Elisa Soares – A um mês de concluir um grande estudo
sobre as áreas potenciais de desenvolvimento do setor químico no Brasil, o
consórcio formado pelas empresas Bain & Company e Gas Energy adiantou ao
Valor que estima um potencial de investimentos de até US$ 19 bilhões em
defensivos agrícolas até 2030.
O estudo foi encomendado pelo BNDES e está sendo
discutido no âmbito do plano Brasil Maior, do governo federal.
Do total, cerca de US$ 13 bilhões poderiam ser
aplicados na construção de oito a treze novas fábricas para a produção de
princípios ativos e outros US$ 6 bilhões serviriam para a ampliação da oferta
de produtos formulados.
Com esse reforço de peso, o país poderia se
transformar até em exportador de agrotóxicos. Atualmente, 56% da demanda
doméstica é coberta por importações. Assim, o impacto na balança comercial
poderia chegar a US$ 23 bilhões até 2030. O Brasil representa 20% do mercado
global de defensivos e importa cerca de US$ 5,4 bilhões por ano.
Após análise, o consócio identificou oportunidades
de fortalecer e expandir o elo produtivo de formulação, reconstruir o elo
produtivo de síntese e investir em produtos genéricos e patenteados, conforme
Rodrigo Más, sócio da Bain, responsável pelo estudo.
Também há oportunidades de investimentos na área de
óleos químicos, que incluem um polo oleoquímico à base de cana, soja e sebo na
região Sudeste e unidades de produção no Estado do Pará à base de palma e
palmiste.
Nessa frente, os aportes potenciais vão de US$ 600
milhões a US$ 1,2 bilhão, contando uma refinaria no Norte do país. Até 2030, o
impacto de uma expansão como essa na balança comercial brasileira poderia
chegar a US$ 1,7 bilhão.
De 2008 para cá, as importações nacionais de óleos
químicos têm aumentado cerca de 7% ao ano. Tais produtos são básicos nos
segmentos de limpeza, cosméticos e exploração e produção de óleo e gás.
Conforme o consórcio, também há oportunidades de
investimentos de US$ 2,1 bilhões em derivados de celulose, sempre até 2030,
destinados, sobretudo, para a construção de uma cadeia de acetato competitiva
para a exportação. O valor também engloba a produção de éteres de celulose
destinados ao mercado interno e o desenvolvimento da cadeia de fibras de
viscose. O impacto na balança poderia ser de US$ 1,5 bilhão.
Outra cadeia promissora é a de cosméticos. O país
tem o terceiro maior mercado do mundo nessa área, equivalente a 10% do consumo
global, e cresce, desde 2008, a um ritmo médio de 12,4% ao ano. A produção
local atende a quase toda a demanda doméstica – apenas 2% dela é atendida por
importações –, mas há potencial de exportação, principalmente para a América
Latina.
Segundo o consórcio, há oportunidades de
investimentos na produção de desodorante aerossol e no desenvolvimento de
produtos inovadores que aproveitem a biodiversidade local. O potencial de
aportes chega a US$ 1,3 bilhão. O impacto na balança pode atingir US$ 1,5
bilhão.
Como a indústria química é globalizada e as grandes
empresas normalmente podem escolher onde vão investir, a última parte do estudo
definirá quais os estímulos necessários para atrair novos projetos.
Até agora, segundo Rodrigo Más, a receptividade do
estudo tem sido boa tanto por parte do governo quanto das empresas. Estão sendo
elaboradas medidas de longo prazo que tragam sustentabilidade ao setor químico.
"O que existe, muitas vezes, são ações de
caráter provisório, como a isenção de PIS/Cofins para a matéria-prima
petroquímica. Até ajuda na redução de custo, mas [a isenção] tem prazo de
validade", declara.
Para o segmento de defensivos, a ajuda deve ir além
dos incentivos fiscais. "Tem uma série de produtos na pauta de aprovação
do governo para serem vendidos no país, e o processo de aprovação, se é moroso,
afeta a decisão do investidor", disse Rodrigo Más. E as medidas também
devem exigir contrapartida do empresário.
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