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Brizola Neto – "O triste destino dos países
obrigados a recomprar manufaturados os produtos que exportam". Foi desta
forma que o estudante de Direito Getúlio Vargas, ainda no ano de 1906,
recebera em Porto Alegre (RS) o então presidente da República Afonso Pena. Já
naquela época, início do século XX, Vargas denunciava a dependência do
Brasil em relação às economias industrializadas.
Quando chegou ao poder pela revolução de 1930, que
encerra a República Velha, Getúlio Vargas inicia um virtuoso período de
desenvolvimento econômico e de conquista de direitos e garantias para o povo
brasileiro.
Seu governo se organizou a partir de três
princípios fundamentais: soberania nacional, desenvolvimento econômico e
justiça social. Foi desta forma que, nos 15 anos de seu primeiro governo,
criou as bases econômicas para transformar um país exclusivamente agrário
numa economia industrializada. Além disso, modificou o tratamento da questão
social no país, antes vista como caso de policia, e criou o regime de direitos
e garantias do trabalho.
Os direitos foram consolidados na legislação
trabalhista e o desenvolvimento completado em seu segundo governo, com atos de
afirmação nacional, o maior deles a criação da Petrobras. Nunca fomos tão
desenvolvidos, nunca a classe trabalhadora gozou de tantos direitos.
Durante seus dois períodos na presidência da
Republica, Vargas enfrentou o ódio das elites. Sofreu também ataques da
oposição e da imprensa golpista, lideradas pela dupla Carlos Lacerda e Assis
Chateaubriand, testas de ferro de interesses estrangeiros em nosso país.
Vargas resistiu até a exaustão. Quando já não
era possível evitar o golpe arquitetado pelos representantes dos interesses
antinacionais, em um ato heroico, pôs fim à própria vida. Mas deixou ao povo
brasileiro o documento mais importante da nossa história: a Carta Testamento.
Foi este documento que esclareceu e mobilizou a nação para a defesa de seus
direitos recém-conquistados e para a defesa do projeto de desenvolvimento
nacional.
A compreensão desse período denominado pela
historiografia como a Era Vargas é fundamental para se entender os motivos que
dividiram a esquerda brasileira depois da ditadura militar. Mesmo após o
suicídio de Vargas, da morte ou assassinato de Jango no exílio e dos mais de
20 anos sem liberdades democráticas, o povo brasileiro não apagou da sua
memória o trabalhismo brasileiro. Sua memória continuou viva com Leonel
Brizola.
Antes do golpe de 1964, Brizola demonstrou sua
coragem na campanha da legalidade que garantiu a posse de Jango em 1961.
Depois, na primeira eleição para governadores em 1982, foi eleito pelo povo
do Rio de Janeiro para comandar o estado.
Entretanto, o abandono de um projeto de desenvolvimento
nacional e a submissão a interesses estrangeiros inviabilizaram o país,
ensejando uma nova classe de trabalhadores desconectados de Vargas e empregados
nas multinacionais, principalmente nas montadoras de automóveis concentradas
em São Paulo.
Que pesem as boas intenções dessa nova “classe
operária” e de seus líderes sindicais em suas lutas por melhores salários e
suas grandes mobilizações nas chamadas greves do ABC, que contribuíram
inclusive para acabar com a ditadura, esses líderes não compreenderam as
verdadeiras razões do golpe de 1964 e tudo o que justificava e ainda hoje
justifica o atraso brasileiro, que é nossa submissão ou dependência aos
interesses estrangeiros. Alguns de seus mais destacados líderes chegavam ao
cúmulo de defender a presença das multinacionais no país, alegando que estas
pagavam melhores salários que a indústria nacional.
Quis o processo social brasileiro, deturpado pelas
estruturas criadas pela ditadura, como a Rede Globo de Televisão, que depois
de seguidos governos de representantes das elites antinacionais (Sarney, Collor
e FHC) chegasse à presidência da República um operário oriundo das greves do
ABC, Luiz Inácio Lula da Silva. O líder do partido que, desde 1989, com a
derrota eleitoral de Brizola, passou a comandar a esquerda brasileira.
Hoje, ultrapassados 13 anos de governos do PT, tudo
o que está aí nos leva a crer que estes ainda ignoram os ensinamentos de
Vargas, provavelmente não compreenderam a Carta Testamento e, mesmo depois da
morte de Leonel Brizola, eles seguem ignorando as lições do trabalhismo
brasileiro.
Não entenderam que um país não consegue
distribuir uma riqueza que não produz, aprofundaram a desnacionalização da
economia brasileira e são obrigados a retroagir nos avanços produzidos nas
áreas sociais, como a redução do desemprego, o aumento dos salários e o
restabelecimento da rede de proteção social.
Tudo devido à crise econômica provocada pela
incapacidade brasileira de produzir riquezas. Mais de cem anos após o discurso
de Vargas a economia brasileira continua sendo mera exportadora de produtos
comuns (commodities) e importadora de produtos industrializados.
Os recentes avanços conquistados, baseados na
expansão do consumo e no aumento da renda dos trabalhadores, mostram-se
insustentável, em um país que não resolveu sua dependência em relação aos
países ricos. As perdas internacionais, como diria Brizola, quebraram nosso país.
Agora vivemos a vergonha de num governo eleito pela
esquerda termos que pedir socorro aos liberais entreguistas para acertar nossas
contas com os interesses estrangeiros e "ajustar" nossa economia.
A nomeação para o cargo de ministro da Fazenda do
"chicagoboy" Joaquim Levy nos faz relembrar os terríveis anos dos
governos tucanos de FHC, o príncipe da moeda. E o senhor Levy não perde tempo.
Logo que nomeado já disse a que veio, produziu com a chancela de Dilma e o
apoio de Lula duas Medidas Provisórias (MPs 664 e 665) que retiram direitos
dos trabalhadores, como o seguro desemprego e o abono salarial. Reduziu ainda
50% dos benefícios de pensões por morte. Em seu plano entreguista o garoto de
Chicago elevou consideravelmente a taxa de juros (hoje em 13.25% e com
tendência para novas altas), inviabilizando o crescimento econômico que num
curto prazo levarão o país à recessão, ao arrocho salarial e ao desemprego.
O senhor Levy chegou a ter a ousadia de em recente
viagem ao estrangeiro entregar parte da nossa maior riqueza natural, as enormes
reservas de petróleo do pré-sal brasileiro. Quer enfraquecer a Petrobras que,
provavelmente, ele gostaria de ver privatizada ou destruída.
Diante de tudo isso, é hora de o ex-presidente Lula
retomar seus compromissos com a classe trabalhadora e reviver seus melhores
momentos frente ao governo brasileiro quando com as mãos cheias de petróleo
reconheceu Vargas e afirmou a soberania nacional, defendendo nossa riqueza da
voracidade de lucros de multinacionais.
Já a presidenta Dilma deveria relembrar de suas
raízes trabalhistas, de seus 20 anos ao lado de Brizola e inspirada em sua
coragem combater os interesses externos e reafirmar nossa soberania. Para isso,
precisa devolver o senhor Levy aos entreguistas.
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Presidente do diretório municipal do PDT e ex-ministro do Trabalho e Emprego
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