Washington
Araujo – Perguntar se os jornais e outros meios de informação impressos estão
com os dias contados ante a onipresença dos meios virtuais – web, internet –
virou lugar-comum. E não falta quem se disponha a marcar uma data: os jornais
estão em processo de desaparecimento acelerado, coisa de mais 5 a 10 anos, e
não passa disso. Outros, mais cautelosos e traindo certa espécie de nostalgia,
contra-argumentam que não, afirmando que os impressos não desaparecerão, assim
como o surgimento do telegrama não promoveu o enterro da carta e nem o advento
da televisão decretou o fim do cinema.
Mas é fato que
existem motivos reais, e não imaginários, para se preocupar com a continuidade
dos meios impressos, ao menos como estes se apresentam hoje em dia. E o debate
não pode se distanciar de seu centro irradiador: a circulação da informação.
Não faz muito
tempo, era comum se utilizar a expressão “meio circulante” para designar
dinheiro, moeda, meio de pagamento. Ainda podemos assim definir aquele “papel
com valor monetário de face”, mas o que realmente passou a ser meio circulante
é a informação. A informação correta transforma-se em moeda sonante em qualquer
dia movimentado na bolsa de valores. A informação antecipada para alguns poucos
privilegiados antes que seja de domínio público pode favorecer a duplicação de
riqueza de quem saiba fazer seu melhor uso ou, simplesmente, decretar o estado
de falência de quem não lhe dedicar a devida importância. A informação é tão
valiosa quanto confiável for a sua fonte.
Palavra e ação
Da descoberta de
uma nova fronteira para exploração de petróleo até a aquisição de uma pequena
cadeia de lojas varejistas por algum conglomerado financeiro, tudo isso pode
resultar em ganhos presentes e, mais, ganhos a serem amealhados nos futuro.
Novamente, o valor da informação encontra-se na confiabilidade de quem a
transmite e se a transmite adornada pela veracidade, fidedignidade. Com os
meios de comunicação – sejam impressos ou outros quaisquer – acontece o mesmo.
O que se pede de
informação hoje? Antes de tudo, que seja confiável. Muita informação que
recebemos não é confiável e às vezes, inclusive, falsa. E não é confiável por
razões como a de buscar influir no processo político de uma cidade, de um ente
federado ou do país; favorecer interesses comerciais que lhe garantam
patrocínio, publicidade e outros ganhos financeiros. Uma informação não
confiável é, geralmente, filha dileta de um ato de manipulação voluntária
quando não apenas fruto de má intenção mesmo.
Como avaliar o
grau de confiabilidade de uma informação em uma época que endeusa os que
praticam espertezas, os que sempre encontram o famoso jeitinho brasileiro para
contornar uma ou outra lei, em um tempo marcado por tão extensa crise de
valores? Um canal de televisão – ou uma emissora de rádio – no momento mesmo em
que difunde uma informação dificilmente tem condições de afirmar que a
informação é verdadeira. Porque há muita subjetividade envolvida, a começar
pelos interesses ocultos e não expressos de suas próprias fontes.
O uso de
expressões como “de acordo com as fontes consultadas…” ou o muito batido “ao
que parece”, sempre levando para o condicional o que deveria ser afirmativo,
demonstra ser prática além de corriqueira, abusiva. E os jornalistas, nem
sempre de má-fé, privilegiam mais a velocidade da transmissão da notícia do que
a veracidade desta. Estão conscientes de que a captação da audiência depende da
rapidez com que a notícia é tornada pública; limitam-se a transmitir uma
informação mais rapidamente possível, porque sabem que parte da captação da
audiência depende da rapidez – e não da verificação da veracidade – com que uma
informação é difundida.
É a reedição,
infinitas vezes, da velha luta que envolve palavra e ação, intenção e gesto,
forma e conteúdo. E é a real distância entre bom jornalismo e mau jornalismo.
Paladinos do bem
comum
Estamos muito
longe de ter um jornalismo que vista as notícias com a roupagem da
confiabilidade. Porque o partidarismo político se instalou de vez nos meios de
comunicação e esses meios, longe de desejar vender apenas informações aos seus
leitores, ouvintes, telespectadores, almejam algo bem mais ambicioso: desejam
vender aos seus anunciantes o poder político.
Porque é do
poder político que nascem campanhas milionárias – sejam eleitorais, sejam publicitárias
– e é desse poder político que são criados, regulados, reformulados ou extintos
os impostos e taxas a serem cobrados dos meios produtivos, especulativos e da
população em geral; bem como é do poder político que emanam as leis que regulam
mercado de capitais e o mercado financeiro como um todo.
Por essa ótica,
sempre que um governo, seja de qualquer esfera, contrariar os interesses de
determinado grupo – político ou financeiro –, é sinal de que os meios de
comunicação logo serão acionados para lhe fazer oposição, fragilizar suas
políticas públicas por meio do ataque aos seus ministros, esgarçar sua base de
sustentação no parlamento e retirar deste a legitimidade de representar a
“opinião pública”, autoproclamando-se como paladinos da defesa do bem comum,
dos direitos da coletividade.
Alguma
semelhança com nosso velho Brasil?
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