quinta-feira, 26 de março de 2009

À procura de um nome próprio

CRÔNICAS DO PC
Bartolomeu é uma pessoa que conhece quase todo o Brasil. Lutador incansável, teve de viajar muito para ganhar a vida. Andou muito, dos anos 60 a 90, percorrendo o país, dado a sua profissão de caixeiro viajante, obrigando-se a viajar por meses a fio, de estado em estado, começando no Norte, passando pelo Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, terminando sua peregrinação no Sul.

Testemunhou muitos fatos interessantes, em cidades e vilas, onde tinha clientes e vendia os produtos da empresa que representava. Trabalhou incansavelmente durante mais de 30 anos.

Hoje é um tranquilo* aposentado, além de ter negócio próprio, uma pequena indústria de confecções masculina e feminina, que lhe evita ficar ocioso. Como passatempo, gosta de lembrar-se de suas aventuras e narrar histórias que presenciou, e outras que lhe contaram no decorrer de suas idas e vindas por esse mundo afora.

Um dia, ouvi um de seus relatos e aproveitei a história para escrevê-la e ao mesmo tempo homenageá-lo, uma pessoa que sempre admirei, pelo seu trabalho e vontade de vencer. Vamos à narrativa.

Numa cidadezinha do interior nordestino, morava o funcionário público de nome Benevides e sua mulher Priscila, vivendo uma vida feliz ao lado dos quatros filhos, à espera do quinto. Não sabiam se era homem ou mulher. Naquele tempo, por falta de recursos, não se podia prever o sexo do bebê antecipadamente. Não importava.

A preocupação maior do casal não era com o sexo da criança, e sim, encontrar um nome próprio do quinto filho, ou filha. Segundo tradição de família, tinha de ser nome de vulto, histórico ou bíblico, a exemplo dos outros, Senaqueribe, Clark Gable, Marykin Monroe, Ernesto Hemingway.

Benevides e Priscila passaram a pesquisar nomes próprios que agradassem a ambos. Folhearam almanaques antigos com nomes dos santos do dia, livros de história, dicionário bíblico, descartando a maioria escolhida, por falta de concordância entre um e outro. No entanto, não pararam de procurar.

- Que tal, Jônatas? Se for do sexo masculino? Indagou a mulher, coçando a barriga grávida.

- Deixe-me olhar quem ele foi, disse Benevides, abrindo um livro de pesquisa. E continuou: Está aqui. Filho de Saul e amigo íntimo do rei Davi. Ele, acompanhado com seu escudeiro, derrotou todo o exército de filisteus. Morreu na batalha Gelboé, com o pai e irmãos.

Benevides não gostou das ações guerreiras de Jônatas, e disse para a mulher ter visto em uma revista um nome melhor, interessante, que lhe chamou a atenção, Lucius Antonius Rufffus Apius, um italiano que exerceu altas funções na antiga cidade de Roma. Encontraram a seguinte história sobre o vulto: ele foi pretor, que significava servidor da justiça, com investidura de juiz. O excelentíssimo, embora desempenhando alta função, era “carga torta”, desonesto, venal, ficando detestado pelo povo, dado suas ações malfazejas.

Em todos seus despachos e sentenças, o magistrado assinava usando a abreviatura L.A.R.APIUS, inspirando à população de sua jurisdição a ser chamado de “larápio” todos os ratoneiros que procediam igual a ele. Por esse motivo, o casal nem falou mais no nome italiano. Para eles não tinha procedência honrosa.

Até que um dia, Benevides teve uma repentina inspiração do nome do filho que ia nascer. E começou a gritar. “Achei, mulher”! Achei! Finalmente achei como o nosso filho vai ser registrado.

A mulher correu para perto de Benevides, na expectativa de saber da novidade do nome próprio.
- Será Cícero Romão Batista, em homenagem a meu padim padre Cícero de Juazeiro.

- E se for mulher? Indagou Priscila.

- Chamar-se-á Marinês, uma autêntica rainha do forró nordestino.

Nada mais justo, concordou o casal, já que Benevides é cearense de Juazeiro do Norte.

Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

* Acordo ortográfico

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