segunda-feira, 9 de junho de 2008

Coronel Curió saiu do armário? (parte 3)

Luiz Carlos Antero

"Queriam o território todo"
Outro ex-guia do Exército, Abel Honorato de Jesus, sustenta a versão de Curió: ''Trabalhei para o Osvaldão no Garimpo de Matrinchã. Ele vendia os cristais em Araguatins e eu ficava com a metade do valor'', contaria "com exclusividade" ao jornalista Vasconcelos Quadros. Em dois depoimentos (um ao Ministério Público Federal, em 2005, e o mais recente no último dia 25 de abril aos membros da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, em São Domingos do Araguaia), "Abelinho" afirmou que ele e outros dois homens, um deles conhecido como Zé Alemão, trabalharam para Osvaldão por cerca de seis meses em 1970.

Abel seria preso dois anos depois, e, sofrendo maus tratos nas mãos dos militares, tornar-se-ia mateiro do Exército por conhecer a região e outros guerrilheiros: ''Os militares achavam que eu era compadre do Osvaldão''.

Ainda nesta versão, a preocupação da guerrilha com as riquezas minerais apareceria em outros documentos, entre eles um que conteria "o roteiro das propostas do partido para o Araguaia". O suposto documento falaria "em estimular a atividade garimpeira na região". Indicaria, nesse caso, uma referência ao Programa de 27 pontos da ULDP (União pela Liberdade e Direitos do Povo), que em seu 6º ponto pregava: "Assegurar aos garimpeiros o direito de trabalhar livremente e a regulamentação de sua atividade, impedindo que seja explorado na venda dos bens obtidos em seu trabalho". (Entre outros inúmeros endereços, a íntegra do Programa da ULDP pode ser encontrada em http://www.marxists.org/portugues/tematica/1972/misc/uldp.htm).

O coronel Curió anuncia que as informações relevantes acerca do plano de sustentação econômica da guerrilha deverão ser conhecidas no livro que publicará sua versão: ''Eles queriam o domínio do território todo'', uma área compreendida entre o Sul e Sudeste do Pará, nas bacias do Xingu, Araguaia e Tocantins — que corresponderia hoje ao imenso território que determinadas forças pretenderiam emancipar com o nome de Estado do Carajás, numa redivisão da Amazônia, em 2010. Entretanto, para quem se jacta de dispor de tantas informações, nenhuma palavra ainda foi pronunciada sobre o diário do comandante militar da guerrilha, o ex-deputado comunista Maurício Grabois, desaparecido desde a chacina ocorrida no natal de 1973.

Privataria e "segurança nacional"
O coronel Curió diz ainda que "a opção militar pela eliminação dos guerrilheiros impediu que a região do Bico do Papagaio se transformasse numa zona sob o controle da guerrilha, como fazem hoje as Forças Armadas da Colômbia (FARCS)". E, ao tratar dessa opção como assunto de segurança nacional, esse coronel conquistaria também "o papel de protagonista do processo de transferência de concessões de exploração dos recursos minerais de toda a região controlada pela Companhia Vale do Rio Doce", como ressalta também o jornalista Vasconcelos Quadros.

Ainda nesta versão, "a guerrilha estabeleceu seus destacamentos nas cercanias da Serra das Andorinhas, mas sabia do potencial mineral da região dos Carajás". Há menção a "um dos textos produzidos pelos dirigentes comunistas, apreendido com os guerrilheiros mortos", que descreveria as ''ricas jazidas da Serra Norte'' — a Serra dos Carajás — e criticava a concessão ''criminosa'' de um significativo pedaço de terra próximo a Marabá ao grupo americano Steel S/A — que, mais tarde, seria incorporado pela então estatal CVRD.

Antes do início dos combates, as concessões de lavra teriam passado por outras três empresas: a Empresa de Mineração Xingu Ltda.; a Meridional; e a Amazônia Mineração S/A (AMSA), incorporada pela CVRD (ainda estatal).

"Área pertencia a Osvaldão e Dina"
O coronel Curió e seus "bate-paus" de fato não inovam. Entre outros, o sítio http://blogdoespacoaberto.blogspot.com/2007/12/no-meio-da-guerrilha-o-tesouro.html reproduz, no dia 24/12/2007, uma matéria intitulada "No meio da guerrilha, o tesouro", veiculada pelo Jornal do Brasil, segundo a qual "líderes garimpeiros que disputam o controle do garimpo de Serra Pelada" estimulam uma nova versão acerca dos "direitos de propriedade" sobre a terra garimpada: "guerrilheiros seriam os controladores originais da área que pertence atualmente à Vale.

De acordo com a reportagem, essa revelação, "além de aumentar a lenda sobre a Guerrilha do Araguaia, joga luzes numa polêmica: militares e o comando da guerrilha sabiam que a região escondia jazidas de ferro, manganês, cristais, ouro e diamantes".

Num documento encaminhado em 2006 ao Ministério Público Federal, em Marabá, e Justiça Federal, em Brasília, visando questionar a concessão de lavra de uma área de 10 mil hectares que hoje pertence à Vale, o texto, assinado por quatro dirigentes da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), dá seu "tiro no pé": diria que "entre os antigos donos estão os dois mais famosos personagens que o PCdoB mandou para o Araguaia, Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, e Dinalva Conceição Teixeira, a Dina". (Continua)

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