A mineração tem que continuar...
Quando comecei a escrever sobre o momento difícil
que passa o setor mineral brasileiro, especialmente a mineração de ferro,
pensava que escrever sobre este assunto e fazer uma correlação com expressões
populares do cotidiano e sobre expressões associadas à nossa culinária seria
sopa no mel, mamão com açúcar. Só que depois de certo tempo da crepe, você
percebe que comeu gato por lebre e acaba ficando com uma batata quente nas mãos
e que esta correlação tem algumas conclusões óbvias e duras que no frigir dos
ovos explica em parte o momento delicado de nossa economia. Como rapadura é
doce, mas não é mole, nem sempre você tem ideias e pra descascar esse abacaxi
só metendo a mão na massa e começar.
E não adianta chorar as pitangas ou, simplesmente,
mandar tudo às favas. Já que é pelo estômago que se conquista alguém, o negócio
é ir comendo o mingau pelas beiradas, cozinhando em banho-maria, porque é de
grão em grão que a galinha enche o papo.
Contudo, é preciso tomar cuidado para não azedar,
passar do ponto, encher linguiça demais. Além disso, deve-se ter consciência de
que é necessário comer o pão que o diabo amassou para vender o seu peixe.
Afinal, não se faz uma boa omelete sem antes quebrar os ovos.
Há quem pense que escrever é como tirar doce da boca
de criança e vai com muita sede ao pote. Mas como o apressado come cru, essa
gente acaba falando muita abobrinha, são escritores de meia tigela, trocam
alhos por bugalhos e confundem Carolina de Sá Leitão com caçarolinha de assar
leitão.
Há também aqueles que são arroz de festa, com a faca
e o queijo nas mãos. Eles se perdem em devaneios, piram na batatinha, viajam na
maionese etc. O importante é não cuspir no prato em que se come, pois quem lê
não é tudo farinha do mesmo saco. Diversificar é a melhor receita para
engrossar o caldo e oferecer um texto de se comer com os olhos, literalmente.
Por outro lado, se você tiver os olhos maiores que a
barriga o negócio desanda e vira um verdadeiro angu de caroço. Aí, não adianta
chorar sobre o leite derramado, porque ninguém vai colocar uma azeitona na sua
empadinha, não. O pepino é só seu, e o máximo que você vai ganhar é uma banana,
afinal, pimenta nos olhos dos outros é refresco...
A carne é fraca, eu sei. Às vezes dá vontade de
largar tudo e ir plantar batatas. Mas quem não arrisca não petisca, e depois
quando se junta à fome com a vontade de comer as coisas mudam da água para o
vinho.
Se embananar, de vez em quando é normal, falar
besteira também. O importante é não desistir, mesmo quando o caldo entornar e a
situação piorar. Puxe a brasa pra sua sardinha, que no frigir dos ovos a
conversa chega à cozinha e fica de se comer rezando, vendo o gado ruminando.
Daí, com água na boca, é só saborear, porque o que não mata engorda.
E juntando a fome com a vontade de comer, mudando da
água para o vinho.
A queda nos preços do minério de ferro, perto de
mínimas em uma década, lança nova luz sobre as principais mineradoras e suas
estratégias de produzir minério em níveis recordes e bom abrir o olho com a
entrada do S11D, pois o tiro pode sair pela culatra e o caldo entornar.
Ainda que os preços já estejam iguais aos de banana,
fracos há tempos, os temores de um excesso de oferta aumentaram nos últimos
dias, após a divulgação de evidências de que há uma desaceleração na produção
de aço da China, maior consumidora, de longe, de matéria prima para a produção
de aço.
A sopa se come é pelas beiradas. O apressado come
cru.
A queda nos preços do minério de ferro ocorre em um
momento ruim para grandes produtoras, entre elas a anglo-australiana BHP
Billiton e a brasileira Vale, que contabilizam os custos do rompimento no
início de novembro de uma barragem da Samarco, empresa que tem a BHP e a Vale
como proprietárias. As duas companhias são as maiores produtoras de minério de
ferro, ao lado da Rio Tinto.
Vender minério para China é tirar doce da boca de
criança.
O minério de ferro recuou para US$ 43,40 a tonelada
nesta terça-feira (24), em queda de 12% neste mês e bem abaixo da máxima de
2011 de US$ 191, segundo dados da fornecedora de dados The Steel Index. A queda
gera dúvidas sobre o sucesso da estratégia das companhias de manter a produção
em níveis recordes, diante dos preços fracos, estratégia furada insistir
esperando o caldo que já começou a entornar.
Pimenta no olho dos outros é refresco.
A BHP e a Rio Tinto foram criticadas por alguns
investidores e por concorrentes e também por parlamentares da Austrália,
segundo os quais elas estão puxando os preços para baixo, ao produzir mais do
que o mercado demanda. Em maio, o governo australiano avaliou a possibilidade
de realizar uma investigação parlamentar sobre o tema, mas a ideia acabou
arquivada.
Enchendo linguiça e cada um vendendo seu peixe.
As duas gigantes australianas da mineração têm
argumentado que o minério de ferro é negociado livremente em um mercado global
e que as expansões foram planejadas anos atrás e são do interesse dos
acionistas. A estratégia delas é produzir o máximo possível com custo baixo, em
vez de extrair menos e aguardar a alta nos preços. Graças à economia de escala,
elas ainda geram uma margem razoável a cada tonelada, mesmo com os preços
fracos.
Tudo era arroz de festa: tinham a faca e o queijo na
mão.
Ainda assim, os lucros de ambas – que dependem
fortemente do minério de ferro para suas receitas – caíram fortemente. O lucro
líquido da BHP recuou 86% na comparação anual até junho. A saúde financeira da
companhia é acompanhada com atenção pelo mercado, após o presidente Jac Nasser
qualificar 2015 como “um dos anos mais difíceis” nos 130 anos de história da
empresa.
A ganância foi grande e a carne é fraca.
Os acionistas temem que a mineradora não consiga
cumprir seu compromisso de longo prazo de manter ou elevar os dividendos a cada
ano, em meio ao recuo nos preços das commodities. “Com os preços à vista,
cortes na política de dividendos progressivos da BHP parecem inevitáveis”, declarou
o banco australiano Macquarie nesta quarta-feira (25). O preço da ação da BHP
atingiu nas últimas semanas a mínima em dez anos na Austrália, após o
rompimento das barragens em Mariana.
O olho foi maior que a barriga.
Alguns analistas estimaram que os custos com a
limpeza devem chegar a cerca de US$ 1 bilhão, ainda que a Vale e a BHP tenham
dito que a responsabilidade pelas operações da Minera é da Samarco, joint
venture de ambas, mas que é operada de maneira independente.
“Mesmo com cortes na produção, o mercado de minério
de ferro deve ainda ter excesso de oferta de 150 milhões de toneladas por volta
de 2018”, afirmou o analista de metais e mineração Andreas Bokkenheuser, do
UBS.
A produção da BHP aumentou 14%, para um recorde de
233 milhões de toneladas no ano até junho. A Rio Tinto também está produzindo
mais. Enquanto isso, a Vale constrói uma operação de US$ 16 bilhões, que ela
chama de “o maior projeto na nossa história e na mineração internacional”.
O Citigroup avalia que a oferta abundante pode levar
os preços para abaixo de US$ 40 a tonelada no início do próximo ano, com a
China produzindo menos aço. A Associação Mundial de Aço, um órgão da indústria,
informou que a produção chinesa recuou em 3,1% em outubro, na comparação anual.
Fonte: Dow Jones Newswires.
Entendeu agora o que significa ''no frigir dos
ovos''? (Wander Nepomuceno)
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