Rodolfo Oliveira
Quando o paraense pensa em um fruto que é a cara do
Pará, geralmente a imagem do açaí, do cupuaçu, do bacuri - entre outros - é a
primeira que vem à mente. Mas outro fruto, tão antigo quanto a própria floresta
amazônica e enraizado na história do Pará, está ganhando cada vez mais
destaque: o cacau.
Só este ano está prevista a produção de 115 a 120
mil toneladas de amêndoas, ultrapassando, pela primeira vez, a produção da
Bahia, considerada até o momento a maior produtora do país. E junto com o
aumento da produção vem o aumento dos investimentos na jovem indústria de
chocolate paraense, que está conquistando ano a ano o paladar e a preferência
do mercado externo.
Para Hidelgardo Nunes, responsável pela Secretaria
de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e de Pesca (Sedap), o crescimento já
é um sinal da futura liderança do Pará no mercado de exportação de amêndoas.
“Estamos em um cenário positivo, de franca produção. O levantamento feito pela
Ceplac [Comissão Executiva da Lavoura Cacaueira] indica uma produção de 115 a
120 mil toneladas em 2016. Esse número nos colocará como o primeiro produtor
brasileiro, superando a Bahia. Este ano conseguimos este saldo positivo devido
à seca que afetou mais a Bahia do que o Pará. Porém, o nosso planejamento é que
o estado se consolide como líder produtor em no máximo cinco anos. Temos um
cacau de melhor qualidade, que está sendo cada vez mais reconhecido. Além
disso, temos o FunCacau, um fundo voltado para o desenvolvimento de diversas
práticas que beneficiem tudo o que envolve a produção de cacau no Pará”,
explica o secretário.
De acordo com a Sedap e a Ceplac, em 2014 o Pará
produziu 64 mil toneladas de amêndoas, o que representava 25% da produção de
cacau no Brasil. Em 2015 foram 150 mil e em 2016 esta produção pode alcançar
quase o dobro do registrado em 2014, o que representará 50% de toda a produção
de amêndoas no país. Enquanto isso, a Bahia não deve ultrapassar 110 mil
toneladas neste ano. Os números mostram o crescimento expressivo da produção
rumo à liderança do mercado de cacau no Brasil.
Chocolate
A maioria dos consumidores brasileiros de chocolate
talvez nunca tenha provado o produto com alto índice de pureza, ou seja, com
teor de no mínimo 35% de cacau, sem a gordura hidrogenada e outros produtos
químicos que alteram o sabor, cor e aroma.
No Pará, quatro empresas começam a marcar presença
na exportação de chocolates para países como Estados Unidos, Japão, França,
Holanda e Bélgica, além de estados como São Paulo, Minas e Rio de Janeiro.
Estes compradores procuram um produto de identidade única e alta qualidade, o
que é encontrado no cacau paraense.
O fruto colhido no estado possui um sabor intenso e
único. Suas amêndoas podem produzir mais chocolate do que as variedades
encontradas em outras regiões do país, principalmente pela influência positiva
dos diversos tipos de solos e climas encontrados na região. Além disso, as
empresas locais têm investido na altíssima qualidade do processo de produção de
seus chocolates.
O cacau está presente em quase todas as regiões do estado:
no baixo Tocantins, no sul do Pará, ao longo da Rodovia PA 279, entre os
municípios de Tucumã e São Félix do Xingu, nas ilhas, na região do Jari e,
principalmente, no município de Medicilândia, de onde sai grande parte da
produção.
César de Jesus Moraes Mendes, 53 anos, é um destes
empresários que há mais de uma década investe no chocolate do Pará. Conhecido
pelo nome e marca de chocolate “De Mendes”, César é um cientista do produto, um
chocolatier, especialista e estudioso da área, com diversas formações
acadêmicas, principalmente na área de química.
O empresário participou ativamente de pesquisas para
catalogar as variações de cacau encontradas no Pará e da implantação da
primeira fábrica de chocolate paraense, localizada em Medicilância, município que
possui a maior produção do fruto e amêndoa no Pará.
Depois de 12 anos com diversos empreendimentos
ligados ao chocolate, além de uma série de cursos para aprimorar a arte de
trabalhar com a amêndoa do cacau, César Mendes iniciou a sua mais recente
produção em Santa Bárbara, em 2013. O local é uma fábrica artesanal de pequeno
porte e ao mesmo tempo um laboratório de sabores, aromas e texturas, onde o
chocolatier faz criações que impressionam os olhos e o paladar de degustadores
do Brasil e do mundo.
“Aqui temos o cuidado de escolher quais sementes
utilizaremos e como será o processo. Cada tipo de barra e sabor tem a nossa
assinatura como resultado de uma longa pesquisa que pode ser conferida em
nossas embalagens. Temos um chocolate que é feito do cacau selvagem do Jari e
leite de búfala e outro que é feito do cacau colhido por uma associação de
mulheres de Barcarena. Todos com diferentes níveis de concentração de cacau e
outros elementos naturais. Assim, além do sabor único, de alta qualidade, nós
destacamos que o Pará é a origem destas amêndoas, que devem ser mais
valorizadas pelo mercado”, explica ó empresário.
Em sua fábrica, a linha de produção inicia ainda na
seleção das amêndoas, que são torradas, trituradas e depois transformadas no
produto base que dará origem aos diversos tipos de sabores. Os seus chocolates
já participaram de diversas feiras internacionais, onde conquistaram o paladar
e a preferência de especialistas. Hoje, mesmo com uma produção em pequena
escala, ele já exporta para outros estados e países.
Em Santa Bárbara,
outro empreendimento no ramo chocolate também chama a atenção. A fábrica
Amazônia Chocolates, do empresário Alexandre Távora, desenvolve desde 2011 um
empreendimento de maior porte, considerado de média escala de produção, de
chocolate feito com amêndoas exclusivamente orgânicas compradas do município de
Medicilândia. Com uma receita que não possui conservantes, corantes e
preservando o máximo do sabor do cacau amazônico, Alexandre produz em média 500
quilos de chocolate por mês e já tem conquistado clientes em vários estados
brasileiros. (Fonte: Diego Andrade)
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