidos do governo, mas não são presos".
Os bahá'ís, que muitas vezes são convenientes bodes expiatórios, são perseguidos desde que a sua fé foi fundada em meados do século XIX, na Pérsia. Depois de um Xá tirano ter sido assassinado por um terrorista muçulmano em 1896, uma multidão atacou a comunidade bahá'í em Yazd, matando várias pessoas. Os crentes foram repetidamente torturados e mutilados por vigilantes locais nos anos seguintes. A pior explosão antes da subida de Khomeini ao poder ocorreu em 1955-56 sob o Xá.
Antigos agentes da Savak, a polícia secreta do Xá, dizem que agentes do governo provocaram uma histeria anti-bahá'í para desviar a fúria dos muçulmanos reacionários contra o Xá. Um ex-oficial Savak recorda: "Muitos clérigos muçulmanos, incluindo numerosos com altos cargos no regime de Khomeini, enriqueceram com o dinheiro Savak, que receberam para lutar contra o Bahaismo e o Comunismo". Em 1978, na agitação que precedeu a partida do Xá, 40 pessoas, bahá'ís e muçulmanos, foram mortas durante confrontos em Shiraz.
Há uma razão fundamental para esta inimizade doutrinária. O Islã proclama que Maomé foi o "Selo dos Profetas", mensageiro final de Deus para a humanidade. Mas a Fé Bahá’í... afirma que dois profetas vieram depois de Maomé. Para os muçulmanos, trata-se de uma fé nova e pervertida. O primeiro profeta foi Mirza Ali Muhammad, que declarou em 1844 que ele era o Bab (porta), o caminho para Deus. O Bab foi executado em 1850 como um herege. Quando as autoridades persas tentaram acabar com os seus discípulos, os babis ripostaram, e cerca de 20 mil foram chacinados.
Um dos babis adotou o nome de Bahá'u'lláh (Glória de Deus) e proclamou-se o Prometido, ou Messias, em 1863; os seus seguidores ficaram conhecidos como bahá'ís. Ele substituiu o zelo militante dos babis por uma rigorosa não-violência. Bahá'u'lláh passou muitos dos seus últimos anos numa prisão turca ou sob prisão domiciliar, perto da atual Haifa, Israel. Ali, os bahá'ís construíram seu túmulo e estabeleceram sua sede mundial. Esta ligação tênue com Israel inflama ainda mais as suspeitas islâmicas. (Blog Povo de Bahá)
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
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