quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O querido da mulherzinha

CRÔNICAS DO PC
Depois do almoço, curtindo a preguiça que lhe acomete quando está em casa, Nicolau apela para a boa vontade da mulher Deuzina, que carinhosamente lhe coloca nos fundos de uma rede e lhe balança pra lá e pra cá, cantando uma canção de ninar.

Dorme neném,
Que a cuca vai chegar
Papai foi pra roça
E mamãe foi trabalhar.

Não demora e Nicolau ronca, adormecido, satisfeito por receber os carinhos da mulher.

Nicolau e Deuzina formam um casal muito feliz que dá gosto de se vê. Só lamentam não ter filhos, o que lhes deixam frustrados, pois uma danada de uma caxumba acometeu o pobre vivente Nicolau quando era adolescente. Suas estripulias durante a convalescença, de correr e pular, lhe causaram uma orquite (doença inflamatória dos testículos), não adiantando remédios, rezas de benzedor, fantasias, nem mesmo aquela de urrar feito boi na porteira de um curral. O certo é que a doença deixou Nicolau estéreo, canal deferente danificado, impossibilitando-o da reprodução.

Para o casamento não ficar tão monótono, resolveram adotar um filho. Um, não, dois, um menino e uma menina. Enquanto a adoção não acontece, Nicolau aproveita para ser marido e cria. Deuzina não se importa e nem reclama. Acha legal ninar o maridinho do jeito que ele gosta. Dá-lhe banho, ensaboando-o dos pés à cabeça; corta as unhas, tira a barba, penteia os cabelos, calça-lhe as meias, sapatos, veste-lhe as calças, camisa e cueca. Aprecia dar-lhe comida na boquinha. Para ficar mais original a coisa, na sobremesa do jantar dá papinha bem docinha de aveia, maisena e de farinha de araruta. Só não gosta quando ele regurgita, melando a cara e sujando o babador.

Não é mentira, não. Nicolau e Deuzina moram entre nós. Foram bem sucedidos. São funcionários de carreira de um ministério, e lotados em nossa cidade.

Nicolau, que já aprendeu todas as manhas proporcionadas pela mulher, fica paradinho, de pé, acocorado, sentado, deitado, enquanto Deuzina tudo faz com a finalidade de agradá-lo, inclusive usa um espanador de penas de ema para fazer cócegas em várias partes do seu corpo, incluindo entre as pernas, fazendo-o soltar escandalosas gargalhadas, e ficando naquela base de estímulos concupiscentes.

É claro, aproveitam à onda, de vez em quando colocando em dia a escrita, Nicolau reconhecendo que sua “caneta” está quase esgotada de tinta.

Deuzina é uma esposa dedicada em todos os sentidos, amorosa, carinhosa, mulher e tanto, capaz de tudo fazer para satisfazer o marido. Só tem um pormenor: liberdade Nicolau não tem. Não permite que ele dê uma voltinha sem a sua companhia. Não pode nem mesmo tomar uma cerveja no requintado bar da esquina, o High Fidelits, lugar freqüentado por cada tipo de mulher de causar arrepios em viventes masculinos iguais a mim e a você, apreciadores incontestes dos perfeitos corpos femininos, inegavelmente uma das maravilhas existentes nesse mundão de meu Deus.

Nicolau me disse amar muito Deuzina. E segue as determinações exigidas por ela. Pra que sair da linha? Em lugar nenhum ele encontrará outra mulher igual a Deuzina. Nem aqui nem na China.

Pedro Cláudio de Moura Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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