quarta-feira, 6 de maio de 2009

Entrevista de pistoleiro em revista nacional repercute em Parauapebas

Repercute em Parauapebas entrevista concedida à revista Época por um pistoleiro que revela ter matado 16 pessoas e avisa que duas mulheres deste município estariam marcadas para morrer, que são a ex-secretária municipal de Produção Rural (Sempror), Carmelita Félix da Silva, e a agricultora Ednalva Rodrigues Araújo, do assentamento Estrela Dalva.


Carmelita Félix da Silva


Ednalva Rodrigues Araújo

Acompanhe abaixo trecho da entrevista:

Época ‑ Como começou a matar?

PistoleiroLevei um tiro no garimpo. Persegui o cara. Quando viu que eu ia atirar, ele botou o filho na frente. Acertei na cabeça do menino. Ele correu. Continuei atrás e matei aquele pai covarde. Isso foi em 1986. Virei matador de aluguel e fui trabalhar de guaxeba nas fazendas.

Época ‑ O que é guaxeba?

PistoleiroÉ a polícia dos fazendeiros.

Época ‑ Para quais fazendeiros trabalhou?

PistoleiroTrabalhei na fazenda Tigre (hoje em processo de desocupação pelo Incra), para o Maneca (preso como mandante da morte de Brasília - sindicalista) e para o Fiorindo Minosso. O resto foi particular.

Época ‑ Como é particular?

PistoleiroCinquenta gramas de ouro por cabeça.

Época ‑ Os fazendeiros pagam por morte?

PistoleiroPor mês. Uma humilhação. Me pagavam R$ 800.

Época ‑ Como é que funciona?

PistoleiroO fazendeiro passa a ordem pro chefe dos guaxebas e ele passa pra gente. A gente fica de olho para não invadirem as terras. Se aparecer na picada, é pra atirar e esconder o corpo. A gente pede aumento, mas eles não dão. É só aquele valor no fim do mês, tanto faz matar como não matar.

Época ‑ E o que você faz com os corpos?

PistoleiroEu carregava pro mato e enterrava. Quando tinha rio grande, jogava dentro. Em Matupá (MT), enterrei um atrás do cemitério. Outros, joguei debaixo da ponte do rio Peixoto. Enterrei uns na frente da sede do Panquinha, em Castelo, mas esses a Polícia Federal já achou. Numa estradinha que vai pra fazenda de um rapaz por nome Toninho tem mais quatro corpos no mato de umas pessoas que queriam a terra do Maneca. Os dois do Minosso foi o chefe dos guaxebas dele, Hamilton, que consumiu. Não sei onde tão.

Época ‑ E os da Tigre?

PistoleiroEles estavam no movimento dos sem-terra. Foram seu Antônio e outro que tinha apelido “Rabo de Couro”. Gostava de usar aqueles chapeuzinhos porque veio do Ceará. Mas esse foi por acaso. A espingarda estava destravada e quando eu pulei da caminhonete disparou. Era só para tirar ele de lá, mas o chumbo pegou na garganta.

Época ‑ Quantos trabalhadores você matou porque queriam fazer acerto?

PistoleiroQuatro.

Época ‑ O que você sentia quando matava?

PistoleiroNaquele momento era brincadeira. Não tinha remorso de nada. Tem quem nunca fez mal pra nós, mas o sangue da gente não combina. Esse tipo não precisa nem um preço muito alto pra fazer. Mas tem gente que o sangue combina, chega na hora de disparar a arma e dá um remorso. Mas depois passa. É só pegar o dinheiro e ir pros bar tomar cerveja e pronto. Só a criança é que eu lembro até hoje.

Época ‑ Você fazia alguma marca?

PistoleiroSó virava de peito pra cima e pulava duas vezes o corpo antes de ir embora. Superstição da gente pra não ser pego.

Época ‑ Já foi pego?

PistoleiroGraças a Deus, só uma vez. Fui condenado há 16 anos, mas vendi tudo o que tinha, paguei R$ 72 mil pro advogado e pro juiz e saí. Estou na condicional.

Época ‑ Os pistoleiros de Castelo estão sendo eliminados. O que você vai fazer?

PistoleiroVou embora, mas não posso falar nem pra onde e nem quando. Minha história por aqui acaba. Não sei se tem continuação.

Observação
Na verdade, não foi o pistoleiro que disse que as senhoras de Parauapebas estavam marcadas para morrer, e sim a reportagem da revista. Ela cita várias pessoas marcadas para morrer no Estado do Pará, entre elas, D. Carmelita e Ednalva.

2 comentários:

Zé Dudu disse...

Caro Waldir,

Na verdade não foi o pistoleiro que disse que as senhoras de Parauapebas estavam marcadas para morrer e sim a reportagem da revista. Ela cita várias pessoas marcadas para morrer no Estado do Pará e entre elas, D. Carmelita Ednalva.

Zé Dudu disse...

A lista da CPT divulgada no fim do ano passado no sítio da Revista Forum incluía, também de Parauapebas, o professor Luiz Vieira Rodrigues, conforme página do sítio na época (Novembro): http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/EdicaoNoticiaIntegra.asp?id_artigo=5460