sexta-feira, 19 de julho de 2013

Cirurgia rara é realizada com sucesso na Santa Casa, em Belém

O corpo médico da Fundação Santa Casa do Pará, em Belém, realizou uma cirurgia rara, utilizando técnicas de medicina de primeiro mundo. Foi o que informou o médico Maurício Iazi (foto), cirurgião pediátrico do hospital. O caso envolveu a menina R.N, de 6 anos de idade, oriunda de Breu Branco, município do sudeste paraense, que sofria de equinococose, doença grave causada pela ingestão de larvas de parasitas.
Segundo o pai da menina, José Carlos Nunes, R.N tinha febre todos os dias durante um ano. Sem identificar o motivo, os familiares procuraram ajuda e vieram a Belém. Em parceria com o Instituto Evandro Chagas, a Santa Casa identificou a enfermidade rara e os médicos definiram que a cirurgia deveria ser realizada, retirando 60% do fígado da paciente, numa cirurgia que durou quatro horas e meia.
Para tratar da ação danosa do parasita echinococcus, costumava-se utilizar o medicamente Bendazol. No entanto, como explicou Maurício Iazi, a recuperação da paciente seria incerta. “Então, foi preconizado o tratamento cirúrgico. Em alguns casos, a lesão é tão extensa que é necessário até o transplante de fígado. No Brasil, até hoje, foram feitos dois transplantes de fígado por equinococose, dois pacientes da região Norte, um deles aqui do Pará”, explicou o médico.
“Esta é uma doença que ainda está sendo descrita. E ela foi a paciente mais jovem até então encontrada com este tipo de doença. Normalmente, a enfermidade atinge o adulto jovem”, enfatizou o profissional de saúde.
O ineditismo da cirurgia realizada na Santa Casa é ressaltado pelo médico. “Inédito é o fato de ter uma criança tão jovem já com uma doença tão grave, já que pacientes pediátricos com doenças hepáticas graves são tratados rotineiramente na Santa Casa. Cirurgias desta extensão não eram feitas de maneira rotineira e passaram a ser feitas na Santa Casa”, ressaltou Maurício Iazi.
Após o procedimento, a criança ficou um dia na terapia intensiva e depois foi encaminhada para a internação. Nesta quinta-feira (18), ela teve alta. Como ainda está prevista uma consulta no próximo dia 25, ela e o pai estão no Espaço Acolher da Fundação Santa Casa.
“Fomos muito bem recebidos aqui na Santa Casa e está sendo tudo ótimo com a recuperação da minha filha. Mas já estamos com saudades de casa. Espero que na próxima consulta a gente fique liberado para voltar para casa”, falou José Carlos Nunes, pai da criança.
O sucesso da cirurgia se deu em virtude dos cuidados que foram tomados antes, durante e após a operação feita pelos médicos do hospital. “Usamos tecnologia de primeiro mundo, como, por exemplo, a recessão hepática, utilizando radiofrequência. Isso diminui a perda sanguínea e as complicações do pós-operatório. Resultado disso é uma cirurgia de grande porte, complexa, onde o paciente se recupera rapidamente, como é o caso desta menina”, concluiu o médico.
Ciclo da doença
O ciclo desta doença é complexo e ainda está sendo estudado pelos órgãos de saúde do estado, como a Secretaria de Saúde, Instituto Evandro Chagas e a Santa Casa. Os órgãos, em parceria com o Ministério da Saúde, criaram uma estrutura para atender pacientes de alta complexidade, como foi o caso da menina de Breu Branco.
Segundo o estudo preliminar, cidades da região da Ilha do Marajó são os locais com incidências registradas. Sabe-se que o início da doença ocorre após a ingestão de carnes de caça, principalmente de pacas (uma espécie de roedor). O hábito dos ribeirinhos de limpar a paca, pegar as vísceras do animal e usar como alimento para cachorro é um problema já identificado. A partir deste processo, o cachorro vira uma espécie de portador do verme e contamina o solo.
O parasita tem uma propensão para infectar principalmente o fígado. O pulmão pode ser outra área atingida, embora em menor escala. No caso da paciente de Breu Branco, foi feito um estudo detalhado do agente, sob responsabilidade do Instituto Evandro Chagas. O trabalho é coordenado pelo professor Manoel Soares. (Nilson Cortinhas, da Santa Casa)

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