Durante dois dias (16 e 17), jovens dos municípios maranhenses
de Açailândia, Arari, Itapecuru, Santa Rita e São Luís se reuniram para
discutir sobre a atividade de mineração no estado. Estavam presentes
quilombolas, filhos de pescadores e de camponeses e jovens dos centros urbanos
que têm a diversidade cultural ameaçada pelos impactos da mineração.
O objetivo do encontro foi reunir jovens de
comunidades que são atingidas pelo Complexo Logístico da Vale S.A., com a
Estrada de Ferro Carajás (EFC) e as siderúrgicas que se instalaram no Estado do
Maranhão desde a década de 1980. O evento ocorreu na escola Mamãe Elvira Pires,
localizada no quilombo Santa Rosa dos Pretos, em Itapecuru-Mirim.
Os jovens participaram de atividades teatrais, rodas
de conversas, música e socializaram os seus modos de vida e preocupações. O
encontro entre jovens de diferentes municípios do Maranhão foi importante para
que a nova geração possa discutir caminhos em comum. Trabalho, educação,
extermínio da juventude negra, saúde, consumo de drogas lícitas e ilícitas,
impactos socioambientais decorrentes da EFC e da siderurgia foram preocupações
apresentadas.
Futuros
ameaçados
A juventude maranhense demonstrou insatisfação com a
chegada de grandes empresas, como a Vale e Suzano Papel e Celulose. Um jovem do
município de Arari relatou que quando a Estação do Conhecimento, uma proposta
de ação social da Vale, se instalou na cidade, gerou expectativa entre jovens e
crianças.
“A empresa dizia que ia preparar os jovens e
crianças para as olimpíadas e fortalecer as potencialidades econômicas locais.
Alguns anos depois, o que sobrou foi uma infraestrutura de primeiro mundo
subutilizada”, relatou o jovem.
No município de Santa Rita, os jovens mencionaram
ainda a dificuldade e risco que enfrentam no caminho de casa para a escola no
período da noite. Por várias horas o trem de cargas, de concessão da empresa
Vale, fica parado no local de acesso à comunidade, onde não há viaduto e
iluminação. A escola que oferece ensino médio fica distante das comunidades, o
que obriga os estudantes da área rural a rotineiramente atravessar a ferrovia
para chegar à cidade.
“Uma das estratégias das empresas é fazer a gente
acreditar que pescar não é futuro. Futuro é trabalhar na Vale, na Suzano”, disparou
um jovem de Santa Rita, criticando a atuação das empresas.
Outros temas como migração da juventude para
trabalhar no Sul e Sudeste do país, a forma como a polícia ver o jovem e a
entrada de drogas nas comunidades foram abordados teatralmente no encontro.
Os participantes demonstraram ainda preocupação com
o ambiente em que vivem e mais uma vez a empresa Vale foi criticada. “Semana
passada, eles realizaram na nossa escola a ‘Jornada pelo Meio Ambiente’. A Vale
não tem direito de falar sobre o meio ambiente, se eles mesmo destroem”,
mencionou um jovem da comunidade Sítio do Meio, município de Santa Rita.
Os jovens moradores de Açailândia relataram os
problemas de saúde da comunidade Piquiá de Baixo, decorrente da instalação de
cinco siderúrgicas na década de 1980. Já na comunidade Santa Rosa dos Pretos, eles
reclamaram da educação precária. Estudantes do ensino médio da escola estadual Mamãe
Elvira Pires destacaram que não assistem aula durante dias seguidos ou apenas
em dias alternados por falta de professores.
De acordo com Sislene Costa, pesquisadora que
acompanha as comunidades impactadas pelo Corredor de Carajás, o evento mostrou
que a juventude está preocupada com as ameaças a seus territórios e não está
alheia às investidas dos grandes projetos de desenvolvimento.
“A juventude quer educação de qualidade, formação
profissional; quer ser mais bem vista e respeitada pela sociedade; anseia espaços
de diálogos em que possa fortalecer seu sonho e lutar por seus direitos”,
apelou Sislene Costa. (Rede Justiça nos
Trilhos / http://www.viasdefato.jor.br/)
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