sábado, 22 de novembro de 2008

Nem todos os homens são durões

CRÔNICAS DO PC

No bairro onde resido, sou vizinho de um casal de aposentados, senhor Félix e dona Rosário.

Os dois são muito conhecidos e queridos em toda a cidade, pela simplicidade da vida que levam e tratar bem quem quer que seja. Por tudo isso, os dois ganharam o respeito e admiração de ricos e pobres. Uma das qualidades que os enobrecem é sempre a solidariedade nos momentos em que se precisa de ajuda.

O casal não tem filhos, dado a situação estéril de Rosário. Ela nunca quis tentar gravidez artificial, pelo simples fato de acreditar em milagres. Tinham muita fé. Se Deus assim determinasse, Rosário pegaria barriga um dia.

Passados alguns anos, agora estavam desvanecidos. A idade não permitia mais. Rosário acabara de completar 45 anos, começando a sentir os efeitos, que achava ser da menopausa.

No entanto, nada os abalava e viviam felizes, solidários, compartilhando a vida de um para o outro.

Quem vê Rosário assim, fora de casa, tão educada e tratável, acredita ser pessoa de excelente comportamento, uma companheira excelente ao lado do esposo querido. Seria injusto afirmar-se o contrário.

É mais ou menos assim. Só um pormenor. Dentro de casa, Rosário trata Félix de maneira muito rígida, porque conheceu desde cedo ele ser uma pessoa obediente a seus caprichos. E sabem como é! Mulher só quer encontrar uma brechinha para tomar conta da situação e mandar no homem. É próprio delas mesmas. Da natureza de cada uma para se vingar de um passado de subserviência, quando não tinham vez e viviam submissas, sujeitas aos caprichos do companheiro, obedecendo cegamente a suas ordens.

Como não sou machista, acho que a mulher merece o espaço que adquiriu com todas as conquistas de se igualar aos homens, tendo os mesmos direitos. Só não concordo de o cara ser dominado, ter um amor maior, paixão, seja lá o que for, transformando-se em homem humildemente submisso, e tornar-se um joguete nas mãos da companheira.

Mas, é isso mesmo! Quem manda no mundo nascer pessoas com o gênio passivo de um senhor Félix, não estando nem aí para os caprichos da esposa!?

Depois de muitos anos de vida a dois, ele sempre dando duro no trabalho, até se aposentar, poderia muito bem assumir o papel de doméstico, fazendo todos os serviços da casa, cuja intenção era agradar a mulher. Não ligava para os falatórios dos vizinhos, principalmente o lero-lero de cabras bestas, linguarudos, e que vivem de comentar a vida alheia, na inconveniência de nada poderem ver e ficar calados. Ao contrário, andam de olhos arregalados, prestando atenção ao que os outros fazem, só para botar a boca no mundo e contar fuxico.

O senhor Félix não tem vergonha de dizer. É de praxe todos os dias pela manhã receber das mãos de dona Rosário a lista dos procedimentos a realizar durante o dia. No decorrer da manhã faz o café, lava a roupa, pratos, talheres, limpa a casa, faz a comida. Executa todas as obrigações, alegre, satisfeito, sempre cantarolando as músicas que estão nas paradas de sucessos das rádios FM da cidade.

Ao meio dia, chama Rosário no quarto do casal, que desde às 8 horas está preocupada em anotar os assuntos do dia divulgados nos programas femininos da TV Mulher e serve o almoço na mesa da sala de jantar, regado a vinho brasileiro, produzido no Vale do Rio São Francisco.

Numa ocasião dessas, após as refeições e da sesta do começo da tarde, Rosário sentiu-se mal, começando uma crise de náuseas e vômitos. Félix tentou vários recursos caseiros, fazendo chás, todavia nada debelou o mal repentino da mulher. Não perdeu mais tempo, levou-a imediatamente a um hospital. Examinado por um clínico, foi internada para observação e exames de rotina. Félix, preocupado, permaneceu ao seu lado como acompanhante. Somente no outro dia pela manhã saíram os resultados dos exames. Tudo bem. Nada de grave para preocupar, Apenas um exame de urina tinha de ser refeito. Os médicos estavam descrentes do resultado. Poderia haver erro.

Após a repetição de um “planotest” e “ultra-som”, fora confirmado: Rosário estava grávida, aos 45 anos. Um fato raro, principalmente em se tratando de uma mulher considerada estéril.

Senhor Félix e dona Rosário receberam a notícia, ficando os dois eufóricos, sem querer acreditar na verdade. Só poderia ter acontecido o tão esperado milagre.

Durante a gestação, dona Rosário foi bem cuidada, por tratar-se de uma gravidez de risco. Nove meses depois, a criança nasceu de parto normal. Era um lido garoto. Ainda no leito da maternidade, ela chamou o marido para dizer-lhe: “Coloque uma doméstica para tomar conta da casa. A partir de agora, você vai cuidar somente de mim e do bebê”.

E o homem, feliz, transformou-se numa babá, fazendo tudo direitinho. Limpando a criança, trocando fraldas, dando banhos e cuidando muito bem da querida esposa, até os dias de hoje.

Pedro Cláudio de Moura Reis (PC) / E-mail: pcmourareis@yahoo.com.br

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