Mácio Ferreira
Orientar jornalistas na cobertura de pautas que
tenham locais de crimes como cenário foi o objetivo do workshop “Cena de crime:
a importância da preservação dos vestígios de um local e a relação dos peritos
com a imprensa”, realizado pelo Centro de Perícias Científicas Renato Chaves na
tarde desta sexta-feira (18), no auditório da instituição. Vinte e sete
jornalistas participaram de palestras, uma simulação de local de crime
(demonstrando os desafios enfrentados pelos peritos) e de uma mesa de debates.
Segundo Orlando Gouvêa, diretor geral do Centro de
Perícias Científicas “Renato Chaves”, a motivação para o evento surgiu após a
constatação de dois indicadores que apontaram prejuízos ao trabalho dos peritos
criminais. O indicador “locais de crimes idôneos” contabiliza, atualmente,
apenas 15% dos casos, enquanto o indicador “locais de crimes inidôneos”
representa 85% dos locais de crimes que sofrem alguma interferência da
população ou da imprensa.
“É importante frisar que a imprensa não faz isso de
má-fé. Compreendemos o vigor com que o jornalista apura os fatos para informar
a sociedade, mas, para que os casos sejam justamente esclarecidos de maneira
exata, há maneiras corretas de proceder. Em breve iremos divulgar uma cartilha
completa com recomendações”, informou Orlando Gouvêa, acrescentando que há
interesse em realizar o workshop também para a população.
Preservar
as provas
O perito criminal Paulo Bentes destacou os passos
fundamentais que o jornalista deve seguir ao apurar um fato em local de crime.
“É importante que o repórter não invada a cena do crime, pois, sem perceber,
ele pode eliminar uma prova, fundamental para a solução de um caso. O melhor é
procurar o responsável pela condução da investigação, se identificar e trocar
informações, para que não haja nenhuma afirmação incorreta ao noticiar”,
esclareceu.
Segundo Paulo Silber Gama, diretor de Jornalismo da
Secretaria de Estado Comunicação (Secom), um dos componentes da mesa de
debates, a cartilha, auxiliará o trabalho dos jornalistas, sem atrapalhar o dos
peritos. “A informação precisa ser exata. Uma cartilha de recomendações ajuda,
pois o trabalho dos peritos é técnico e, naturalmente, isso demanda tempo,
investigação e conclusões. Não podemos nos basear em especulações, mas sim no
parecer científico do profissional”, ressaltou.
Sérgio Chêne, assessor de Comunicação da Secretaria
de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), que também participou
da mesa de debates, lembrou o caso do avião particular que caiu na mata da
Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em Belém, no último mês
de julho.
“Quando eu cheguei ao local da queda, uma quantidade
incontável de curiosos já havia invadido. Mudaram partes da fuselagem do avião
de lugar, e isso é fatal para o trabalho dos peritos. Se nós, jornalistas, nos
conscientizarmos disso juntamente com a população, o trabalho dos peritos, e
consequentemente o nosso, irá melhorar”, contou o assessor.
A repórter dos
jornais O Liberal e Amazônia, Cleidiane Silva, com 10 anos de experiência em
coberturas policiais, disse que o workshop é um diferencial para a melhoria do
trabalho. “O evento nos proporcionou uma ótima oportunidade de conversar
abertamente com os peritos. Expomos nossos desafios para chegarmos a um consenso
de como podemos nos ajudar. Com cooperação, o trabalho de todos melhora”,
afirmou. (Sérgio Moraes)