Acompanhe
entrevista concedida ao repórter Lima Rodrigues
“Não foi uma surpresa porque eu já vinha
acompanhando a desvalorização das ações da Colossus na Bolsa de Valores. Era
previsível que se chegasse a esse ponto. Todo processo que inicia errado não
chega até o fim, e assim foi a parceria entre Coomigasp e Colossus”.
A declaração foi feita pelo interventor da
Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), Alexandre
Mendes, ao comentar sobre a recente demissão de 400 funcionários da empresa
canadense Colossus, que vinha explorando a mina de Serra Pelada no município de
Curionópolis.
Ele fez também uma avaliação que considera positiva
sobre sua administração até agora à frente da cooperativa e respondeu a outros
questionamentos de interesse dos garimpeiros e da sociedade em geral.
A intervenção ocorreu em outubro do ano passado por
determinação da Justiça de Curionópolis, a pedido do Ministério Público do
Estado do Pará. De acordo com o MPE, o objetivo da intervenção foi para que a Coomigasp
fosse profissional e administrativamente gerida, intencionando ainda garantir a
lisura, transparência e legitimidade nas eleições internas dos seus dirigentes,
vislumbrando atingir seu objetivo precípuo, que é a distribuição dos lucros aos
seus cooperados. Confira a entrevista.
Lima
Rodrigues – Como fica a situação da Coomigasp com esta crise financeira da
Colossus e a demissão de mais de 400 funcionários da mina de Serra Pelada?
Alexandre
Mendes – Chegou o grande momento de fazermos a coisa
certa. Vamos ter a oportunidade de viabilizar o projeto de forma justa para o
garimpeiro, seja com novos investidores ou por conta própria.
LR
– Como o senhor recebeu a notícia da demissão dos funcionários da Colossus? Foi
pego de surpresa?
AM
–Não
foi uma surpresa, porque eu já vinha acompanhando a desvalorização das ações da
Colossus na Bolsa de Valores. Era previsível que se chegasse a esse ponto. Todo
processo que inicia errado não chega até o fim, e assim foi a parceria entre
Coomigasp e Colossus.
LR
– A Colossus vinha repassando normalmente o dinheiro para a manutenção e
pagamento de funcionários e fornecedores da cooperativa?
AM
– O último repasse foi feito em outubro. Desde então, não foi feito mais nenhum
pagamento na conta de consignação.
LR
– O que os garimpeiros podem esperar daqui para frente em relação à exploração
da mina de Serra Pelada? Outra empresa entrará no lugar da Colossus?
AM
– O garimpeiro pode ter a certeza que tomaremos todas as medidas cabíveis e
faremos o que estiver ao nosso alcance para conseguir a melhor alternativa de
viabilidade do projeto. Não podemos e nem queremos que todo o trabalho feito
até agora se perca. Independente da solução que vamos encontrar para este
momento, o importante é ressaltar que o garimpeiro estará envolvido em todas as
decisões relacionadas à viabilidade do projeto.
LR
– O senhor pretende convocar assembleia geral extraordinária para discutir a
situação com os garimpeiros?
AM
– Neste primeiro momento, o importante é listarmos quais alternativas temos
para o projeto, para depois discutirmos com os garimpeiros. Porque é claro que
o garimpeiro participará diretamente nas decisões.
LR
– Qual o balanço que o senhor faz de sua administração até agora?
AM
– Temos um balanço muito positivo. Já iniciamos a auditoria no cartório,
fizemos levantamento do passivo da cooperativa, iniciamos auditoria financeira
e contábil, estamos com uma equipe técnica de engenheiro de minas e geólogo
atuando em Serra Pelada, estamos implantando um modelo de gestão a ser seguido
nas próximas gestões, um sistema de gestão integrado; estamos avaliando a
licitude de todas as dívidas contraídas pela cooperativa; encerramos com todas
as delegacias, centralizando as operações no escritório de Curionópolis;
implantamos um sistema online de pagamento das mensalidades; estamos analisando
todos os contratos da cooperativa, começando pelo da Colossus, que de imediato
entramos com uma ação de nulidade em função das várias irregularidades
encontradas; fizemos um plano de redução de custos da cooperativa; implantamos
ponto eletrônico para todos os funcionários; buscamos parcerias com o Governo
do Estado para atuar nas questões sociais de Serra Pelada; estamos analisando
toda documentação para iniciar o beneficiamento da montoeira; além de diversas
outras ações de melhorias.
LR
– Com esta crise da Colossus, a intervenção continua ou o senhor acha que o
Ministério Público pode se afastar do caso? Pessoalmente, o senhor pretende
continuar como interventor?
AM
– Com certeza, o Ministério Público não irá se afastar do caso logo neste
momento em que é preciso unir esforços para viabilizar de uma vez por todas o
projeto Serra Pelada. Na verdade, este é o grande momento de esquecer as
diferenças e as autoridades do nosso país promoverem um mutirão para dar ao
garimpeiro aquilo que é dele por direito. A classe garimpeira é formada de
pessoas cansadas de lutar. Houve muita injustiça ao longo desses 32 anos, muita
desigualdade. É hora de o Brasil mudar essa página de Serra Pelada e sem
dúvidas darei a minha contribuição enquanto fizer parte do processo.
LR
– O senhor não teme uma invasão de garimpeiros ao canteiro de obras de Serra
Pelada, conflito com a polícia e até mortes?
AM
– Não haverá invasão, porque o garimpeiro já percebeu que este não é o melhor
caminho. Além disso, a classe deposita confiança na intervenção para ajudar a
solucionar essa causa. Nesse momento, precisamos da união dos garimpeiros para
apresentarmos um cenário de estabilidade para o mercado e atrair possíveis
novos investidores.
LR
– Quais as providências imediatas que o senhor está tomando para resolver a
situação, já que a Colossus parece que está se afastando de vez dos
investimentos na mina?
AM
– Já acionamos o Governo do Estado, através do MP, que se mostrou disponível a
contribuir com o que for necessário para a viabilidade do projeto. Faremos o
mesmo com quem for necessário, sejam deputados estaduais, federais, ministro de
Minas e Energia e até mesmo a presidência da República, se for necessário. É
hora de esquecermos as diferenças, precisamos unir esforços para darmos a
solução digna e justa a Serra Pelada e para os garimpeiros da Coomigasp.
LR
– Qual seu apelo às autoridades brasileiras e sua mensagem aos garimpeiros
neste momento tão crítico para a Coomigasp?
AM
– Para as autoridades brasileiras, informo que não temos mais tempo a esperar.
A hora de dar a solução para Serra Pelada é agora. Vamos mostrar à classe
garimpeira a solução. Vamos mostrar para o mundo um case de sucesso. Vamos
mostrar para o mundo que o Brasil também faz justiça e que trabalha para
diminuir a desigualdade social.
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