Nas religiões, o uso ritual da água segue um ritmo de envolvimento crescente: vai desde a simples aspersão até a total imersão. Outro ritmo a considerar é o da interioridade, que vai da sensibilidade exterior àquela interior, com a ingestão de águas sagradas ou abençoadas. Gestos culturais desse tipo são notórios.
Para se livrar do ciclo de reencarnações, os hindus mergulham no Ganges, Yamuna e Godavàri, considerados rios sagrados.
Os judeus purificam-se pela mikvá, banho ritual. Os muçulmanos lavam os pés, os braços e o rosto antes da oração. Nos templos subterrâneos dedicados a Mithra havia uma pia para a iniciação. Na Gália céltica centenas de lagoas e fontes eram consideradas miraculosas: beber a sua água assegurava saúde, fertilidade e boa-sorte.
Quando João Baptista voltou do deserto anunciando o tempo messiânico, usou o banho (baptismo) como sinal público de conversão (cf. Mc 1,4-5). Jesus de Nazaré ordenou este rito quando enviou seus apóstolos a pregarem a boa-notícia do Reino de Deus (cf. Mt 28,19).
No nosso inconsciente, a imersão equivale, no plano humano, à morte; e no plano cósmico, à catástrofe (o dilúvio) que dissolve periodicamente o mundo no oceano primordial.
Desintegrando toda forma e abolindo toda a história, as águas possuem esta virtude de purificação, regeneração e nascimento; porque aquilo que é mergulhado nela “morre” e, erguendo-se das águas, é semelhante a uma criança sem pecados e sem história, capaz de receber uma nova revelação e de começar uma nova vida “limpa”.
O simbolismo das águas é o produto da intuição do cosmos como unidade e do ser humano como um modo específico de existência, que se realiza através da “história”.
Para os cristãos, o Messias Jesus está no centro da história, tornada por ele mesmo uma história de salvação. Mergulhar nas águas baptismais é mergulhar no mistério de Cristo: a pessoa morrendo para a iniqüidade e ressurge redimida. É, agora, uma nova criatura (cf. Rm 6,3-5). Esta teologia regenerativa é solenemente proclamada no baptismo.
Rituais que no ponto de vista Bahá'í não se ajustam no tempo contemporâneo, como o do baptismo, mas as ablações antes das orações obrigatórias se mantêm. (João Moutinho, de Lisboa, no blog A Paz Universal)
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
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