CRÔNICAS DO PC
Quem já viveu mais de 60 anos com certeza tem passagens importantes da nossa história para contar, já que no total todos são testemunhas de muitos fatos ocorridos durante todo esses anos, e que ficaram escritos nos anais da história.
As marcas deixadas pelo tempo são inesquecíveis, porque foram fatos considerados extraordinários. É o caso do suicídio do presidente Getúlio Vargas, ocorrido em 24 de agosto de 1954. Meus pais eram admiradores do grande estadista brasileiro.
Lembro-me muito bem do rádio anunciando a notícia, através do famoso noticiário Repórter Esso, o locutor Heron Domingues dando a notícia em edição extraordinária, confirmando que o presidente Getúlio Vargas havia posto fim à própria vida, desfechando um tiro de revólver no coração.
Após a triste notícia, encontrei meus velhos abraçados dentro de um quarto, chorando. No momento, meu pai mostrou-me uma nota de l0 cruzeiros, que tinha estampada a esfinge do presidente, afirmando: “Morreu o grande protetor do povo brasileiro. A pressão dos inimigos sobre ele foi tanto que ele preferiu a morte a renunciar”.
Da igreja matriz de minha cidade de Oeiras, os quatro velhos sinos de fabricação portuguesa, completando mais de dois séculos instalados, repicavam sem parar, anunciando em notas fúnebres o falecimento de alguém, nada menos do que o presidente Getúlio Vargas. A comoção foi grande. Até eu, criança de 12 anos chorou.
Dias depois, circulava a carta testamento, assinada pelo presidente, despedindo-se da vida e do povo brasileiro. Na última linha dizendo: “Saio da vida para entrar na história”.
Anos depois, em 1958, na adolescência, meus pais me preparavam para ganhar o mundo e estudar na capital. Naquele tempo não era fácil estudar. No meu estado do Piauí, para se cursar o segundo grau completo, e ficar habilitado a prestar vestibular, obrigava-se a procurar a capital, única cidade onde tinha curso secundário completo e faculdade de ensino superior.
Algumas escolas públicas eram referências de aprendizado eficiente, onde os alunos estudavam e aprendiam à altura do curso que faziam. Tudo, no entanto, se mostrava mais difícil. Para eu e meus irmãos sair para estudar fora de nossa cidade, nossa mãe nos ensinou coisas úteis, como cozinhar, lavar e passar, para que, no futuro, se necessário, não ter dificuldade de sobrevivência. E valeu, pois tudo nos serviu para ficarmos menos dependentes, já que forçosamente tínhamos de residir, o que naquele tempo chamávamos de república.
No mês de julho de 1958 acontecia a Copa do Mundo de Futebol na Suécia. O Brasil estava lá com sua seleção canarinho, desacreditada e, pelo visto, sem esperança de ganhar o título. Só que não foi assim.
Nossos craques em campo mostraram um futebol diferente, clássico, de toque de bola, comandados pelo meia Didi e o lateral Nilton Santos, antes jogadas nunca vistas. Em combinação com um garoto de l7 anos, chamado Pelé, um outro jogador das pernas tortas de nome Garrinha, fizeram diabruras em campo, coadjuvados por mais seis companheiros, chegando à final contra os donos da casa.
No jogo decisivo, vencemos por 5 x 2 e pela primeira vez o Brasil consagrava-se campeão do mundo de futebol. Foi uma festa em todo território nacional. Na minha cidade de Oeiras, grande parte da população desfilava em passeata pelas ruas, cantando sem parar o Hino Nacional em pleno sol quente do meio dia. Improvisadamente, foi uma festa sensacional. Valeu a pena. A emoção foi tanta que muitas pessoas choravam copiosamente.
O fato iria se repetir em 1952, no Chile; 1970, no México; em 1974, nos EUA; 2002, no Japão; e Coreia do Sul, o Brasil sagrando-se pentacampeão mundial de futebol.
Dois anos depois de ganharmos pela segunda vez a Copa do Mundo de Futebol no Chile, em 1964, dia 3l de março, acontece a grande tragédia dos militares tomarem o poder através de um golpe de estado.
Começava a partir de então uma ditadura cruel, desumana e perversa, que cerceou por completo as liberdades democráticas do povo brasileiro. Foram mais de 20 anos de pressão, tortura e assassinatos de muitos inocentes.
Vale lembrar o que aconteceu aqui entre nós na Guerrilha do Araguaia. O massacre de 58 chamados “guerrilheiros” de maneira mais covarde e cruel que pode existir.
Comandando as ações de extermínio estava o então major e hoje coronel reformado do Exército Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, ex-prefeito cassado de Curionópolis. A história está lhe julgando como um verdadeiro carrasco, responsável pela tortura e morte de muitos guerrilheiros.
Como a história não pára de correr, outros fatos serão mostrados em outra oportunidade, como a redemocratização do país e a liberdade democrática que o povo brasileiro vive.
Pedro Cláudio M.Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
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